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"O padre ia para a minha cama, apalpava-me". Os relatos das vítimas de abuso sexual na Igreja

Raquel Lito , Leonor Riso 13 de fevereiro de 2023 às 12:03
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Durante a apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, foram citadas algumas denúncias recebidas. Leia alguns excertos.

Esta segunda-feira, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica apresentou o seu relatório com base em testemunhos de vítimas de abuso sexual. Pedro Strecht, o líder da Comissão, detalhou terem sido validados 512 testemunhos e enviados 25 para o Ministério Público.

Porém, as denúncias recebidas fazem crer que pelo menos 4.815 pessoas foram vítima de abuso sexual.

Durante a apresentação, foram lidas sete denúncias, de que a SÁBADO recolheu alguns excertos. 

"Aos 10 anos vou para o seminário, o padre engraçou comigo, ia para a minha cama, apalpava-me. Sentia muita culpa."

O segundo caso foi o de um homem que na altura tinha 12 anos, que estudou numa escola do Norte do País e que foi vitimado por um professor de Religião e Moral. "Pelo menos mais dois rapazes [foram abusados nessa ocasião]. Sei que ele ainda é vivo. Em qualquer sítio fará mal a outros. Onde andará ele?"

"O padre fazia coisas porcas no confessionário. Tenho muita vergonha", contou uma vítima do sexo feminino. "Não tocava nas raparigas, mas perguntava se nos masturbávamos, se enfiávamos o dedo…"

Outro caso citado foi o de um turista menor, de nacionalidade francesa, à época do crime com 16 anos. O padre levou-o para a capela, mostrou-lhe os dentes de uma caveira, depois os dele e a vítima notou que tinha uma erecção.

Outro relato é sobre um padre que visitava uma família e que, aos 40 anos, abusou do irmão do denunciante. Estava colocado numa paróquia do Norte e morreu há pouco tempo.

O sexto caso visa colégios católicos, e os crimes foram praticados contra uma criança nos anos 60. "Aquilo era esquisito, senti-me violentada" por uma freira, indica a denúncia. 

Finalmente, o último caso é contra um padre que teria 50 ou 60 anos e que vitimou uma menina que "ia para casa do padre". "Na altura da Casa Pia, congelava quando ouvia notícias", recordou a denunciante.

As histórias dos abusadores 

Além dos casos das vítimas, foi ainda traçado o perfil de dois padres abusadores. Um deles, o padre F., foi condenado no estrangeiro pelo crime de abuso sexual e fez tratamentos. Devido aos seus antecedentes, não podia exercer o ministério sacerdotal nesse país. Contudo, refez a vida numa diocese portuguesa onde viviam familiares seus, sem estar sujeito a medidas de vigilância. De acordo com a Comissão, este caso sinaliza os diversos tempos de reação das diversas igrejas católicas. 

Já o pároco P. foi denunciado três vezes por diversas vítimas, devido a atos de natureza sexual de extrema violência e masturbação do próprio. As vítimas eram convidadas à casa paroquial e despiam-se. O exercício a que eram submetidas implicava toques no pénis e masturbação, sendo que as pessoas têm conhecimento de outros casos. Este pároco relacionava-se com figuras públicas e membros destacados da Igreja. 

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