Sábado – Pense por si

Próxima guerra de Rui Rio: os estatutos do PSD

A revisão está prometida desde o último Congresso, mas tem sido adiada. Com as autárquicas no horizonte, direcção admite que a reforma do partido possa ser adiada.

É desta que Rui Rio vai mudar o partido? A revisão dos estatutos está prometida desde o Congresso em que se tornou líder, mas tem sido sucessivamente adiada. Na semana passada, Rio anunciou uma comissão para a revisão estatutária e logo o PSD entrou em alvoroço. Com as autárquicas no calendário e o mandato da liderança a chegar ao fim este ano, os críticos dividem-se entre os que temem um "golpe palaciano" e os que acham que Rio vai continuar a adiar a reforma do partido. O que é certo é que na direção já se admite um processo mais longo e que entre os críticos se perfilam propostas para ir a jogo.

FERNANDO VELUDO/LUSA

Minutos antes de começar a primeira reunião da comissão para rever os estatutos do PSD, a coordenadora do grupo, Isaura Morais, explicava àSÁBADOque a ideia era "até junho apresentar uma proposta". No dia seguinte ao encontro por Zoom, no qual participou Rui Rio, o calendário já tinha nuances. "A prioridade são as autárquicas", notava a vice-presidente social-democrata, explicando que este é um processo que "irá demorar o seu tempo" e que começará com a "auscultação a concelhias e distritais".

Se na sexta-feira Isaura Morais não excluía a hipótese de realizar um congresso de um só dia apenas para rever os estatutos – admitindo até que fosse online –, no sábado preferia lembrar que o calendário político não põe alterações estatutárias no topo da agenda.

A falta de pressa é, contudo, criticada por aquele que tem sido um dos mais audíveis críticos de Rio e que era autor de uma das propostas de revisão estatutária que o líder pôs na gaveta desde 2018. "O PSD não pode persistentemente continuar a criar grupos de trabalho adiando a tomada de posições nos locais próprios", ataca Rodrigues àSÁBADO, considerando esta é uma forma de maquilhar a "falta de iniciativa política" da liderança.

Paulo Colaço, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) e autor também de uma proposta de revisão, congratula-se com a iniciativa de Rio. "Quem lida regularmente com os nossos estatutos sabe que temos várias regras que criam dúvida, preceitos pouco lógicos, normas em desuso e lacunas diversas", diz àSÁBADO, adiantando que quer voltar a apresentar as suas ideias sobre o tema.

António Rodrigues, que também tinha uma proposta, recusou fazer comentários. Mas aSÁBADOsabe que em Lisboa, a distrital a que pertence, já começaram as movimentações para apresentar uma proposta. Aí há críticos de Rio que temem "uma golpada" pela mudança das regras mesmo antes do fim do mandato. Restringir competências às distritais, criar congressos por via digital, "mais fáceis de controlar por quem está no poder", ou aumentar as exigências para a apresentação de candidaturas aos órgãos nacionais são medidas que cabem numa alteração estatutária e que a oposição interna receia que Rio possa pôr em prática.

Ainda assim, "estranheza" foi a palavra mais ouvida sobre o tema durante uma reunião alargada da distrital de Lisboa logo após o anúncio de Rio. "O mandato termina este ano, só se devia discutir estatutos depois", diz uma fonte da distrital lisboeta.

Mais a norte, a mudança de regras até é bem-vinda. "Há sempre coisas que precisam de ser revistas", diz à SÁBADO o líder da distrital do Porto, Alberto Machado. "Já era uma necessidade antiga fazer a revisão dos estatutos", concorda o líder da distrital de Coimbra, Paulo Leitão.

De resto, tal como estão, os estatutos podem já dar dores de cabeça na definição dos candidatos às principais câmaras. As regras mandam que a concelhia proponha o nome, a distrital aprove e a nacional homologue. Mas já há quem questione se o verbo "homologar" dá a Rio o poder – que Rio quer ter – de definir as candidaturas às capitais de distrito.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!

Gaza e a erosão do Direito Internacional

Quando tratados como a Carta das Nações Unidas, as Convenções de Genebra ou a Convenção do Genocídio deixam de ser respeitados por atores centrais da comunidade internacional, abre-se a porta a uma perigosa normalização da violação da lei em cenários de conflito.

Por nossas mãos

Floresta: o estado de negação

Governo perdeu tempo a inventar uma alternativa à situação de calamidade, prevista na Lei de Bases da Proteção Civil. Nos apoios à agricultura, impôs um limite de 10 mil euros que, não só é escasso, como é inferior ao que anteriores Governos PS aprovaram. Veremos como é feita a estabilização de solos.