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Trump volta a vencer a batalha contra os talk-shows?

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Em julho, o cancelamento do programa de Stephen Colbert foi associado a Donald Trump, sem que a CBS confirmasse. Agora, com a suspensão do programa de Jimmy Kimmel pela ABC, a situação parece repetir-se.

Passaram-se dois meses desde que a estação norte-americana CBS anunciou o cancelamento do programa The Late Show, apresentado pelo comediante Stephen Colbert, líder de audiências no horário em que é exibido nos EUA. Na altura, levantou-se a possibilidade desta suspensão estar relacionada com as críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump, mas a estação garantiu que se tratava apenas de uma “questão financeira”. Mas muitos adversários políticos de Trump avançaram com a hipótese da CBS ter decidido acabar com o seu programa de maior sucesso para que Trump autorizasse a fusão entre a Paramount (empresa mãe da CBS) e a sociedade de produção Skydance, negócio que precisava de ser autorizado pela reguladora das telecomunicações (FCC, na sigla em Inglês). Além da fusão Skydance-Paramount, quantificada em 28 mil milhões de dólares, a CBS News enfrentava o processo colocado por Trump, em que este reclama 20 mil milhões de dólares a título de indemnizações.

Trump reage ao cancelamento do programa de Jimmy Kimmel após polémica com Charlie Kirk
Trump reage ao cancelamento do programa de Jimmy Kimmel após polémica com Charlie Kirk AP Photo/Alex Brandon

Agora a história parece repetir-se com o programa Jimmy Kimmel Live!, apresentado pelo comediante Jimmy Kimmel. A cadeia de televisão norte-americana ABC, que pertence à Disney, por tempo indeterminado. Os comentários do apresentador acerca do estarão na origem desta decisão.

Nos EUA, vários políticos e figuras influentes manifestaram-se contra esta decisão e mostraram preocupação com uma possível política de silenciamento levada a cabo pelo governo. Citado pelo jornal The Guardian, o senador democrata Chris Murphy afirmou que este era o início de uma campanha para “usar o assassinato de Charlie Kirk como pretexto para usar o poder da Casa Branca para eliminar os críticos de Trump e os seus oponentes políticos”. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, lamentou a situação na rede social X e afirmou que o Partido Republicano “não acredita em liberdade de expressão”.

O ator Ben Stiller afirmou que a decisão “estava errada” e a atriz Wanda Sykes publicou um vídeo nas redes sociais, onde refere: “[Donald Trump] não acabou com a guerra na Ucrânia nem resolveu a situação em Gaza na primeira semana, mas acabou com a liberdade de expressão no primeiro ano. Ei, para aqueles que rezam, agora é a hora de fazer isso. Amo-te, Jimmy”.

Em julho, depois do cancelamento do The Late Show, Donald Trump celebrou esta decisão na própria sua rede social, a Truth Social: “Adoro que o Stephen Colbert tenha sido despedido. Ouvi dizer que o Jimmy Kimmel é o próximo, é ainda menos talentoso”.

Esta quinta-feira o presidente dos EUA também reagiu à decisão da ABC: “O programa de Kimmel, com as suas baixas audiências, está cancelado. Parabéns à ABC por finalmente ter tido coragem", escreveu. Na mesma publicação pediu à cadeia televisiva NBC que cancelasse os programas dos comediantes Jimmy Fallon e Seth Meyers.

As declarações que levaram à decisão de suspender o programa de Kimmel foram feitas durante a abertura do episódio, na passada segunda-feira. “Atingimos novos mínimos no fim de semana com o gangue MAGA [Make America Great Again] a tentar desesperadamente caracterizar este miúdo [Tyler Robinson] que assassinou Charlie Kirk como alguém que não um dos deles e a fazer tudo o que podem para marcar pontos políticos com isto”, começa por dizer o apresentador. E acrescenta: "Aqui vai uma pergunta que J.D. Vance talvez possa responder: quem é que queria enforcar o tipo que foi vice-presidente antes dele? Foram os esquerdistas ou o bando de desdentados que atacou o Capitólio a 6 de janeiro?"

Andrew Alford, presidente da divisão de radiodifusão da Nexstar (dona de estações que são afiliadas à ABC) referiu que “os comentários do senhor Kimmel sobre a morte do senhor Kirk são ofensivos e insensíveis num momento crítico do nosso discurso político nacional, e não acreditamos que reflitam o espetro de opiniões, visões ou valores das comunidades locais em que nos encontramos”.

No final de 2024, a estação televisiva ABC News, filial da Disney, doou 15 milhões de dólares a um fundo supostamente destinado a financiar "uma fundação e um museu" dedicados a Trump, para que este não apresentasse um processo por difamação.

Ainda a semana passada Donald Trump anunciou a intenção de por difamação, reclamando 15 mil milhões de dólares.

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