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A palavra pretende captar a novel capacidade ou competência de gerir e liderar duas forças universalmente opostas – estabilidade e agilidade.
“Não se trata de escolher entre estabilidade e agilidade,
mas sim de fortalecer e viabilizar ambas, estabilidade e agilidade, para
melhorar as experiências e os resultados para os trabalhadores, empresas e
clientes.”
2025 Global Human Capital Trends Report, Deloiite, p.18
Se já conhece o neologismo
“estagilidade”, é sinal que esteve atento aos mais recentes estudos no campo da
gestão e das políticas públicas, particularmente, os focados na inovação das
organizações.
A palavra pretende captar a novel
capacidade ou competência de gerir e liderar duas forças universalmente opostas
– estabilidade e agilidade –, mas cujo balanço ou equilíbrio é considerado
essencial para a adaptação e sucesso das organizações.
No essencial, estagilidade responde ao
desafio de saber como navegar e bem-suceder à tensão estrutural entre
eficiência e inovação, entre a necessidade de estabilidade dos trabalhadores e
a exigência de agilidade organizacional num contexto de difusão tecnológica,
transformação digital e disrupção contínua, resultante sobretudo da
inteligência artificial e de novos contextos e pressões políticas,
regulatórias, económicas e sociais.
A palavra ganhou foros de buzzword no
mundo da gestão através do Relatório Global de Tendências de Capital Humano 2025,
elaborado pela Deloitte, sob o lema "Transformar Tensões em
Triunfos", e suportado em inquirições realizadas a cerca de 13.000
trabalhadores e executivos empresariais e de recursos humanos em 93 países.
Segundo este relatório, estagilidade
significa a lente prática pela qual deve ser redesenhado o trabalho, a
liderança e a cultura da organização, permitindo fornecer às pessoas um suporte
estável ao mesmo tempo que a organização aumenta e acelera a sua capacidade de
adaptação, evitando que a busca de agilidade se traduza em insegurança
permanente e desgaste humano.
Estagilidade é apresentada como a
competência para oferecer estabilidade percebida às pessoas (propósito e
valores claros, regras de jogo compreensíveis, relações de confiança, percursos
de desenvolvimento visíveis) em conjunto com elevada flexibilidade na forma
como o trabalho é desenhado e distribuído (estruturas em rede, equipas
multidisciplinares fluidas, uso de IA para redistribuir tarefas e ajustar
rapidamente o trabalho).
Contudo, estabilidade já não pode
significar organogramas, perfis de funções rígidos, equipas fixas, carreiras
lineares, e modelos de trabalho estandardizado baseados em empregos e tarefas,
incompetentes para enfrentar ciclos quase contínuos de transformação (fusões,
cisões, reorganizações, reforma de sistemas de informação e gestão, mudanças
regulatórias e culturais) que as organizações enfrentam.
Na verdade, estabilidade, no mundo
atual, exige a criação de um novo conjunto de âncoras relativamente duradouras,
transparentes, íntegras e promotoras de identidade, direção, adaptação e
desempenho laboral, organizacional e individual.
Considerando as necessidades e
expectativas de pertença, segurança e bem-estar dos trabalhadores, bem como o
contexto de exigência e pressão contínua de resultados aos líderes e executivos,
o estudo sustenta que quando não são enquadrados por âncoras de estabilidade,
alimentam ansiedades, perdas de confiança e fadigas de mudança, sobretudo
relativamente à IA, lideranças, políticas e objetivos organizacionais.
Entre essas âncoras, o relatório
destaca a criação de regras claras e transparentes, propósito institucional
forte e compreensível, elevar cultura de cuidado e de pertença a prioridades
internas; cultura coerente, que dê sentido e direção às decisões; redes
internas e comunidades que sustentam o sentimento de pertença; sistemas de
competências e percursos de aprendizagem que dão previsibilidade à
empregabilidade; e de políticas transparentes sobre o uso de IA e sobre
critérios de decisão.
Portanto, o relatório rejeita tratar esta
aparente contradição ou oposição entre estabilidade e agilidade como uma escolha
binária – “ou estabilidade ou agilidade” – e propõe que a questão essencial é a
estagilidade, ou seja, a capacidade ou competência de combinar e balancear os
dois polos e de encontrar um modo de providenciar previsibilidade e confiança
às pessoas, sem abdicar da capacidade de evoluir e reconfigurar equipas,
prioridades e modelos de trabalho com rapidez.?
