Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou.
Visto de Bruxelas, a União Europeia continua a ter ‘suficiente menos’ no curso intensivo de geopolítica em que está inscrita desde o início da presente década. Faz agora um ano, escrevi, na crónica “Geopolítica com pés de barro”, que «há três ingredientes essenciais para que a UE possa ser um verdadeiro ator geopolítico: pensamento estratégico, vontade política, e recursos à altura das ambições». Ora, volvido um ano, aqueles elementos fundamentais continuam a faltar e o contexto externo agravou-se com quase 12 meses alucinantes do novo mandato de Donald Trump; a continuação de relações tensas com a China; e a permanente ameaça russa que juntou à guerra que mantém na Ucrânia, ataques híbridos a países europeus da NATO. Internamente, a coesão europeia também se deteriorou como ficou espelhado na cimeira que terminou esta madrugada.
De mal a pior
Se 2024 tinha corrido mal do ponto de vista geopolítico, 2025 foi pior. O regresso de Donald Trump à Casa Branca provou ser ainda mais difícil para a Europa do que os cenários mais negativos antecipavam. O corolário deste ano mau para as relações transatlânticas foi a publicação da nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA que pinta a UE em tons negativos e que defende que a maneira de devolver a grandeza à Europa e evitar o seu “desaparecimento civilizacional” é dividir em vez de unir. Saudando a influência crescente de “partidos europeus patrióticos,” como fonte de “grande otimismo,” o documento indica que “cultivar resistência à atual trajetória da Europa no seio das nações europeias” deve ser uma das prioridades americanas.
Por outras palavras, isto significa apoiar aqueles partidos que nas capitais dos 27 ou no Parlamento Europeu visam enfraquecer a UE por dentro. Ora, num mundo em que a competição geopolítica entre grandes potências requer escala e dimensão, não é seguramente com uma Europa fragmentada, dividida e incapaz de tomar decisões conjuntas que os europeus vão conseguir afirmar os seus valores e defender os seus interesses. Mas, há alguns líderes europeus que acham que sim: Viktor Orbán da Hungria é o porta-estandarte desta perspetiva na UE.
A ideia de ‘dividir para reinar,’ que agora parece ser promovida por Washington é, aliás, bem-vinda em Pequim que, não obstante as relações que mantém com Bruxelas, privilegia relações bilaterais ou arranjos de cooperação como o antigo formato 16+1 (14+1 desde 2022) entre a China e os países da Europa Central, de Leste e Balcãs. Na verdade, apesar de se celebrarem os 50 anos de laços diplomáticos formais entre a UE e a China em 2025, não houve direito nem a festa nem a foguetes. Desde a reeleição de Donald Trump, a UE tentou estabilizar as relações com a China para evitar manter a tendência negativa que vinha de 2019. Mas, as tensões que marcam as relações económicas entre o bloco europeu e o gigante asiático estão por resolver como alertou o Presidente Macron. Por outro lado, é interessante notar que o país onde mais tem crescido o investimento direto chinês recentemente na Europa é a Hungria.
A Rússia foi, é e continuará a ser a maior ameaça à segurança da Europa. A começar pela guerra de agressão à Ucrânia, que Putin não dá sinais de querer acabar, até ao aumento crescente de ataques híbridos a vários países europeus da NATO, não há qualquer perspetiva de entendimento futuro entre Bruxelas e Moscovo. Enquanto não se calarem as armas e a Ucrânia não tiver a sua existência e soberania garantidas, a UE vai prosseguir
o caminho de divórcio energético, económico e político. Com exceções, claro. Mais uma vez, um governo que destoa da maioria dos seus pares é o húngaro na defesa das posições de Moscovo e na crítica constante a Kyiv.
Vontade política?
A insistência na Hungria tem uma razão particular e não é só porque o primeiro-ministro deste país abusa do veto e tem falhado frequentemente naquilo que seria uma cooperação leal com os seus parceiros. Tem a ver com o facto de a Hungria e o sr. Orbán não estarem sozinhos e poderem servir de modelo a outros.
Hoje, há na Europa uma resistência política eurocética mais alargada que complica o processo de decisão e de integração europeias. Mesmo discordando das posições político-ideológicas ou dos métodos de ação, isto é legítimo porque estamos a falar de democracias (mesmo que imperfeitas) e de líderes eleitos. No entanto, a manter-se ou a agravar-se esta tendência, os consensos europeus serão cada vez mais difíceis de forjar como, aliás, a cimeira dos líderes europeus que terminou esta madrugada demonstra.
Ou seja, num contexto externo mais exigente, onde também se junta o antagonismo de aliados tradicionais da Europa, e sem a necessária coesão interna, será ainda mais difícil encontrar a vontade política e os recursos que sustentem uma estratégia de longo-prazo para a União Europeia. Se os pró-europeus, à esquerda e à direita, não se unirem e mobilizarem para combater politicamente aquelas forças – o que implica também que governem melhor e respondam mais eficazmente aos anseios das populações – então será praticamente impossível. Para isso, é, também, essencial que saibam o que querem e para onde vão. Uma coisa é certa: mesmo que Orbán seja derrotado nas eleições gerais húngaras de 2026, este problema não fica resolvido.
Cinco para a meia-noite
Com o fim de 2025 termina, também, o primeiro quartel deste conturbado século XXI. Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou. Mais, 83% dos cidadãos acreditam que os 27 devem reforçar a sua independência económica e diversificar as suas relações comerciais e quase 79% dos europeus são a favor de uma política de defesa comum.
São cinco para a meia-noite e não há tempo a perder.
P.s.- Votos de boas festas a todos aqueles que acompanharam a Visto de Bruxelas este ano e um desejo sincero que 2026 seja melhor!
Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou.
Depois do sobressalto inicial, discute-se quem está e quem não está à mesa das negociações e diz-se que sem europeus e ucranianos não se pode decidir nada sobre a Europa ou sobre a Ucrânia.
Os decisores políticos europeus continuam a ser ‘surpreendidos’ por acontecimentos e incerteza. Mais atividade prospetiva na Europa é certamente bem-vinda.
É excelente poder dizer que a UE já aprovou 18 pacotes de sanções e vai a caminho do 19º. Mas não teria sido melhor aprovar, por exemplo, só cinco pacotes muito mais robustos, mais pesados e mais rapidamente do que andar a sancionar às pinguinhas?
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou.
A desinformação não é apenas um fenómeno “externo”: a nossa própria memória também é vulnerável, sujeita a distorções, esquecimentos, invenções de detalhes e reconstruções do passado.
Fazer uma greve geral tem no sector privado uma grande dificuldade, o medo. Medo de passar a ser olhado como “comunista”, o medo de retaliações, o medo de perder o emprego à primeira oportunidade. Quem disser que este não é o factor principal contra o alargamento da greve ao sector privado, não conhece o sector privado.