Desde a sua chegada à Casa Branca, o republicano já assinou centenas de ordens executivas, deixando claro o desejo de mudança dentro dos Estados Unidos. A nível internacional, os aliados são agora outros.
Passado um mês do regresso de Donald Trump à Casa Branca para o seu segundo mandato,a tomada de posse ocorreu a 20 de janeiro, foram já muitas as ordens executivas assinadas e as decisões tomadas, desde o desejo de transformar Gaza uma "Riviera do Médio Oriente" a trazer de volta as palhinhas de plástico.
REUTERS/Elizabeth Frantz/File Photo
Nesta segunda vida de Trump na presidência, surgiu uma nova figura na organização do governo. Elon Musk lidera o Departamento da Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) que tem como objetivo poupar milhões de dólares ao Estado, o que vai levar à demissão de aproximadamente 75 mil funcionários federais e até ao encerramento de algumas das agências federais criadas pelo Congresso. Milhares de trabalhadores já foram despedidos e a alguns foi dada apenas uma hora para abandonar o escritório. Estão ainda em risco cientistas, médicos, especialistas em infraestruturas, agentes do FBI, procuradores ou trabalhadores humanitários.
As ordens executivas já originaram uma resposta com o governo a enfrentar cerca de 70 ações judiciais em todo o país, uma dúzia delas por juízes federais que bloquearam a sua aplicação, pelo menos temporariamente. Em reação Trump já afirmou: "Talvez tenhamos de olhar para os juízes".
Uma nova ordem mundial
Donald Trump deixou claro quem são os seus aliados a nível internacional desde muito cedo, começou por receber Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, em Washington e depois teve uma conversa telefónica com o presidente russo, Vladimir Putin.
Trump quer trabalhar com Putin para pôr fim à guerra na Ucrânia e para isso concordou em iniciar, esta semana, "negociações imediatamente" e foi só depois de falar com Putin que ligou a Volodymyr Zelensky para discutir como é que vão decorrer as negociações.
No entanto, a decisão de iniciar o processo de negociações com Trump e de deixar a Europa fora das reuniões levou Zelensky a afirmar que não vai concordar com um acordo de paz que seja elaborado por Trump sem que sejam dadas garantias de segurança à Ucrânia, nomeadamente através da adesão à NATO ou de armas nucleares. Independentemente do descontentamento da União Europeia, e até Ucrânia, as negociações entre autoridades russas e norte-americanas arrancaram na Arábia Saudita.
No que toca ao Médio Oriente, o republicano prometeu, ao lado de Netanyahu, tornar Gaza a "Riviera do Médio Oriente". Para isso será preciso que os palestinianos abandonem o território e que este seja reconstruído.
Estas declarações levaram ao aumento da tensão entre o Hamas e Israel, que vivem uma fase de cessar-fogo, e o grupo palestiniano chegou a adiar a libertação de reféns israelitas, o que levou Trump a fazer mais um ultimato: se até ao meio-dia de sábado não forem libertados os mais de 70 reféns que ainda se encontram em Gaza "o inferno vai cair" sobre a região.
Chegados a sábado (15 de fevereiro), o Hamas libertou três reféns, como estava previsto no acordo com Israel, e os ânimos parecem ter voltado ao normal. No entanto, este foi mais um episódio que demonstra como a estabilidade da região está cada vez mais imprevisível.
O pedido para que os palestinianos saiam de Gaza foram rejeitados por todos os países árabes, mas também por muitos líderes europeus. Vários grupos pela defesa dos direitos humanos e especialistas em direito internacional também já referiram que o plano pode vir a ser considerado um crime de guerra. Ainda assim, teve uma grande aceitação por parte do governo israelita, que considerou Donald Trump o "melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca".
Durante a campanha, Donald Trump tentou distanciar-se do Projeto 2025 (manifesto que visa dar consistência ideológica ao trumpismo da Heritage Foundation), dizendo que não fazia ideia do que se tratava. Mas a realidade é que muitas das medidas tomadas pelo republicano vão de encontro àquilo previsto no projeto - o The New York Times refere que foram mais de 60.
Entre elas estão os esforços para reprimir a imigração e deportar imigrantes ilegais que já se encontravam no país, nomeadamente através de deportações em massa para o Panamá, Brasil e Colômbia e a militarização da fronteira com o México.
A Casa Branca reverteu também muitas das políticas de Joe Biden no que toca à proteção do ambiente, como aumentar a perfuração de petróleo, gás e a mineração de recursos naturais. Estas são medidas que convergem com o Projeto 2025, que pretendia colocar os combustíveis fósseis no centro da política energética dos Estados Unidos.
Foram também assinadas ordens para tentar reformular a política social, eliminando programas de diversidade, igualdade e inclusão, colocando em causa especialmente os direitos dos transgéneros, frequentemente indo de encontro às propostas do Projeto 2025, como por exemplo na decisão de decretar a existência de apenas dois géneros.
A ameça das tarifas
Foram impostas novas tarifas contra vários dos parceiros comerciais dos Estados Unidos ou feitas ameaças para outros países que se não cumprirem devem começar a pagar mais para exportar bens. A China foi a primeira vítima, enquanto o Canadá e o México conseguiram negociar a suspensão da implementação por um mês. Trump já afirmou que está a preparar novas tarifas que serão anunciadas nas próximas semanas e que vão visar a União Europeia.
Além das tarifas direcionadas a países específicos, o norte-americano já afirmou que vai implementar tarifas separadas sobre automóveis, chips para computadores e produtos farmacêuticos, além das tarifas de 25%, a partir desta segunda-feira, para o aço e alumínio.
Já vários economistas alertaram que a aplicação das tarifas representa também o aumento dos custos para os consumidores dos Estados Unidos, o que levará também ao aumento da inflação. A realidade é que a inflação subiu 0,5% no último mês de acordo com o Departamento do Trabalho, apesar de não ser possível verificar se tal se deveu à implementação de tarifas. Um dos trunfos eleitorais de Trump era precisamente o impacto positivo que prometeu na economia, nomeadamente a redução da inflação, com promessas de que isso iria acontecer quase imediatamente após assumir o cargo.
O Departamento do Comércio também mostrou sinais de preocupação com a aplicação de tarifas, registando que as vendas de retalho caíram 0,9% enquanto a produção industrial caiu 0,1%, em grande parte devido a uma queda de 5,2% na produção de automóveis e peças.
Porém, ainda é cedo para conseguir avaliar os impactos das medidas de Trump na economia, existindo até a hipótese de os resultados de janeiros serem uma exceção à regra.
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