Capela Sistina anti-comunicações
O local sagrado da votação, a Capela Sistina, está ainda mais blindado dada a solenidade do ato. Pedro Gil (consultor de comunicação da Igreja, sub-diretor do gabinete de imprensa da Opus Dei) explica que o espaço conta com bloqueadores de sinal (jammers) para assegurar total isolamento dos presentes.
Suítes da Casa de Santa Marta
Instalados na Casa de Santa Marta, os cardeais descansam em 130 suites – espaços despojados, mas confortáveis. Numa área mais reservada fica o apartamento, destinado ao cardeal eleito Papa. Pode servir de alojamento temporário ao Sumo Pontífice (até mudar-se para o palácio do Vaticano) ou permanente (como aconteceu com o Papa Francisco, que optou por viver ali). "[O apartamento] apela a uma certa humildade e austeridade, em linha com o espírito vivido naquele momento", explica Paulo Mendes Pinto, especialista em História das Religiões da Universidade Lusófona.
Refeições simples
À mesa, nada de excessos. As refeições querem-se simples, de modo a promoverem "a concentração e sobriedade", diz o consultor Pedro Gil.
Critérios de escolha
Não é que haja um caderno de encargos assumido, mas ele existe de forma velada. Ou seja, há características dos intervenientes que são valorizadas. Paulo Mendes Pinto, professor, enumera-as: "Depois do pontificado longuíssimo de João Paulo II, os cardeais têm relutância em eleger um cardeal que seja bastante novo. O percurso de gabinete pode ser preterido ao de liderança pastoral – por exemplo, uma carreira mais próxima dos fiéis, a dirigir paróquias e bispados."
A questão é saber se "a Igreja quer seguir a via das reformas iniciadas pelo Papa Francisco ou não." Havendo um grupo de cardeais mais conservadores e outro de adeptos fervorosos do último líder máximo da Igreja, o especialista considera que "a votação irá ser decidida através dos que estão no meio termo."
Candidatos portugueses
Entre os cardeais eleitores há quatro portugueses, todos estreantes num conclave. Nunca houve tantos numa eleição. São eles: Manuel Clemente (76 anos, ex-patriarca de Lisboa), António Marto (77 anos, bispo emérito de Fátima), José Tolentino Mendonça (59 anos, prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura) e Américo Aguiar (51 anos, bispo de Setúbal e presidiu à fundação JMJ Lisboa 2023).
Contudo, Paulo Fontes (professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica) considera pouco provável que o vencedor seja português. "No espaço global do mundo e da Igreja, Portugal faz pontes, mas numa posição semiperiférica." Pelo seu palpite, poderá ser alguém de outra uma periferia geográfica, de que não estamos à espera, ou alguém mais idoso "capaz de assegurar uma linha de continuidade, numa perspetiva de transição." E conclui: "Quem for eleito, sê-lo-á com um programa discutido e esboçado pelo conjunto dos cardeais. A votação será o resultado de um jogo de equilíbrios, sempre estabelecido e amadurecido num clima de espiritualidade cristã."