No início de dezembro o Congresso norte-americano vai votar a divulgação de todos os arquivos de Epstein, neste momento na posse do Departamento de Justiça.
Na quarta-feira foram divulgadas mais de 20 mil páginas de documentos relacionados com Jeffrey Epstein, incluindo comunicações entre o criminoso sexual e figuras relevantes na política, meios de comunicação e membros de Hollywood. Os documentos partilhados por democratas membros da Câmara dos Representantes revelam mais pormenores sobre a relação entre Epstein e Donald Trump e até que ponto o atual presidente dos Estados Unidos teria conhecimento dos crimes praticados pelo magnata. Nas palavras do próprio Epstein, Trump “sabia sobre as raparigas”.
Protesto com cartaz alusivo a Trump e Epstein nos EUAGrace Trejo/Arizona Daily Star via AP
O email mais antigo é de 2011 e foi trocado entre Epstein e a sua companheira, Ghislaine Maxwell. Nessa altura, Epstein descreveu que o atual presidente norte-americano “passou horas” com uma das vítimas e não denunciou o esquema: “Ele é o cão que não latiu”.
Uma versão não censurada dos documentos revelou que a vítima em questão se trata de Virginia Giuffre, que se suicidou no início deste ano. Num depoimento prestado em 2016, a mulher afirmou que nunca tinha visto Donald Trump a participar em nenhum ato ilegal e no seu livro de memórias publicado este ano, já depois da sua morte, não o acusou de qualquer ilegalidade.
Já em 2015, quando Trump se encontrava em campanha eleitoral para sua primeira presidência, o escritor Michael Wolff e Epstein discutiram a relação entre os dois magnatas. Wolff começa por avisar que a CNN tinha intenções de questionar Trump sobre a sua relação com Epstein, que responde ao escritor: “Se pudesse escrever-lhe uma resposta, como acha que seria?” Wolff responde: “Acho que deve deixá-lo enforcar-se sozinho. Se ele negar ter estado no avião ou em casa, isso dá-lhe capital político e de relações públicas. Pode enforcá-lo de uma forma que possa gerar benefícios para si ou, se realmente parecer que ele pode vencer, pode salvá-lo e criar uma dúvida”.
Mas tarde, em outubro desse ano, Wolff voltou ao ataque e ofereceu a Epstein a possibilidade de dar uma entrevista que “poderia acabar com Trump”: “Há uma oportunidade de falar esta semana e sobre Trump para gerar simpatia por si e enfraquecê-lo. Interessado?”
Em 2019 Epstein diz a Wolff: “Claro que ele sabia sobre as raparigas”.
A Casa Branca já reagiu através da sua porta-voz, Karoline Leavitt, que defendeu que os democratas “publicaram seletivamente emails a fim de criar uma narrativa falsa para difamar o presidente Trump”. “Esta é uma campanha de distração dos democratas e dos media liberais e é por isso que estou a ser questionada sobre Epstein”, afirmou.
Já o presidente dos Estados Unidos utilizou as redes sociais para acusar os democratas de “tentarem ressuscitar a farsa de Jeffrey Epstein porque são capazes de tudo para desviar a atenção do quão mal lidaram com a paralisação do governo e tantos outros assuntos”. Isto porque, os mais recentes documentos foram divulgados na mesma semana em que o Senado chegou a acordo para acabar com o shutdown que durava há 43 dias. Trump tem negado qualquer envolvimento nos crimes de Epstein, com quem mantinha uma relação próxima, e a realidade é que não existe nenhuma evidência de que tenha participado da rede de tráfico humano do magnata. O republicano também já referiu que ambos tiveram um desentendimento e acabaram por se afastar no início dos anos 2000.
Os mais recentes emails divulgados incluem correspondência entre Epstein, um ex-conselheiro da Casa Branca, o ex-secretário do Tesouro Larry Summers, Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, mas também com o príncipe André e com Peter Mandelson, ex-embaixador do Reino Unido nos Estados Unidos.
Na primeira semana de dezembro podem ser conhecidos ainda mais detalhes sobre esta relação uma vez que a Câmara dos Representantes vai votar a divulgação dos arquivos de Epstein. Os democratas estão a trabalhar para forçar esta votação, e contam com o apoio de alguns republicanos, Ro Khanna – democrata da Califórnia - disse na quarta-feira que acredita que “40 a 50” republicanos se juntariam aos democratas para apoiar o projeto. Trump já deixou um aviso aos republicanos que possam estar a pensar apoiar os democratas: “Não deve haver desvios de atenção para Epstein ou qualquer outra coisa, e quaisquer republicanos envolvidos devem concentrar-se apenas em reabrir o nosso país [depois do shutdown] e reparar os enormes danos causados pelos democratas”.
A medida pretende exigir que o Departamento de Justiça entregue, num prazo de 30 dias, todas as informações em sua posse sobre Epstein e a sua cúmplice Ghislaine Maxwell, que cumpre uma pena de prisão de 20 anos pela sua participação no esquema de tráfico sexual.
A relação entre Trump e Epstein parece ter pouco impacto nos índices de aprovação do presidente norte-americano uma vez que a população está mais preocupada com as questões relacionadas com o custo de vida.
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