No Dia Internacional da Mulher saiba mais sobre a doença que afeta uma em cada dez portuguesas e que pode demorar anos até ser diagnosticada.
Cerca de 10% das mulheres portuguesas em idade reprodutora sente dores intensas durante a menstruação. Não é normal doer tanto. A dor é o principal sintoma de uma doença que ainda é desconhecida para muitos: a endometriose. No Dia Internacional da Mulher aSÁBADOentrevistou a ginecologista-obstetra no Hospital CUF Sintra, Marta Magro.
O que é a endometriose?
Define-se como a presença de glândulas endometriais e estroma (que revestem normalmente o interior da cavidade uterina) fora da cavidade uterina. É uma doença dependente de estrogénio, benigna, de carácter inflamatório e afeta mulheres nas suas diferentes faixas etárias. Tem uma prevalência de 10% em mulheres em idade reprodutora e 2-5 % em adolescentes que ainda não menstruaram e mulheres na menopausa
Como se manifesta a endometriose?
A endometriose manifesta-se por dor pélvica ( 80% dos casos) que inclui dor menstrual (dismenorreia), dor na relação sexual (dispareunia), infertilidade (25% dos casos) e massa ovárica (20% dos casos).
De que forma a endometriose dificulta a gravidez?
A endometriose afecta 10-15% de mulheres em idade reprodutiva e estima-se que 30-50% destas mulheres têm infertilidade. A prevalência de endometriose em mulheres com infertilidade é de 25-50%. A infertilidade pode ser causada por vários fatores associados à endometriose ou não, o que torna essencial uma boa avaliação do casal. Nos estádios mais avançados de endometriose, onde se verifica uma alteração da anatomia pélvica, todo o processo de fertilização pode ser comprometido. Nestas situações, a abordagem cirúrgica que visa a remoção das lesões de endometriose com restabelecimento da anatomia pélvica está associada à melhoria da capacidade reprodutora e sucesso na gravidez.
É uma doença de diagnóstico tardio, podendo demorar anos até ser diagnosticada. Quais são as principais razões?
O diagnóstico tardio da doença deve-se não só à desvalorização das queixas pelos médicos assistentes que muitas vezes desconhecem a endometriose como patologia e desvalorizam a intensidade da dor menstrual. Por outro lado, há um factor educacional e cultural pertinente, pois muitas mulheres são educadas desde jovens de que é normal ter dores intensas na menstruação porque o mesmo ocorreu com a mãe e a avó.
Qual é o sintoma que habitualmente leva à descoberta da doença?
O principal sintoma que leva à descoberta da doença é a dor pélvica que nestas mulheres se caracteriza na maior parte dos casos por uma dor menstrual intensa. Esta pode ser descrita como cólica ou ardor ou pressão localizada no baixo ventre e que se inicia 2-3 dias antes da menstruação e pode persistir até alguns dias após o termino da menstruação.
Se uma mulher sentir dor durante a menstruação deve recorrer a um ginecologista?
Toda a mulher com dor menstrual intensa, que não está controlada com medicação; uma dor que torna a mulher incapacitante na sua vida social, relacional e que torna impossível o desempenho profissional ou escolar constitui um factor de alerta e deverá ser sempre um motivo para recorrer a um ginecologista. É importante realçar que às vezes é difícil para uma mulher classificar a intensidade da dor menstrual porque todos nós temos formas diferentes de lidar com a dor e há mulheres que sempre tiveram menstruações dolorosas. Em caso de dúvida é preferível marcar consulta.
O que provoca a doença? Há mulheres mais susceptíveis a sofrer da doença por estilo de vida ou predisposição genética?
Apesar da investigação sobre a origem da endometriose suscitar muitas discussões na comunidade científica, a hipótese mais aceite assenta na menstruação retrógrada (contém as glândulas endometriais) pelas trompas para a cavidade peritoneal, permitindo a disseminação da doença para os órgãos adjacentes ao útero como ovário, bexiga e intestino. É importante referir que esta doença tem subjacente uma causa multifatorial tendo por base associação genética, factores imunológicos, ambientais e stress oxidativo.