A investigação da consultora revela,
ainda, uma desconexão significativa entre consciência e competência
organizacional, i.e., se por um lado muitas organizações reconhecem a
importância de equilibrar a estabilidade com a agilidade, a automatização com a
melhoria, o controlo com o empoderamento, a padronização com a
personalização, previsibilidade com a potencialidade, numa palavra, a
eficiência com inovação, a maioria enfrenta sérias dificuldades em obter
progressos significativos nestes domínios.
A expressão estagilidade não surpreende
no mundo da teoria das organizações e da gestão e é o culminar de várias
décadas de investigação científica sobre as contradições entre eficiência e
inovação ou estabilidade e agilidade nas organizações, tendo vindo a prevalecer
a ideia de que a superação deste dilema não implica escolher ou alienar uma,
antes renovar o significado das partes e balancear ambas.
Neste artigo, Duncan observa que
inovação e operação vivem em lógicas quase incompatíveis: a inovação pede
estruturas orgânicas, flexíveis, pouco formais e eficácia; a operação de rotina
exige estruturas mecanicistas, regras, procedimentos, controlo e eficiência. Em
face disto, e verificando que uma única estrutura não serve todos os resultados
esperados e duradouros, Duncan propõe a “organização ambidestra”, ou seja,
desenhar, deliberadamente, duas estruturas sob o mesmo teto (uma, para iniciar
e experimentar a inovação, outra, para a executar) e caber à liderança de topo
manter estas duas metades conectadas.
A mensagem implícita é simples e
poderosa: a estabilidade do núcleo (eficiência), por um lado, e a mudança
inovadora, por outro, não se anulam, devem, antes, ser geridas e lideradas em
conjunto, sendo ambas, incluindo as respetivas culturas, essenciais para a
inovação incremental e disruptiva e, assim, sustentabilidade da organização.
Contraditórias, mas complementarmente essenciais.
A doutrina das “organizações
ambidextras” andou meio adormecida até surgir um trabalho publicado em 1991 do
eminente James G. March (Universidade de Stanford, EUA), “Exploration
and Exploitation in Organizational Learning”, que vai fornecer a
densidade conceptual da teoria da ambidesteridade das organizações, sem que
March utilize este termo ou cite Duncan.
March procurou encontrar quais os
melhores modelos ou mecanismos de adaptação e superação das organizações
relativamente às diversas pressões (tecnológicas, regulatórias, financeiras,
sociais) e ambientes dinâmicos, incertos, turbulentos e imprevisíveis, a fim de
atingirem a sua sobrevivência, sustentabilidade e sucesso.
No referido artigo, demonstra que
existem, basicamente, duas formas ou tensões inevitáveis na gestão das
organizações: a exploração, que busca novos conhecimentos, produtos, recursos e
processos, resultantes, designadamente, de investigação, experimentação,
participação, assunção de risco (novas oportunidades); e a “explotação”, que
visa o aproveitamento e otimização dos meios, recursos, processos baseados no
conhecimento e cultura já existente na organização (velhas capacidades).
Ambas são realidades estruturais,
persistentes e críticas para a renovação e inovação das organizações (adaptação
organizacional), portanto, a tensão deve ser gerida, e liderada, e não (por
impossibilidade) eliminada.
Ambos os artigos são fundadores da
estrutura dual das organizações, que vieram ser desenvolvidas e expandidas por
diversos autores como Michael L. Tushman, Charles A. O’Reilly, Mary J. Benner,
Sebastian Raisch e Julian Birkinshaw.
Concluindo, um dos fios condutores
destas abordagens teóricas organizacionais é procurar saber como é que uma
organização pode adapta-se e inovar, para gerar valor e riqueza, tanto para as
organizações como para os seus colaboradores, sem sucumbir ou erodir por
dentro.
A estagilidade constitui, portanto, uma
resposta assaz atual do mundo técnico e académico para a criação de riqueza e reforma
da boa gestão e liderança, a qual deve estar ao serviço das condições e
competências humanas, reais e potenciais, em linha com o negócio da organização.
Na literatura mais recente de políticas
públicas a estagilidade assume, grosso modo, a designação de “estabilidade
ágil”. No próximo artigo partilho porquê.
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