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CDS: A “golpada” e a frente de resistência

Margarida Davim
Margarida Davim 29 de janeiro de 2021 às 08:59
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CDS vai ter Conselho Nacional. Decisão foi tomada em noite longa, em que os próximos do líder analisaram o assalto ao poder e garantiram que não sairão sem dar luta.

Na noite em que a Comissão Política Nacional do CDS decidiu que haverá Conselho Nacional, como pediu Adolfo Mesquita Nunes, os próximos de Francisco Rodrigues dos Santos aconselharam-no a não cair sem lutar.

Ricardo Meireles

Durante a longa discussão, ficou claro que Rodrigues dos Santos não se demite e que os seus apoiantes não querem sequer um Congresso antecipado. Mas a demissão do grupo liderado por Filipe Lobo D’Ávila mudou as contas a tudo e fez o líder não resistir à convocatória de um Conselho Nacional.

Na reunião da Comissão Política Nacional, falou-se de "golpadas" e Francisco Rodrigues dos Santos até admitiu que já estava à espera deste assalto à liderança.

"Eu sabia que isto ia acontecer", disse,Francisco Rodrigues dos Santos.

No seu núcleo duro, admite-se agora o erro de ter querido congregar fações chamando Lobo D’Ávila para a direção, mas também todas as tentativas de conciliação que fez com o grupo de João Almeida. E Chicão faz uma espécie demea culpaem relação à estratégia conciliadora que adotou.

"O CDS é pródigo em golpadas destas. Fui avisado de que isto ia acabar por acontecer por pessoas como Miguel Anacoreta Correia, Fernando Camelo de Almeida, Mattos Chaves e António Carlos Monteiro", terá dito o líder, nomeando aqueles que estão no núcleo duro que agora o aconselha a resistir e o avisa de que, mesmo que venha a cair, não o deve fazer de forma a inviabilizar qualquer futuro político.

"Antes partir do que vergar. O mandato é para levar até ao fim", defendeu Luís Marinho, que questionou "o que aconteceu às juras de amor de Lobo D’Ávila" e do seu grupo, que não esteve presente na reunião. "Porque é que os demissionários não vieram aqui hoje dar à cara?", perguntou, enquanto uma fonte próxima da direção notava àSÁBADO, que Lobo D’Ávila manteve sempre alguma distância em relação ao líder. "Esteve pouco presente", garante.

Agora, há quem recorde a forma como Paulo Portas derrubou Manuel Monteiro e Ribeiro e Castro e veja neste desafio de Mesquita Nunes uma reedição desse passado.

"Não é com os meninos de Portas e de Cristas que lá vamos", atacou Mattos Chaves, que vê em Adolfo, o ex-vice de Assunção Cristas, a continuação do portismo.

Mesmo assim, Pedro Melo, ex-porta voz de Ribeiro e Castro defendeu ser "preciso ouvir os ex-presidentes e trazê-los" para o lado da direção.

Manuel Monteiro é o homem de quem se volta a falar, como apoiante de Chicão. Mas as pontes com Portas e Cristas, muito mais próximos de Adolfo Mesquita Nunes, parecem impossíveis de refazer.

Conscientes do peso que têm as figuras que contestam o líder, como Luís Pedro Mota Soares, Cecília Meireles, Nuno Melo, João Gonçalves Pereira e João Almeida, os próximos do líder atacam os barões.

"Não tenho medo dos barões e dos notáveis", disse Rosa Lourenço, presidente da distrital de Leiria, que atacou otimingda saída do Filipe Lobo D’Ávila e dos seus apoiantes. "Não saíram há seis meses porquê? Ou por que não esperam pelas autárquicas?", questionou.

A estratégia agora será a de criar uma frente de resistência e cerrar fileiras em torno de Rodrigues dos Santos. Jo Merino, líder da distrital Setúbal, defendeu mesmo a necessidade de renovar a comissão executiva. "Lobo D’Ávila criou um facto político e temos de substituir rapidamente os elementos que saíram (da comissão executiva)", argumentou, abrindo a porta a "um conselho nacional o mais rapidamente possível", mas não a um congresso antes das autárquicas.

De resto, o também apoiante de Chicão, Francisco Mota, líder da JP, defendeu a realização de um Conselho Nacional.

Na verdade, a demissão do grupo de Lobo D’Ávila deixava poucas dúvidas sobre a probabilidade de travar essa reunião.

Ainda assim, do lado de Adolfo Mesquita Nunes contavam-se ontem espingardas, tentando saber junto do presidente do Conselho Nacional, Filipe Anacoreta Correia, quantos seriam ao certo os conselheiros nacionais, para ter a certeza de que o quinto necessário para a convocação daquele órgão correspondia aos 30 de que já se falava. Um pedido de esclarecimento que, ao final da noite de ontem, ainda não tinha resposta.

Se é certo que há um núcleo duro que se organiza em torno de Chicão, também é notório o entusiasmo que o desafio de Adolfo está a gerar entre os que temem "a extinção do CDS" e veem no ex-vice de Cristas a última hipótese de salvação.

Apesar de não ser das figuras mais populares no partido, Mesquita Nunes está por isso a congregar apoios.

A hipótese de Nuno Melo ser candidato a líder parece estar a gerar menos entusiasmo, com muitos a lembrarem que por várias vezes o eurodeputado acabou por desistir de correr à liderança.

Francisco Rodrigues dos Santos tem a seu favor a forma como no último ano congregou o aparelho em torno de si. Mas do lado de Mesquita Nunes os contactos avançam e há a convicção de que haverá mesmo Congresso.

O próprio Adolfo Mesquita Nunes é que ainda não anunciou de forma inequívoca que será candidato a líder. Mas esse é um segredo mal guardado no CDS. Adolfo só espera o momento certo para dar o passo seguinte e fazer esse anúncio.

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