Um pedido simples a um modelo de IA tende a consumir mais eletricidade do que uma pesquisa no Google.
Vida digital. Mundo digital. Sociedade digital. Ainda não nos habituámos ao que estas designações significam e já precisamos de novas definições. A Inteligência Artificial estrutura o nosso quotidiano e molda o nosso planeta. O brilho dos ecrãs e o facilitismo de um e-mail escrito em poucos segundos, ou a imagem perfeita para o meme, transformaram a Inteligência Artificial na arquitectura invisível que organiza a internet, a economia criativa e boa parte da nossa vida digital. Porque essa interferência ultrapassou limites, a infraestrutura que protege cerca de 20% da web decidiu bloquear, por defeito, os bots de IA e criar um sistema de licenciamento: quem quiser usar o nosso conteúdo para treinar modelos terá de pedir autorização e pagar. A Cloudflare deu o primeiro passo ao limitar o scraping automatizado, incluindo de órgãos de comunicação social. Durante anos, textos, imagens e áudio circularam nos bastidores livremente para alimentar modelos que respondem gratuitamente (muitas vezes, muito mal), dando a sensação de eficiência e fomentando o comodismo. Esta é uma mudança técnica, mas também económica: abre novos modelos de negócio e obriga a negociar direitos no século XXI.
Se a IA faz por mim em poucos segundos, eu não preciso de fazer. Verdade. Mas arriscamos a ser como o casal de influencers que não embarcou em direcção a uma viagem de sonho porque perguntou ao Chat GPT se precisavam de visto para aquele destino. O exemplo é caricato, mas sintomático: se delegamos tudo, começamos a perder o essencial, principalmente o raciocínio e sentido crítico, imaginação e criatividade, que tanto nos orgulhamos de nos diferenciar no reino animal e, até, da Inteligência Artificial.
A literacia digital, tão urgente quanto necessária, ampliou o seu espectro. Precisamos de uma literacia digital que inclua o que ainda não sabemos sobre estes modelos, a sua natureza, características e impacto. Porque o impacto é inegável e precisa ser conhecido. Em média, um pedido simples a um modelo de IA tende a consumir mais eletricidade do que uma pesquisa no Google; estimativas recentes sugerem valores várias vezes superiores: gerar cerca de 100 palavras pode equivaler a manter aproximadamente 14 lâmpadas LED acesas durante uma hora. Pouco? Multiplique-se por milhões de pedidos diários. E se 100 pessoas pedirem 100 palavras? De repente, a soma deixa de ser detalhe e passa a ser sistema. São 10 000 palavras ou 140 000 lâmpadas. Centros de dados consomem água em grande escala para arrefecimento (milhões de litros por dia) e a produção elétrica continua, em muitos mercados, dependente de combustíveis fósseis, com emissões associadas. Também aqui vale a pergunta simples antes de cada pedido: preciso mesmo disto? Poderei lá chegar de outra forma?
Conseguimos viver sem IA para as coisas básicas da vida, como foi que, de repente, tudo depende do Chat GPT e outros modelos? A ânsia de fazer cada vez mais gastando cada vez menos coloca a IA no centro das operações, automatizando tarefas, reconfigurando (até aniquilando) profissões, pressionando, ao mesmo tempo, o ar que respiramos e a água que bebemos. Valerá a pena? Só se mantiver o melhor de nós, ampliando limitações sem substituir autoria, sentido crítico e responsabilidade. Insustentável é não querer saber. Cada novo pedido é um voto no tipo de futuro que queremos. Se a estrutura de zeros e uns que nos alimenta é invisível, a escolha de como a usamos, essa, não é.
O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A ideia de que a IA pode tomar conta do mundo pode parecer cinematográfica mas é cada vez mais real. Contudo, a Apple divulgou um estudo no qual afirma que todos este modelos não pensam, apenas memorizam.
O Deepseek, alternativa chinesa ao ChatGPT, usa código aberto e tem-se afirmado pela capacidade de se igualar à OpenAI. Ao que dizem, tem um custo inferior e consome menos recursos.
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"O cachecol é uma herança de família," contrapôs a advogada de Beatriz. "Quando o casamento terminou, os objetos sentimentais da família Sousa deveriam ter regressado à família."
O senhor Dr. Durão Barroso teve, enquanto primeiro-ministro, a oportunidade, de pôr as mãos na massa da desgraça nacional e transformá-la em ouro. Tantas capacidades, e afinal, nestum sem figos.
Frank Caprio praticava uma justiça humanista, prática, que partia da complexa realidade. Por isso, era conhecido ora como "o juiz mais gentil do mundo", ora como “o melhor juiz do mundo”.