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O jornalista Fabio Marchese Ragona, autor do livro escrito em conjunto com o Papa Francisco, defende que o legado será para continuar. E que Américo Aguiar está entre os preferidos.
O conclave começou esta quarta-feira e espera-se que a eleição do próximo Papa seja rápida. Já há vários favoritos, mas o jornalista Fabio Marchese Ragona defende que o resultado é sempre imprevisível. O italiano que escreveu em conjunto com o Papa Francisco o livro Vida - A minha história através da História defende que o legado de Francisco é para continuar e que a Igreja vai continuar a ser uma organização de braços abertos.
Fabio Marchese Ragona, vaticanista de 42 anos, diz que o secretismo à volta do conclave faz parte da tradição e brinca que alguns cardeais já lhe disseram que podia ser transmitido em direto na televisão. O certo é que a expectativa é grande para saber quem será o próximo líder da Igreja Católica.
Acha que vai ser um conclave fácil?
Creio que primeiro os cardeais terão de se encontrar, de falar uns com os outros, de se conhecerem. Algo que já aconteceu nos dias anteriores ao conclave. Por isso, esse momento é necessário para se conhecerem. E depois penso que também dependerá dos discursos que fizerem, talvez haja alguém que faça um bom discurso que atraia as atenções.
Foi o que aconteceu na eleição do Papa Francisco?
Sim, ele fez um discurso na congregação e depois disso os cardeais começaram a falar dele. A mensagem de Francisco era de uma igreja missionária, tipo hospital de campanha. E os cardeais concordaram que era disso que a Igreja precisava, ou seja, tinha de ir ao encontro das pessoas. Não uma igreja autorreferencial, mas que sai para o mundo. E agora estamos num segundo nível. Porque agora a Igreja está a sair com o sínodo sobre a sinodalidade e está agora a ouvir o povo de Deus, e está a começar de baixo, a partir das bases, a partir do que as pessoas pedem para mudar.
O que é que podemos esperar destes discursos? Há um favorito?
São tantos os favoritos que circulam nos jornais. Mas penso que não devemos estar a contar com os nomes que circulam, porque fala-se muito dos conservadores ou dos reformadores ou de figuras de mediação. Penso que estes discursos podem começar a ser aprofundados de alguma forma quando se aproxima o conclave. E ao conhecerem-se uns aos outros, talvez surjam algumas figuras de que gostem mais do que outras. Penso que estão a circular os nomes dos cardeais mais populares ou mais famosos. Portanto, o Secretário de Estado (Pietro Parolin). Mas acredito que talvez venham a ser revelados alguns nomes de figuras ainda nas reuniões antes do conclave.
Acha que estão à procura de alguém mais próximo do Papa Francisco?
Sim. Há muitos que partilham a sua visão de Francisco. Por exemplo, o Cardeal Zucchio é uma pessoa muito próxima do pensamento do Papa Francisco. Há alguns cardeais próximos, por exemplo, o cardeal Aveline, de Marselha, está próximo do pensamento do Papa Francisco. Também o Cardeal Omella de Barcelona. Depois há muitas outras opções boas, mas que talvez sejam considerados demasiado jovens.
Por exemplo, posso dizer que está a circular o nome do cardeal de Jerusalém, Pizzaballa, de 60 anos, talvez digam que é demasiado jovem. Ou, por exemplo, o Arcebispo de Toronto, Frank Leo. Mas também é muito jovem, acho que tem 53 anos. Também se fala do Cardeal de Setúbal, Américo Aguiar, mas é muito, muito jovem. Há muitos jovens no conclave, portanto podemos perguntar: quem sabe? Talvez os jovens se juntem e elejam um Papa jovem. Mas isso só o Espírito Santo o sabe o que vai acontecer.
É imprevisível?
Realmente imprevisível, porque eles ainda não se conhecem. Só depois das reuniões, é pode haver alguma orientação entre as pessoas. Os cardeais que vivem em Roma já se conhecem, é mais fácil. Talvez já devem ter tido a oportunidade de falar uns com os outros. Mas o Papa Francisco também disse que, durante a sua hospitalização, já estavam a decorrer reuniões para falar sobre o conclave. Na autobiografia que fiz, ele disse que durante o seu internamento no hospital havia cardeais a jantar uns com os outros, para pensar no próximo Papa. Portanto, é óbvio que os cardeais que estão em Roma, que se conhecem, que se encontram, têm mais oportunidades de concordarem.
