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Biden chega a Israel após ataque em hospital. Cimeira em Amã cancelada

Presidente dos EUA irá defender a criação de corredores humanitários e estão a ser recolhidas informações para perceber o autor do ataque ao hospital.

Uma explosão que causou mais de 500 mortos num hospital no centro de Gaza travou os esforços diplomáticos feitos pelos Estados Unidos para mediar o conflito no Médio Oriente e evitar um total desastre humanitário, devido ao adiamento da cimeira de Amã. A pressão sobre Biden durante a sua vista a Israel também aumentou.

REUTERS/Evelyn Hockstein

Na noite de terça-feira, 17, um ataque a um hospital em Gaza, que segundo as autoridades palestinianas matou pelo menos 500 pessoas, levou a Jordânia a cancelar a cimeira que iria juntar o rei Abdullah, o presidente egípcio Abdel Fatah ah-Sisi, o presidente da Autoridade Palestiniana Mahmoud Abbas e Joe Biden.

O cancelamento ocorreu numa altura em que o presidente Joe Biden já estava a sair de Washington pelo que a sua visita à região se mantém, mas apenas com conversações com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com quem se deve encontrar ainda esta quarta-feira de manhã.

O ataque sentido na noite passada deve também marcar a reunião entre Biden e Netanyahu numa altura em que o Hamas atribuiu o ataque a Israel, e Israel garante que se trata de um ataque da Jihad Islâmica Palestiniana sobre a região de Gaza, organização que também já negou o seu envolvimento.

Ainda durante a noite de terça-feira, Biden referiu que se encontrava "indignado" com a explosão e que a equipa de segurança nacional dos Estados Unidos estava a recolher informações para verificar o que realmente teria acontecido.

Manifestações contra Israel no Médio Oriente

A explosão teve um grande impacto em toda a região, aumentando os protestos contra Israel no Médio Oriente, especialmente na Cisjordânia. Em Ramallah, sede da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia, os manifestantes atiraram pedras contra as forças de segurança palestinianas.

Também em Amã, capital da Jordânia, houve uma grande manifestação contra Israel perto da embaixada israelita. A polícia acabou por utilizar gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que gritavam hinos de apoio ao Hamas e exigiam que a embaixada fosse fechada e o acordo de paz, que se torna cada vez mais impopular entre a população, anulado.

O Hezbollah do Líbano, país que faz fronteira a norte com Israel, apelou a um dia de fúria esta quarta-feira, coincidindo com a chegada de Biden à região. Centenas de manifestantes entraram em confronto com as forças de segurança, atirando-lhes pedras e incendiando um edifício perto da embaixada dos Estados Unidos. Segundo as autoridades os manifestantes gritavam "morte à América" e "morte a Israel".

No Irão, os manifestantes juntaram-se à frente das embaixadas do Reino Unido e de França para atirar ovos à parede e gritarem: "Morte à França e à Inglaterra". Outras centenas reuniram-se na Praça da Palestina, no centro de Teerão.

No momento em que cancelou a cimeira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, disse à Al Jazeera que não era o momento para reunir esforços diplomáticos uma vez que "não faz sentido falar agora sobre alguma coisa que não seja parar a guerra".

A reunião só deve ser realizada num momento em que todas as partes queiram acabar com a "guerra e os massacres contra os palestinianos" e sejam capazes de culpar a campanha militar de Israel por "empurrar a região para a beira do abismo", referiu ainda o ministro.

O rei Abdullah também alertou para que a resposta de Israel ao ataque do Hamas no dia 7 de outubro já ultrapassou o direito de autodefesa e que este se encontra neste momento a ser utilizado como uma "arma de punição coletiva contra civis palestinianos".

O presidente da Autoridade Palestiniana, que governa a região da Cisjordânia, já tinha referido que não compareceria na reunião depois de declarar três dias de luto nacional pelos mortos no mais recente ataque.

Ainda assim, a Casa Branca emitiu um comunicado a referir que a "decisão de não ir à Jordânia foi mútua" e referiu que Joe Biden iria entrar em contacto com o presidente do Egito e da Autoridade Palestiniana na quarta-feira a noite, durante o seu voo de regresso para Washington.

O que vai Biden fazer a Israel?

Durante a sua visita a Israel é esperado que se encontre com Netanyahu mas também com o gabinete de guerra israelita, o presidente Isaac Herzog, funcionários dos serviços de emergência e familiares de vítimas e reféns feitos pelo ataque do Hamas.

A comunidade internacional espera que a presença de Biden em Israel ajude a controlar as operações militares contra Gaza, que tem estado sob constantes bombardeamentos e está a ficar sem água, alimentos e medicamentos. A ONU avança que já morreram mais de três mil palestinianos durante a resposta israelita, cerca do dobro das mortes causadas pelo Hamas no 7 de outubro, no entanto a ONU alerta que este número ainda não inclui os causado pelo ataque ao hospital.

O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, garantiu que Biden "fará algumas perguntas difíceis" com o objetivo de "saber a ideia dos israelitas sobre a situação no terreno e sobre os seus objetivos, planos e intensões nos próximos dias e semanas", mas sempre mantendo a posição de "um verdadeiro amigo". Alertou ainda que os supostos acordos humanitários que os dois países teriam alcançado não foram concretizados por Netanyahu.

Uma das condições apresentadas por Biden para a sua visita a Israel terá sido a criação de corredores humanitários em Gaza que assegurem o fornecimento de ajuda à região e áreas seguras para civis palestinianos.

Apesar de durante o dia de ontem o Egito ter anunciado que iria abrir momentaneamente a fronteira em Rafah, parece que não se verificou e a ajuda humanitária permanece do lado de fora da Faixa de Gaza.

Vários camiões cheios de alimentos, água e material médico de emergência aguardam autorização para poder entrar em Gaza enquanto cidadãos estrangeiros aguardam no enclave pela autorização de saída. Apesar de ser o Egito que controla a fronteira, existe um acordo com Israel para que este país decida quem pode passar por ela.

Os ataques também já chegaram a esta zona fronteiriça. Pelo menos 49 palestinianos foram mortos pelos ataques a Rafah e Khan Younis, referido o Ministério da administração Interna de Gaza. O porta-voz militar israelita Richard Hecht defendeu estes ataques: "Quando temos um alvo, sabemos que esse alvo é o Hamas e está em movimento nós atacamos. É simples".

John Kirby partilhou que os Estados Unidos estão "otimistas" quanto à obtenção de ajuda humanitária para Gaza: "Queremos que seja sustentável, alimentos, água, obviamente, energia, medicamentos, todas as coisas de que o povo de Gaza continuará a precisar à medida que o conflito se mantém".

Também a ONU já alertou para a situação humanitária em Gaza, onde civis já foram mortos no sul da região, apesar de terem sido as autoridades israelitas a indicar que deveriam deslocar-se para sul pela sua segurança. Pediu que sejam evitados "ataques indiscriminados ou desproporcionais".

Israel afirma que já restaurou parcialmente o abastecimento de água no sul de Gaza, mas a ONU alerta que este restabelecimento apenas ocorreu em 4% do fluxo normal no território.

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