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Inês Sousa Real e Rui Rocha: ela contra a central nuclear, ele responde com falta de programa do PAN

Raquel Lito
Raquel Lito 09 de fevereiro de 2024 às 22:19
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A porta-voz do partido da natureza defende, previsivelmente, a economia verde. O líder da Iniciativa Liberal bate-se pelo salário médio de 1500 euros líquidos, até 2028. E ambos querem segurar o eleitorado jovem, mas não podiam ser mais diferentes.

Nada os une: de um lado o progresso, do outro ambiente. Entre o partido das Pessoas, Animais e Natureza (PAN) e a Iniciativa Liberal (IL) era expectável haver desacordo em tudo. E assim aconteceu no debate que superou o morno, não chegando a quente, nesta sexta-feira, dia 9, às 18h, na SIC Notícias. Os líderes partidários Inês Sousa Real (pelo PAN) e Rui Rocha (IL) digladiaram-se do primeiro ao 30.º minuto, mas comfair-play, sem levantar a voz, nem atropelos. 

José Fernandes/SIC Notícas

Cada um foi lançando farpas ao opositor, sobre os pontos em discussão: economia verde, salário médio, educação e carreira dos professores. Inês Sousa Real começou confiante, com uma provocação lançada pelo partido nas redes sociais: "O liberalismo não funciona e não faz falta a Portugal." Também assegurou que não dará carta branca a ninguém, referindo-se à situação política dos Açores. Mas onde terá ganho pontos foi a defender a causa ambiental, nomeadamente a economia verde com argumentos contra a implementação da central nuclear, defendida pela IL, porque o país enfrenta uma "seca estrutural" e aquela solução requer "grandes quantidades de água para o arrefecimento das turbinas e dos reatores." 

O porta-voz liberal depressa largou o tema da central nuclear (como fonte de energia de base) e focou-se noutro, onde está mais à vontade. A defesa do salário médio para €1.500 líquidos até 2028, através da redução de impostos; o acesso dos jovens à habitação pela supressão do IMI e imposto de selo; e o incentivo à natalidade pelo cheque-creche (480€ por mês), assim como a garantia de médico de família a todas as crianças até aos 9 anos. Apesar das causas opostas, ambos querem chegar ao eleitorado jovem. O PAN pelo ambiente, a IL pelo prosperidade e promessas de melhores condições de vida aos jovens para que não emigrem.     

A SÁBADO avalia os líderes em confronto segundo quatro critérios, pontuados de 1 a 5: a linguagem, a venda de propostas, o killer instinct e o estilo. Ganha quem somar mais pontos. Knockout é uma vitória arrasadora, knockdown, uma simples vitória, o empate - fala por si.

A Linguagem

Inês Sousa Real: 4

Rui Rocha: 4

Ainda que sejam tão diferentes, foram cordiais e usaram uma linguagem acessível. Notou-se preocupação em fazerem passar a mensagem, de forma clara, num discurso bem articulado. Possivelmente porque o objetivo de ambos é chegar ao eleitorado jovem. Contudo, faltaram soundbites e, por vezes, alguma ironia que poderiam dar mais cor ao duelo. 

A venda de propostas

Inês Sousa Real: 3

Rui Rocha: 4 

O líder da IL não deixou escapar a fragilidade da opositora. Assim que ela disse que tinha lido o programa da IL – a propósito da defesa da energia nuclear –, ele contrapôs: "Nós não pudemos olhar para o vosso programa, ainda não o apresentaram. Ainda bem que puderam ler o nosso." Foi o momento em que Inês Sousa Real vacilou e passou à frente. Nesta altura do campeonato era crucial ter um.

Inês Sousa Real tentou superar a lacuna com a defesa acérrima da economia verde, "a que mais se expandiu a nível global, aumentou cerca de 30% o investimento", disse. E mais à frente retomou o assunto: "Quando o governo decidiu dar mais de 300 milhões de euros de borlas aos combustíveis fósseis, o PAN disse que aqueles 300 milhões equivalem a 4 milhões de passes sociais gratuitos que deveria ter ido para as famílias e não para quem mais lucra e polui." 

Killer Instinct

Inês Sousa Real: 4

Rui Rocha: 3

Inês Sousa Real não perdeu uma oportunidade de ataque. Para começar, atirou: "Muito me espanta a IL falar em clientelismo, quando o PAN apresenta medidas a nível do continente para acabar com a operação data center e para suspender esses projetos, a IL votou ao lado do PS. A IL votou contra a suspensão dos projetos, do clientelismo neste caso do governo de João Galamba, quando estava em causa suspender a sua execução."

Rui Rocha contra-argumentou: "Desde de 2019, aprovou todos os Orçamento do Estado do PS, que trouxeram recordes de carga fiscal, fala de escalões, mas em 2022 aprovou um orçamento em que o PS não atualizou os escalões, esteve sempre a lado de António Costa." Mas não foi tão assertivo como ela. 

Estilo

Inês Sousa Real: 4

Rui Rocha: 4

Ambos mantiveram-se firmes, combativos mas não excessivamente. Embora no início Inês Sousa Real revelasse atitude de excessiva assertividade, à medida que Rui Rocha foi ripostando, ela suavizou um pouco. Sorriram, não gritaram, nem foram demasiado formais. No final, surpreenderam os analistas precisamente pelo estilo. Primeiro, Rui Rocha pela falta de experiência em debates mas que parece estar a conseguir superar as provas televisivas (vai na quarta, em que terá tido o seu melhor desempenho). Depois, Inês Sousa Real destacou-se pela segurança com que fala. 

A frase:

"Sabemos que os liberais estão ao lado da banca, não ao lado das famílias" (Inês Sousa Real) 

"Não basta ter salário, é preciso casa" (Rui Rocha)   

E o vencedor é:

Não há. Inês Sousa Real e Rui Rocha empataram com 15 pontos cada. 

Rúben Sarmento/Sábado
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