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Sanae Takaichi, motard fã de Tatcher e Iron Maiden, vai ser a primeira mulher a liderar o Japão

A presidente do PLD é uma conservadora que chegou a tocar bateria numa banda de heavy metal.

O Japão nomeou esta terça-feira Sanae Takaichi como primeira-ministra. A nacionalista vai ser a primeira mulher a ocupar este cargo na história do Japão. A câmara baixa do parlamento japonês nomeou Takaichi, de 64 anos, logo na primeira votação e a sua nomeação será oficializada quando se encontrar com o imperador Naruhito ainda esta terça-feira.

Sanae Takaichi, defensora de políticas conservadoras, vai liderar o Japão
Sanae Takaichi, defensora de políticas conservadoras, vai liderar o Japão EPA/EUGENE HOSHIKO / POOL

Takaichi herda um país numa situação política interna delicada e com vários problemas sociais, ao mesmo tempo que vai ter de lidar com uma situação internacional incerta. E já na próxima semana ai receber o presidente norte-americano, Donald Trump.

Uma fã assumida da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, apelidada de "Dama de Ferro", Takaichi não corresponde ao estereótipo típico de uma mulher conservadora. Em várias entrevistas a presidente do Partido Liberal Democrático (a coligação conservadora de direita no poder, quase ininterruptamente desde 1955) afirmou que uma das experiências mais enriquecedoras que teve foi quando comprou uma mota Kawasaki e nela percorreu centenas de quilómetros nas montanhas de Nara e em várias partes do Japão.

Nascida em 1961, Takaichi toca bateria e diz que tem dois ídolos: Margaret Thatcher e os Iron Maiden, a banda britânica de heavy-metal. Curiosamente a banda britânica teve duas capas de single em que aparecia a então primeira-ministra britânica. Em Sanctuary via-se a mascote da banda - Eddie - a esfaquear a conservadora e em Women in Uniform uma Margaret Tatcher armada com uma metralhadora prepara-se para se vingar da mascote.

Capa do single "Sanctuary", de 1980.
Capa do single "Women in Uniform", de 1980.
Capa do single "Sanctuary", de 1980.
Capa do single "Women in Uniform", de 1980.

Essa admiração por Tatcher fez com que Takaichi fosse apelidada de "Dama de Ferro", alcunha atribuída à antiga primeira-ministra britânica (era conhecida por "Iron Lady", mas também chegou a ser apelidada "Iron Maiden" - que era um dispositivo de tortura medieval).

Amigos entrevistados pelo jornal norte-americano referem que era uma rapariga reservada e sorridente e sempre disposta a ajudar os outros. De acordo com a amiga de infância Motoko Shimada, a recém nomeada primeira-ministra partilhava muitas vezes a sua marmita com colegas que se tinham esquecido de levar lancheira para as visitas de estudo.

Quando foi para a faculdade, estudar gestão de empresas, formou uma banda de heavy metal, influenciada pelos Iron Maiden e pelos Black Sabbath. Foi também nessa altura que decidiu comprar uma mota, uma Kawasaki Z400GP. Continuou a conduzir motas até ser eleita deputada, em 1993. Sentia que se colocava em perigos que a podiam impedir de cumprir as suas obrigações para com os eleitores.

Mas ainda antes de ser deputada passou pelos Estados Unidos, onde trabalhou como assistente no Congresso, no gabinete da democrata Pat Schroeder. De regresso ao Japão entrou na vida política e começou por ser eleita como independente. Depois integrou o Partido Liberal Democrata e ocupou vários cargos.

A nova líder do Governo do Japão prometeu um Executivo com um número de mulheres "à escandinava". Uma delas deverá ser Satsuki Katayama, ex-ministra da Revitalização Regional, que ocupará o cargo de ministra das Finanças, de acordo com a imprensa japonesa.

Na campanha, Takaichi disse esperar sensibilizar os japoneses para os desafios da saúde feminina, apesar de ser considerada uma conservadora de linha dura. Opõe-se à revisão de uma lei do século XIX que exige que os casais partilhem os seus apelidos e apoia uma sucessão imperial exclusivamente masculina.

O Japão está classificado em 118.º lugar entre 148 no relatório de 2025 do Fórum Económico Mundial sobre a disparidade entre os sexos e a câmara baixa do parlamento nipónico é exemplo disso mesmo, contando com apenas 15% de mulheres.

Em relação à economia, a nova primeira-ministra apoia uma flexibilização monetária agressiva e gastos fiscais significativos, ecoando as polémicas políticas "Abenomics" de Shinzo Abe, embora tenha suavizado a sua posição nas últimas semanas.

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