Padres, autarcas e dirigentes do INEM integram uma lista crescente de pessoal não prioritário que já foi vacinado.
A Ordem dos Enfermeiros enviou um ofício à Procuradoria-Geral da República a questionar se o Ministério Público tem conhecimento dos vários casos de vacinas administradas a pessoas que não integram a lista de prioritários.
Pedro Simões
"Nos últimos dias chegaram à OE relatos de profissionais de Saúde que não estão incluídos nas listas de vacinação prioritária, de planos de administração da vacina com a inclusão de Enfermeiros como supletivos, de não profissionais de Saúde suspeitos de definirem pessoas ou grupos de pessoas a quem tem sido dado tratamento prioritário e ainda de pessoas não incluídas em qualquer grupo prioritário a quem já foi administrada a referida vacina", lê-se em comunicado enviado na quinta-feira, 28. "Não cabe à OE pronunciar-se sobre o que é ou não é crime, mas desde já se reserva ao direito de, sendo caso, vir a constituir-se Assistente."
Vários têm sido os casos nos últimos dias envolvendo autarcas, mas não só. OJornal de Negóciosdá hoje conta de que provedor da Santa Casa da Misericórdia de Trancoso, padre Joaquim Duarte, vários membros da administração dessa instituição, dois padres capelães ligados à mesma e quatro funcionárias de uma farmácia detida pela Misericórdia, uma delas irmã do delegado de Saúde do concelho em exercício e filha do presidente da câmara local, receberam a primeira toma da vacina apesar de não integrarem nenhum grupo prioritário.
Antes, a Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil (APROSOC) denunciara a vacinação de profissionais não prioritários no INEM, incluindo um assessor e amigo do seu presidente, Luís Meira, uma assessora jurídica e vários diretores. Para a APROSOC, "dezenas de vacinas foram usadas indevidamente privando médicos, enfermeiros e técnicos de saúde, entre outros elementos prioritários, de vacinação atempada, privilegiando um circuito de amizades".
Em comunicado enviado às redações esta quinta, o INEM informou que pediu vacinas apenas para profissionais prioritários, "tendo recebido as 1.174 doses de vacina anti-covid-19 Comirnaty® (Pfizer-BioNTech) solicitadas, que foram administradas a todos os profissionais prioritários que manifestaram interesse em ser vacinados". O pessoal não prioritário terá sido vacinados com doses que sobraram, uma vez que foram identificados profissionais prioritários que, afinal, "não preenchiam os critérios para poderem receber a primeira dose da vacina, de acordo com as indicações de segurança do fabricante (Pfizer), nomeadamente por apresentarem contraindicações, com diagnóstico ou presença de sintomas indicadores de covid-19, ou que tinham estado doentes com covid-19 há menos de 90 dias".
O ofício enviado pela Ordem dos Enfermeiros à Procuradoria-Geral da República representa o passo seguinte para quem vem denunciando situações semelhantes desde meados do mês. A OE reportou "pelo menos 15 situações entre 11 e 22 de janeiro", de acordo com oPúblico. O caso mais sonante terá sido o o do presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, que além de presidir ao município também integra a direção do lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS). Embora não faça parte da lista de grupos prioritários, Calixto foi vacinado contra a covid-19.
A situação foi denunciada peloExpresso, que noticiou que o autarca foi incluído na lista de pessoas a vacinar no lar aceite pelas autoridades de saúde responsáveis pelo processo. Segundo o semanário, o próprio José Calixto admitiu, numa resposta nas redes sociais, não preencher os requisitos para ter sido vacinado, mas disse considerar que "devia" pertencer aos grupos prioritários de vacinação.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a FMIVPS explicou ter indicado para serem vacinados "todos os utentes, funcionários, administrativos, técnicos e dirigentes que têm contacto regular direto com os utentes", e que essa comunicação foi dada em "obediência às indicações recebidas pelas autoridades de saúde e da segurança social".
"O critério recomendado pelas autoridades de saúde e consensualizado com a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) para definir o universo a vacinar foi o do contacto próximo e regular com os utentes, sendo expressa a necessidade de incluir os membros das direções das instituições que mantivessem esse contacto próximo", pode ler-se no comunicado.
ASÁBADOquestionou este manhã o Ministério da Saúde sobre que medidas vai implementar para garantir que as vacinas não sejam dadas a pessoas que não integrem os grupos prioritários, mas não obteve qualquer resposta.
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Quando tratados como a Carta das Nações Unidas, as Convenções de Genebra ou a Convenção do Genocídio deixam de ser respeitados por atores centrais da comunidade internacional, abre-se a porta a uma perigosa normalização da violação da lei em cenários de conflito.
Governo perdeu tempo a inventar uma alternativa à situação de calamidade, prevista na Lei de Bases da Proteção Civil. Nos apoios à agricultura, impôs um limite de 10 mil euros que, não só é escasso, como é inferior ao que anteriores Governos PS aprovaram. Veremos como é feita a estabilização de solos.
"O cachecol é uma herança de família," contrapôs a advogada de Beatriz. "Quando o casamento terminou, os objetos sentimentais da família Sousa deveriam ter regressado à família."