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Condenado Vladimir Kara-Murza, o homem que desafiou o poder de Putin

Ativista russo criticou a invasão da Ucrânia e voltou de forma voluntária ao país para enfrentar a justiça. Esta segunda-feira foi condenado a 25 anos de prisão.

Vladimir Kara-Murza foi o homem que, em março de 2022, durante uma conferência com alguns legisladores norte-americanos, apontou o dedo ao "regime ditatorial" do Kremlin por estar a cometer "crimes de guerra e assassinatos" na Ucrânia. As acusações acabaram por ir para às mãos da Justiça que, esta segunda-feira, estabeleceu a pena mais longa da era pós-soviética contra um opositor do regime russo: 25 anos de prisão.

REUTERS/Joshua Roberts

A sentença, decidida por um tribunal de Moscovo, referia os crimes de traição, partilha de "informações falsas" contra as Forças Armadas da Rússia e cooperação com uma organização estrangeira. Mas os problemas de Kara-Murza com o regime russo estão longe de ser recentes.

Filho de um aclamado jornalista russo, foi na adolescência que descobriu a política. De acordo com aRadioFreeEurope, enquanto fazia um mestrado em história, na Universidade de Cambridge, começou uma carreira como assessor do opositor e liberal russo Boris Nemtsov.

Na casa dos vinte anos, dividiu-se entre a política e o jornalismo e decidiu rumar até aos Estados Unidos para trabalhar com vários jornais russos. O tempo trouxe-lhe cargos de maior responsabilidade, tendo chegado a diretor da delegação de Washington da RTVi, uma empresa de comunicação russa.

Manteve-se ao lado de Boris Nemtsov até fevereiro de 2015, altura em que o colega foi morto a tiro em Moscovo durante uma manifestação contra a anexação da Crimeia.

Três anos antes, ainda ao lado do amigo, começou a lutar para que os Estados Unidos da América aprovassem uma lei que permitisse o congelamento de ativos americanos de cidadãos e empresas estrangeiras que fossem acusadas de violações graves de corrupção ou direitos humanos.

A medida foi aprovada já em 2016, com o nome Lei Magnitsky, e fez com que vários cidadãos russos – alguns próximos do Kremlin - ficassem impedidos de atuar no mercado estrangeiro.

A designação da legislação era dada em homenagem a Sergei Leonidovich Magnitsky, um advogado e consultor que em 2008 denunciou uma rede de corrupção que lesava a Rússia em mais de 200 milhões de euros. Apesar da descoberta foi brutalmente espancado e acabou por morrer na prisão ao fim de onze meses detido em condições desumanas. O caso foi repudiado internacionalmente e, nos anos seguintes, vários países ocidentais aprovaram legislações semelhantes.

Mas o ativismo político de Kara-Murza, dentro e fora da Rússia, trouxe-lhe vários problemas, por vezes maiores que a própria vida. Em 2015 o ativista foi hospitalizado depois de ter sido vítima de um envenenamento intencional. Os seus órgãos acabaram por entrar em falência e o político teve de passar por várias sessões de terapia para conseguir voltar a andar. Dois anos mais tarde, o quadro clínico repetia-se.

Já nos últimos anos, o historiador de 41 anos e pai de três filhos, não poupou críticas aos países europeus por "apaziguarem" os comportamentos de Vladimir Putin, que diz serem idênticos aos de Mussolini, o antigo ditador italiano.

Condenou, por diversas vezes, a invasão da Ucrânia e os crimes levados a cabo pelo exército no seu país.

Em abril de 2022 decidiu voltar à Rússia de forma livre onde foi detido sob a acusação de traição, partilha de "informações falsas" contra as forças armadas russas e cooperação com uma organização estrangeira.

Na semana passada, de acordo com aReuters, Vladimir Kara-Murza foi julgado à porta fechada. Quando questionado pelo juiz recusou pedir a absolvição e disse estar "orgulhoso" do trabalho que levou a cabo contra o regime russo. Esta segunda-feira, foi sentenciado com aquela que está já a ser considerada a pena mais pesada contra um opositor político da era pós-soviética.

Maria Eismont, advogada, avançou aos jornalistas que deverá recorrer da decisão, mas que o político quando soube da pena sorriu e afirmou: "Agora tenho a certeza de que fiz tudo bem, enquanto cidadão e patriota". 

Até ao momento, o Kremlin recusou comentar a pena, tendo o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, afirmado que o governo nunca comenta decisões judiciais.

Em 2017, Vladimir Kara-Murza, disse numa entrevista àPBS News: "Por mais forte que seja a ditadura e a repressão, se um número de pessoas estiver preparado para defender a sua posição e defender a sua liberdade, os seus direitos e a sua dignidade, elas prevalecerão". Agora, depois da sentença, terá afirmado: "Espero que a Rússia seja livre".

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