O ChatGPT foi lançado no final de 2022 e, desde então, grande parte do conteúdo que encontramos online passou a ser produzido, parcial ou totalmente, por inteligência artificial. Falta discutir limites éticos.
E se a internet, de repente, voltasse a 2022?
É possível. E talvez seja uma boa ideia.
O ChatGPT foi lançado no final desse ano e, desde então, grande parte do conteúdo que encontramos online passou a ser produzido, parcial ou totalmente, por inteligência artificial. A proposta de uma extensão para navegadores como o Chrome ou o Firefox, criada pela artista e investigadora Tega Brain, é simples: congelar os resultados das pesquisas até 30 de novembro de 2022. Antes da explosão de textos sintéticos, imagens artificiais e conteúdos manipulados que hoje dominam o espaço digital.
A ideia não é apenas nostálgica mas transformadora, para uma internet menos automatizada, menos artificial, mais humana. A palavra 'humana' torna-se particularmente relevante quando sabemos que mensagens privadas, fotografias e conteúdos partilhados em plataformas digitais estão a ser usados para treinar modelos de inteligência artificial. Podemos recusar? Podemos. Mas dá trabalho. Exige tempo, literacia digital e paciência: três recursos desigualmente distribuídos. E, em muitos casos, só é possível fazê-lo num computador, fora das aplicações móveis mais usadas. O consentimento existe, mas é assimétrico. Que mal tem os nossos dados servirem para treinar inteligência artificial? À superfície, nenhum. O problema está na profundidade.
Estes dados não servem apenas para melhorar sistemas. Servem para criar perfis cada vez mais detalhados, prever comportamentos, antecipar desejos e dirigir publicidade de forma quase cirúrgica. Não é coincidência quando um anúncio parece ler pensamentos. É inferência algorítmica baseada em padrões de navegação, interações, palavras escritas e imagens partilhadas. E aqui, entramos num território mais sério: o do condicionamento social.
Pela primeira vez na história, assistimos, em directo, a uma experiência global de condicionamento, mediada por algoritmos. Os dados que produzimos alimentam sistemas que decidem o que vemos, quando vemos e com que frequência vemos. O resultado pode ser a redução da diversidade de perspetivas, o reforço de câmaras de eco, a polarização de opiniões e uma perceção cada vez mais estreita da realidade. Nada disto significa que a tecnologia seja, em si mesma, má. Pelo contrário: trouxe ganhos evidentes para a saúde, a ciência, a comunicação e o acesso à informação. A questão é outra: a que preço?
A nossa privacidade, a nossa autonomia e, em última instância, a nossa liberdade de pensamento. Falta discutir limites éticos, não como entrave à inovação, mas como condição para que ela sirva a humanidade, e não o contrário. Precisamos de uma tecnologia que nos sirva. É urgente saber usar para não ser usado.
Talvez por isso a ideia de voltar a 2022 faça sentido. Não como recuo tecnológico, mas como gesto simbólico para lembrar que nem tudo o que é possível é desejável. E que uma internet mais humana começa, inevitavelmente, por humanos que pensam.
O ChatGPT foi lançado no final de 2022 e, desde então, grande parte do conteúdo que encontramos online passou a ser produzido, parcial ou totalmente, por inteligência artificial. Falta discutir limites éticos.
A literacia mediática e digital da maior parte da população não lhe permite saber que os seus dados são usados e para quê, menos ainda que as fotos que inocentemente publica são transformadas em lições para melhorar a inteligência artificial.
Vivemos num aqui-e-agora permanente, num ambiente digital que se infiltrou em todas as dimensões da vida e do trabalho. E, fascinados, desenvolvemos uma espécie de dissonância coletiva que atribui ao digital a solução para quase tudo.
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