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A vida dos retornados nos hotéis mais luxuosos do País

Ana Taborda
Ana Taborda 24 de outubro de 2019 às 07:00

Os quartos pareciam camaratas, as refeições faziam-se por turnos e havia salas e elevadores só para eles. Das suites e salões de cinco e quatro estrelas até saíram casamentos.

Já passava da 1h da manhã quando um grupo de cerca de 120 pessoas entrou no luxuoso hall do Estoril Sol e pousou os poucos pertences que trazia consigo no chão de mármore daquele que era, então, o maior hotel do País, com 21 pisos, 404 quartos e serviços do mais moderno para a época, incluindo cinco pistas de bowling automatizadas e sauna com piscina privada. Margarida Cruz era um desses novos hóspedes, uma das mais de 500 mil pessoas a quem o País viria a chamar retornados. Estava há sete dias a dormir no aeroporto de Lisboa, em cima de uma manta e com outra a tapá-la, quando alguém se aproximou e disse: "Este grupo vai agora para os autocarros". Ainda meio estremunhados, levantaram-se e seguiram as indicações. "Não fazíamos ideia para onde íamos. Chegámos ao hotel Estoril Sol e o pessoal, contrariado, quase atirou as chaves dos quartos para cima do balcão", conta à SÁBADO. Nesse dia, já ninguém comeu ou bebeu. "Não nos ofereceram nada e tinham mandado retirar tudo o que havia nos frigoríficos dos quartos". O seu, que dividiu com um dos irmãos, era no quinto piso, com uma boa varanda, duas camas e vista de mar – a imagem de marca do hotel construído mesmo em cima da marginal.

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