A história dos conclaves é completa sim, porque é uma história complexa. Momento secreto?
Bem, porque existe uma tradição. O próprio nome,cum clave, porque inicialmente estavam fechados até à entrada em funções do novo Papa. A porta não se abria até haver um novo Papa. Digamos que existe uma tradição antiga que é respeitada. Há todo um ritual a seguir, todo um horário, o extra omnes, a procissão no interior da Capela Sistina. Por exemplo, o chão da Capela Sistina, que é revestido a madeira. A chaminé que está montada no teto da Capela Sistina para sair o fumo, porque é uma chaminé montada especificamente para o conclave. Digamos que há toda uma preparação. Depois há o fumo. Temos as pastilhas bem definidas de fumo preto e de fumo branco que o secretário do conclave introduzirá no fogão quando queimar os boletins de voto para fazer a notícia se o Papa foi eleito ou não.
"Talvez os jovens cardeais se juntem e elejam um Papa jovem"
Isto faz parte da tradição da Igreja. Não é uma questão que eu possa dizer. Alguns cardeais lançaram mesmo uma provocação há alguns anos e são os cardeais mais antigos que defendem que o conclave devia ser transmitido em direto na televisão para todos verem. Neste caso, tratou-se mais de uma provocação para dizer de tal forma que ninguém pense que há segredos. Isto também faz parte da história e das tradições da Igreja que devem ser respeitadas.
No passado os conclaves eram violentos, havia acusação de corrupção, muita coisa mudou?
A Igreja era muito diferente da atual. Podemos dizer que aconteceu de tudo na História da Igreja. Já vimos tantas histórias e depois também fizeram filmes. Mas estes tempos foram mudando pouco a pouco. Claro que todos os cardeais antes de entrarem no conclave são submetidos a uma verificação, a capela Sistina é inspecionada, para ver se há algum equipamento eletrónico para evitar todas as fugas de informação. Pede-se aos cardeais que deixem os seus telemóveis e que não transportem aparelhos eletrónicos. Também é da responsabilidade dos guardas suíços garantir que os cardeais são respeitados. Depois, é claro que ninguém procura os cardeais, mas cabe à consciência de cada um respeitar o acordo de seguir as regras.
A Igreja estava preparada para a partida do Papa?
Penso que o Papa fez surpreendeu todos, como ele gostava de fazer. Porque ninguém estava à espera deste momento tão próximo. Ele parecia estar a recuperar. Mas também é verdade que durante esta última admissão no hospital já se estava a preparar para a possibilidade de que algo pudesse acontecer, porque o Papa estava em perigo de vida. Logo, é normal que numa grande instituição como a Igreja se pense também no que pode acontecer para nos prepararmos para a eventualidade da morte do Papa. Por isso, é verdade que foi uma surpresa, mas claro que alguns já estavam preparados.
Como é que o mundo vai recordar Papa Francisco?
Na minha opinião, o mundo recordará este Papa como o Papa que tentou conduzir a Igreja para o futuro, para se manter a par dos tempos. Ter uma igreja que já não está parada no passado, mas que é capaz de dialogar com o presente e que sabe lidar com todas as necessidades do presente. Recordamos a mensagem que o Papa Francisco disse em Lisboa: "Todos, Todos, Todos."
Na minha opinião, foi um ponto de viragem. Há um antes e depois no pontificado, porque a partir desse momento começou também a tomar iniciativas para abrir ainda mais as portas da Igreja. Por isso, na minha opinião, ele ficará na História como o Papa da Igreja das portas abertas, próxima aos últimos, próximo das periferias, com a ideia de uma Igreja missionária.
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"O afundamento deles não começou no Canal; começou quando deixaram as suas casas. Talvez até tenha começado no dia em que se lhes meteu na cabeça a ideia de que tudo seria melhor noutro lugar, quando começaram a querer supermercados e abonos de família".