Número foi revelado por Pedro Strecht, que lidera a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica. 25 denúncias foram enviadas ao Ministério Público.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 testemunhos de abusos sexuais cometidos no seio da Igreja Católica em Portugal, anunciou o líder da comissão, Pedro Strecht. Foram recebidos 564.
Porém, com base nesses testemunhos, a Comissão estima que tenha havido pelo menos 4.815 vítimas - no "mínimo". "Os testemunhos permitem chegar a rede de vítimas muito mais extensa", disse Pedro Strecht.
25 denúncias foram encaminhadas para o Ministério Público. 77% dos abusadores eram padres e 96%, do sexo masculino e os cinco distritos onde houve mais casos foram Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria. Pedro Strecht considera que houve "zonas negras" onde eram cometidos abusos, como seminários ou instituições religiosas concretas. Outros locais mencionados foram colégios, confessionários, sacristia, casa do padre e sedes de escuteiros.
48% das pessoas que fizeram as denúncias falaram pela primeira vez do crime de que foram vítimas à comissão. O pico de abusos verifica-se entre os anos 60 e 90.
Daniel Sampaio fez a segunda intervenção, indicando que o abuso costuma ser cometido contra vítimas que ainda não chegaram à puberdade e por pessoas que lhes são próximas. As vítimas ficam com sequelas ao nível da regulação das emoções, do sono, e da alimentação. A perturbação de stress pós-traumático é a mais associada ao abuso sexual. "Há correlação com abuso de álcool, das drogas, e esquizofrenia", continuou.
As pessoas abusadoras estão muito bem definidas nas comunidades, onde prestam serviços relevantes, acrescentou o psiquiatra. "Temos vítimas que foram pessoas que colaboraram em cerimónias religiosas", afirma. Quanto ao abusador, "há preparação prévia" para o contacto sexual, e o abusador fica em alerta sexual quanto à criança. "Estas pessoas não têm capacidade de regular os seus impulsos, está perdida ou desregulada."
"O tratamento mais importante dos abusadores é ter uma Justiça célere e eficaz", considera, sendo fundamental. "A ideia de poder haver uma pena é uma inibição externa para o comportamento abusivo." Tratamento pode ser feito com psicofármacos mas aliados a terapia.
Laborinho Lúcio foi o terceiro a falar e adianta que foram elencados no relatório os crimes de abuso sexual como definido na lei cometidos contra pessoas até aos 18 anos. Laborinho Lúcio adiantou que a Comissão prepara uma lista de abusadores no ativo, concluída até ao fim do mês, que será entregue à Igreja e ao Ministério Público. O antigo ministro da Justiça sugeriu ainda que a lei relativa à prescrição dos crimes de abuso sexual seja alterada para os 30 anos de idade da vítima (em vez de 23).
Ana Nunes de Almeirda apresentou mais alguns dados relativos às vítimas. 52,7% são homens e 42,2%, mulheres. A sua idade média atual é 52,4 anos. 88,5% das vítimas vivem em Portugal - sobretudo em Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e Leiria. 53% são católicos e 25,8% são católicos praticantes. Do total, 32,4% são pessoas licenciadas.
O relatório da Comissão Independente começou a ganhar corpo a partir de 11 de janeiro do ano passado, quando começou a receber testemunhos, e em menos de uma semana foram validadas 102 denúncias.
O relatório já é do conhecimento da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que recebeu no domingo o documento da parte da Comissão Independente, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.
Hoje será também conhecida a primeira reação da CEP, presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 3 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária Conferência Episcopal para analisar o relatório.
Liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, a comissão independente é ainda constituída pelo psiquiatra Daniel Sampaio, pelo antigo ministro da Justiça e juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, pela socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, pela assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e pela cineasta Catarina Vasconcelos.
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