Quando, em debates e outros eventos públicos, refiro, como já abundantemente escrevi em várias destas minhas crónicas, que todos os seres humanos nascem selvagens, egoístas e tendencialmente irracionais, há sempre alguém que discorda dessa minha afirmação e se sente inconfortável com ela.
Presumo que ainda continuam a acreditar na tese do “Bom selvagem” defendida por Jean- Jacques Rousseau, o filósofo, teórico político, escritor e compositor nascido em Genebra, na suíça, que viveu no século XVIII.
Todavia, esta tendência natural para a irracionalidade é o que, em última análise, justifica a postura que, do ponto de vista europeu, é completamente suicidária consubstanciada na abjecta e miserável subserviência para com os interesses dos EUA de pessoas como, por exemplo, o actual secretário-geral da NATO/OTAN e ex-primeiro ministro dos Países Baixos Mark Rutte.
Postura essa que segue perfeitamente em linha com o igualmente inaceitável comportamento do seu antecessor nesse cargo, Jens Stoltenberg, que foi primeiro-ministro da Noruega e que ocupou o lugar de secretário-geral da NATO/OTAN de 2014 a 2024.
É patética a forma canhestra como Mark Rutte tenta desvalorizar (e até considerar justificada) a ausência de Marco Rubio, o secretário de Estado da Administração Trump – que é o equivalente no governo dos EUA ao posto de Ministro dos Negócios Estrangeiros nos países europeus – a uma importante reunião da NATO/OTAN, num momento de tão especial relevância para essa organização politico-militar, dada a situação da guerra na Ucrânia e o estado das pseudo negociações de paz para esse país de que tanto a liderança estado-unidense como a russa pretendem afastar a UE.
O que para mim significa que é cada vez mais incontestável que a segurança dos países europeus é uma questão irrelevante para o actual governo dos EUA.
Todavia, ainda assim, as lideranças europeias continuam a bajular de um modo indigno e desprezível Trump e os seus apaniguados MAGA.
Eu nunca servi nas Forças Armadas, mas os militares portugueses que eu conheço seriam incapazes de uma tão repugnante subserviência que nem o facto de Mark Rutte e Jens Stoltenberg serem políticos civis pode justificar ou tornar aceitável.
Mesmo por questões meramente de honra e de respeito e amor próprio que essas pessoas deveriam sentir por si mesmos. E que, se calhar, não sentem.
E infelizmente não são os únicos como ficou amplamente demonstrado face aos termos do dito “acordo” entre a UE e os EUA a propósito da “guerra” das tarifas aduaneiras desencadeada por Donald Trump.
Tenho vergonha que António Costa e Ursula von der Leyen sejam os actuais representantes máximos da União Europeia.
Mas, o pior de tudo é que, com pessoas como essas à frente dessa organização, os interesses dos cidadãos e das cidadãs da Europa não estão a ser minimamente defendidos.
A todos os níveis, incluindo no que respeita às questões de segurança.
Será que a atitude do governo dos EUA na guerra na Ucrânia, globalmente favorável, ainda que para satisfazer interesses próprios, à posição de Putin, não é suficientemente ilustrativa de qual será a actuação dos estado-unidenses em caso de conflito que possa vir a eclodir neste chamado Velho Continente?
Será que atentaram bem no que resulta da opinião manifestada pela Administração Trump, através do seu embaixador junto dessa organização, indicando que o comando militar da NATO/OTAN deve ser entregue à Alemanha?
Acham mesmo que é só uma questão de ignorância acerca do passado histórico da Europa? Acham mesmo?
E é por isso que qualifico de suicidária esta postura genérica dos dirigentes da UE e de um número significativo de governantes dos seus países membros.
E, cereja no topo do bolo, também a dos representantes europeus na NATO/OTAN.
Cereja podre, num bolo putrefacto, acrescento.
Os europeus e as europeias, e muito particularmente os cidadãos e as cidadãs dos países membros da UE, mas também os e as do Reino Unido, deveriam, isso sim, estar preocupados com a criação de sistemas e organizações de defesa da Europa e não em
aumentar a despesa com a Defesa apenas para ir a correr comprar material de guerra às empresas dos EUA.
E o “ministro da guerra” do governo português, Nuno Melo é seguramente um dos maiores defensores dessa linha política.
Curiosamente ou talvez não, a direita e a extrema-direita europeias, mais alinhadas com a ideologia e a política de Trump e dos republicanos MAGA, apesar de todo o nacionalismo que proclamam, são, na concreta prática real dos seus actos, em cada um dos seus respectivos países, os melhores e maiores defensores dos interesses das empresas estado-unidentes.
É certo que a construção de mecanismos europeus de defesa comuns já foi tentada em 1952 com o falhado Acordo de Paris que visava a criação de uma Comunidade Europeia da Defesa (o acordo foi assinado, mas não entrou em vigor por não ter sido aprovado pela Assembleia Nacional Francesa dada a oposição dos gaulistas).
Contudo, agora que há dirigentes políticos que são suficientemente loucos a ponto de acreditar que irão sobreviver a uma guerra nuclear, espero que, apesar de todas as mistificações ideológicas, o instinto de sobrevivência que é inato aos seres humanos acabe por prevalecer, e esse importantíssimo assunto volte a ser discutido.
Claro que existem o Reino Unido e a Turquia que são países europeus que estão na NATO/OTAN e não estão na EU – e existe o Canadá, que também está na NATO/OTAN.
Mas é para resolver esses problemas que existem os tratados.
E, já agora, será bom pensar também na Austrália, na Nova Zelândia e no Japão que são aliados imprescindíveis na luta pela preservação da Democracia, do Estado de Direito e dos direitos humanos universais.
Tenho a perfeita consciência que não vai ser uma tarefa fácil, até porque isso implica que a UE se transforme numa verdadeira Federação e os tais ditos “nacionalistas” que, como já referi, são afinal os maiores e melhores defensores dos interesses dos EUA, irão opor-se a isso com todo o arsenal de mentiras que habitualmente usam na sua prática política quotidiana.
Mas, em última instância, confio no instinto primário de sobrevivência dos seres humanos.
Porque é a sobrevivência da Humanidade (não do Planeta) que está em causa.
Infelizmente existe um risco real de que não apenas a Democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos poderão vir a desaparecer da face da Terra, como também que o mesmo aconteça com a Vida Humana.
António Ramalho Eanes, general e Presidente da República, com a sua assinalável sabedoria e enorme bom-senso, disse que essa é uma data que deve ser assinalada e recordada, mas não comemorada.
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