Humorista e apresentador, Jon Stewart apontou na segunda-feira duras críticas a Donald Trump e à estação televisiva CBS na edição do The Daily Show, programa por si apresentado no canal Comedy Central, que entrelaça política, atualidade e comédia. Em causa está a decisão da CBS de cancelar o The Late Show with Stephen Colbert, cuja emissão terminará em maio de 2026. Colbert, que encabeça o programa desde 2015 – altura em que tomou o lugar de David Letterman –, anunciou na semana passada que a cadeia televisiva não renovará o formato, uma decisão que levantou críticas entre pares e público.
"A CBS não tentou sequer salvar o programa mais visto do horário de fim de noite, no ar há mais de 30 anos. Isso leva a que todos perguntemos: foi apenas uma decisão financeira ou o caminho mais fácil para não atrapalhar uma fusão de 8 mil milhões de dólares?", questionou Stewart, referindo-se à tentativa de fusão entre a Paramount Global (dona da CBS e da Comedy Central) e a Skydance Media.
A estação, por via dos executivos George Cheeks, Amy Reisenbach e David Stapf, justificou o cancelamento com motivos "puramente financeiros", citando os custos elevados e a queda nas receitas publicitárias no universo dos talk shows noturnos. Stewart desvalorizou: "Compreendo o medo corporativo, compreendo o medo que vocês e os vossos anunciantes têm com tanto dinheiro em jogo. Mas entendam isto: os programas que agora tentam cancelar, censurar e controlar, são parte do que gerou esse valor", apontou.
Visivelmente transtornado, o humorista prosseguiu, fazendo uso de linguagem crua e confrontacional, uma imagem de marca, para acusar a CBS e a Paramount de se tornarem "insípidas" por medo de represálias políticas: "Se acreditam que podem tornar-se tão inócuas que nunca mais irão incomodar [Donald] Trump, estão redondamente enganadas."
A reação de Stewart parece ecoar a posição de outros nomes da televisão norte-americana. Numa publicação temporária no Instagram, Jimmy Kimmel, apresentador do Jimmy Kimmel Live!, talk show do canal ABC, foi perentório: "Love you, Stephen. F*** you, CBS" [Amo-te, Stephen, CBS vai-te f*der"].
A par de Kimmel, também Jimmy Fallon [apresentador do The Tonight Show] e Seth Meyers [que encabeça o Late Night With Seth Meyers, ambos do canal NBC], manifestaram surpresa e apoio. "Estou tão chocado quanto todos", escreveu Fallon. Já Meyers afirmou: "Vou ter saudades de o ver na televisão todas as noites." Outra das vozes de apoio a Stephen Colbert foi John Oliver, do programa Last Week Tonight (HBO), que classificou a decisão como "uma notícia terrível para o mundo da comédia."
Colbert, que sucedeu a David Letterman em 2015, tornou-se uma figura incontornável da crítica política e cultural no horário nobre da televisão norte-americana. Pelo The Late Show, ao longo da última década, passaram figuras distintas dos vários quadrantes da sociedade americana, mas não só.
Do ex-presidente Barack Obama à ex-vice-presidente Kamala Harris, na política, de Bono Vox a Bruce Springsteen, na música, de Barbra Streisend a Robert DeNiro, no cinema, o The Late Show marcou a programação pela formo como Colbert caminhava entre a comédia e a curiosidade incisiva, colocando questões pertinentes e abordando os temas com frontalidade.