Há graus de gravidade da doença?
A classificação dos diferentes estádios de endometriose é uma classificação baseada nas alterações verificadas durante os exames realizados e intervenção cirúrgica. Há endometriose mínima, endometriose ligeira, endometriose moderada e endometriose grave. Mas este sistema de classificação não correlaciona a intensidade das queixas com o grau de endometriose.
Qual é o tratamento disponível?
A endometriose é uma doença crónica e recorrente, com impacto relevante na saúde física e mental da mulher e repercussão na sua vida social, profissional e relacional. Neste contexto é fundamental considerar todas estas vertentes quando se inicia o tratamento, pois ele não será curativo. O tratamento da endometriose envolve uma abordagem médica e cirúrgica. A escolha do tipo de abordagem para tratamento da endometriose deve ter em conta os sintomas apresentados pela mulher, associados aos resultados revelados pelos exames de diagnóstico realizados. O tratamento deverá ter uma base multidisciplinar envolvendo a nutrição adaptada para a endometriose, o exercício físico, a fisioterapia para controlo da dor pélvica e o apoio psicológico para promover uma boa saúde mental.
O tratamento médico tem por objetivo minimizar e controlar os sintomas. Esta abordagem envolve utilização de fármacos analgésicos, incluindo anti-inflamatórios, e outros permitindo o controlo da dor. E também pílulas anti-concepcionais e outras formas de tratamentos hormonais que permitem redução e supressão da menstruação.
Em que situações se recomenda a cirurgia?
O tratamento cirúrgico consiste na remoção de lesões de endometriose através da cirurgia minimamente invasiva e tem por objetivo o restabelecimento da posição e funcionamento dos órgãos da cavidade pélvica, permitindo o controlo e a redução da intensidade dos sintomas. Tem indicação quando a terapêutica médica falha no controlo dos sintomas e se verifica uma deterioração da qualidade de vida da mulher.
Existe uma cura definitiva ou esta só existe removendo o útero? Em que situações se toma esta opção mais invasiva?
Ao ponderar o tratamento cirúrgico é importante considerar não só a extensão da doença, como também a faixa etária, a fase de vida em que a mulher se encontra (idade fértil ou não fértil), e os objetivos da doente. A opção mais radical consiste na remoção do útero e anexos. Esta opção é proposta a mulheres que já realizaram ou resolveram toda a parte que corresponde à sua fertilidade, e que apesar de estarem sob efeito de terapia médica ocorre uma deterioração da qualidade de vida sexual, social e profissional.Tendo em conta a história da evolução da endometriose, esta é uma patologia dependente de estrogenios. Seria de esperar que a eliminação de estrogénios, quer pela remoção dos ovários e pela menopausa, seriam suficientes para curar a doença. No entanto, a prevalência de endometriose em mulheres menopausicas é de 2-4%, e estão descritos casos de mulheres que mesmo após remoção do útero e anexos têm recidivas.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Agora, com os restos de Idan Shtivi, declarado oficialmente morto, o gabinete do ministro Paulo Rangel solidariza-se com o sofrimento do seu pai e da sua mãe, irmãos e tias, e tios. Família. Antes, enquanto nas mãos sangrentas, nem sequer um pio governamental Idan Shtivi mereceu.
Na Europa, a cobertura mediática tende a diluir a emergência climática em notícias episódicas: uma onda de calor aqui, uma cheia ali, registando factos imediatos, sem aprofundar as causas, ou apresentar soluções.
"Representa tudo o que não sei como dividir. As memórias, os rituais diários, as pequenas tradições. Posso dividir móveis e brinquedos, mas como divido os momentos em que penteava o cabelo da Ema todos os dias enquanto ela se olhava no espelho?"
No meio da negritude da actualidade política, económica e social em Portugal e no resto do Mundo, faz bem vislumbrar, mesmo que por curtos instantes, uma luz.