Já passava da 1h da manhã quando um grupo de cerca de 120 pessoas entrou no luxuoso hall do Estoril Sol e pousou os poucos pertences que trazia consigo no chão de mármore daquele que era, então, o maior hotel do País, com 21 pisos, 404 quartos e serviços do mais moderno para a época, incluindo cinco pistas de bowling automatizadas e sauna com piscina privada. Margarida Cruz era um desses novos hóspedes, uma das mais de 500 mil pessoas a quem o País viria a chamar retornados. Estava há sete dias a dormir no aeroporto de Lisboa, em cima de uma manta e com outra a tapá-la, quando alguém se aproximou e disse: "Este grupo vai agora para os autocarros". Ainda meio estremunhados, levantaram-se e seguiram as indicações. "Não fazíamos ideia para onde íamos. Chegámos ao hotel Estoril Sol e o pessoal, contrariado, quase atirou as chaves dos quartos para cima do balcão", conta à SÁBADO. Nesse dia, já ninguém comeu ou bebeu. "Não nos ofereceram nada e tinham mandado retirar tudo o que havia nos frigoríficos dos quartos". O seu, que dividiu com um dos irmãos, era no quinto piso, com uma boa varanda, duas camas e vista de mar – a imagem de marca do hotel construído mesmo em cima da marginal.
Margarida tinha chegado a Portugal no último avião da ponte aérea que trouxe milhares de retornados para Portugal. E uma das mais de 70 mil que, sem alternativa, foi alojada pelo Estado em hotéis e pensões. Em 1976 havia 71.658 pessoas alojadas pelo IARN em 1.457 alojamentos, mais de metade em Lisboa. Destas, cerca de 629 estavam em hotéis de cinco estrelas e mais de 1.400 em hotéis de quatro estrelas. A notícia tinha sido dada ainda em 1975, pelo Diário de Notícias, que em setembro publicou um artigo com o título "IARN instala retornados nos melhores hotéis de Lisboa". Na peça, garantia-se que os hotéis de cinco estrelas não tinham sido a primeira opção. "Enchemos já todos os hotéis de Lisboa e alguns do Estoril e da Costa da Caparica e não sabemos onde vamos alojar os retornados que não param de chegar", explicava Manuel Godinho, funcionário do IARN. Tentando resolver o problema, "instalámos já algumas famílias em hotéis de luxo, como o Sheraton e o Ritz, a preços especiais."
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