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Sismo na Turquia e Síria: Sobreviventes desesperados com fome e frio. Mortes ultrapassam as 19 mil

Ana Bela Ferreira
Ana Bela Ferreira 09 de fevereiro de 2023 às 15:20
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Ao mesmo tempo que começam a escassear hipóteses de encontrar sobreviventes no meio dos escombros, os sobreviventes enfrentam as difíceis condições no terreno: falta de abrigos, de comida, água e de aquecimento.

As mortes no sismo que abalou a Turquia e a Síria na madrugada de segunda-feira já ultrapassam as 19 mil. Mas os sobreviventes também não podem respirar de alívio. Enfrentam agora a fome, o frio e o desespero por terem ficado sem nada.

A contagem provisória ainda de vítimas faz com este terramoto tenha ultrapassado o sismo de 1999 que causou mais de 17 mil mortes no nordeste turco. Neste momento, o número de vítimas da Turquia está já nas 16.170, anunciou o presidente Erdogan. Na Síria, onde a contagem é menos precisa, as indicações são que já existem mais de 3.000 mortos.

E se a contagem de vítimas é já dramática, os sobreviventes mostram a sua revolta pelos atrasos no regaste e na chegada de ajuda. Uma situação que pode deixar Tayyp Erdogan em maus lençóis nas eleições marcadas para 14 de maio e que já eram vistas como as mais renhidas para o líder turco desde que chegou ao poder, em duas décadas.

Entretanto na Síria, onde a situação é ainda mais frágil devido à guerra civil que o país atravessa há 11 anos, a primeira caravana de ajuda humanitária da ONU chegou finalmente esta quinta-feira.

Na província de Idlib, Munira Mohammad, que fugiu de Alepo com os quatro filhos depois do sismo, contou à Reuters: "Só há crianças aqui, precisamos de aquecimento e comida. Na noite passada não conseguimos dormir com tanto frio. A situação é muito má".

A realidade é que centenas de milhares de pessoas ficaram sem nada no meio do inverno, enfrentando temperaturas negativas ao relento. Os sobreviventes procuram abrigo em parques de supermercados, mesquistas, à beira das estradas ou mesmo entre as ruínas de edifícios que não resistiram ao abalo de 7.8 na escala de Richter e as várias réplicas. Estão desesperados por comida, aquecimento e água.

As autoridades da Turquia indicam que cerca de 6.500 edifícios colapsaram e um número ainda indefinido de outros ficaram danificados. A zona afetada pelo sismo tem cerca de 13 milhões de habitantes.

Dormir ao relento

Na cidade turca de Maras, os sobreviventes acamparam dentro de um banco e taparam as janelas com cobertores de forma a terem alguma privacidade. Outro grupo acampou junto a uma estrada, embrulhados em cobertores e aproveitando uma fogueira improvisada para aquecer sopa instantânea.

Na cidade síria de Jandaris, Ibrahim Khalil Menkaween carrega um saco para cadáveres. Perdeu sete membros da sua família, incluindo a mulher e dois dos seus irmãos. "A situação aqui está muito má. Não há nenhuma ajuda", conta à Reuters, acrescentando que leva o saco para colocar os corpos do irmão, do sobrinho mais novo e das mulheres de ambos. 

A esperança no meio dos escombros

Há medida que os dias vão passando as probabilidades de se encontrarem sobreviventes no meio dos escombros são cada vez menores. Ainda assim, ainda ontem, um vídeo turco mostrava o resgate de Abdulalim Muaini, resgatado da sua casa em ruínas, na cidade de Hatay, onde estava desde segunda-feira ao lado do corpo da mulher. 

Um mulher de 60 anos foi também retirada do meio dos destroços do seu apartamento em Malatya, 77 horas depois do primeiro abalo. Meral Nakir foi resgatada descalça e com arranhões na cara.

Um menino de dois anos foi retirado de uma pilha de cimento, em Hatay, 79 horas depois do terramoto. As imagens do seu resgate mostravam um bebéem lágrimas a ser retirado suavemente do buraco onde estava preso. Também na mesma cidade, Hazal, de 5 anos, foi resgatada após 72 horas. Quando questionada se queria água. Respondeu: "Não, ainda não fui examinada".

Desde segunda-feira que as queixas ao atraso no socorro têm sido constantes. Para aumentar ainda mais o desespero, por vezes, é possível ouvir as pessoas a pedir ajuda debaixo dos destroços. Para tentar calar as críticas, Erdogan esteve no terreno, na quarta-feira, e prometeu que ninguém iria ficar sem abrigo e que a ajuda estava já a funcionar em pleno.

Síria: crise atrás de crise

Na Síria, os esforços de ajuda têm chegado sobretudo da ONU, com a primeira caravana a chegar apenas hoje ao país. Destina-se à zona controlada pela oposição ao regime, onde vivem 4 milhões de pessoas, muitas delas já refugiados da guerra.

O atraso na ajuda ficou ainda a dever-se ao facto das estradas terem ficado destruídas.

Segundo a proteção civil síria, pelo menos, 1.930 pessoas morreram na zona controlada pelos rebeldes. El-Mostafa Benlamlih, o enviado especial da ONU pata a Síria, indicou que 10,9 milhões de pessoas ficaram afetadas pela catástrofe.

Até ao momento, o presidente do país, Bashar al-Assad ainda não falou ao país, tendo no entanto feito reuniões com equipas de emergências.

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