Nas últimas eleições, o partido Sanseito passou de um assento parlamentar na câmara alta japonesa para 15. O líder, Sohei Kamiya, diz admirar as políticas de Trump.
“Os japoneses em primeiro lugar” foi uma das frases que marcou a campanha do político japonês Sohei Kamiya, líder do partido Sanseito, que tem sido associado à extrema-direita e ao ultranacionalismo. Semelhante a um dos lemas usados por Donald Trump ("America First"), o slogan vai ao encontro das políticas de imigração e de antiglobalização defendidas pelo partido. De acordo com o Financial Times, Kamiya chegou a elogiar o "estilo ousado" do presidente dos EUA.
Sohei Kamiya, líder do partido SanseitoKyodo News via AP
O Sanseito começou por ter apenas um lugar na câmara alta do Japão, mas nas eleições para o parlamento, em julho deste ano, conquistou 15 dos 248 assentos. O Partido Liberal Democrático (PLD), do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, perdeu a maioria na câmara e terá agora que negociar com os partidos minoritários de oposição. Ishiba apresentou há duas semanas a demissão e as eleições internas devem acontecer em outubro.
Estes resultados contrariam a tendência no Japão, que é conhecido pela sua estabilidade política. O PLD governa quase continuamente desde a sua fundação em 1955, mas os últimos resultados revelam vontade de mudança por parte dos eleitores mais jovens.
A insatisfação com o governo parece estar relacionada com o aumento do número de imigrantes, que tem sido um dos assuntos mais discutidos no Japão: a população estrangeira do Japão atingiu os quatro milhões no início deste ano. Estes dados, assim como a desaceleração económica do país, a inflação e o aumento dos turistas - em 2024, 37 milhões de pessoas visitaram o país, de acordo com a Organização Nacional de Turismo - são apontadas como razões para o descontentamento. A população de cidadãos japoneses também caiu para 120,6 milhões, de acordo com dados governamentais.
"Se (a migração) ultrapassar 10% da população total, isso vai-se tornar um grande problema”, disse Kamiya, citado pelo jornal The Guardian. “Neste momento, a vida dos japoneses está cada vez mais difícil”, afirmou. O líder do Sanseito já foi acusado de xenofobia, mas negou que o país quisesse expulsar imigrantes. "Colocar os japoneses em primeiro lugar não significa expulsar os estrangeiros – algo de que fui acusado de apoiar. Trata-se, sim, de antiglobalismo”, referiu, citado pelo jornal inglês.
O político japonês também foi criticado depois de afirmar que as políticas de igualdade de género contribuem para que as mulheres tenham menos filhos. "É claro que as mulheres trabalharem é ótimo. Mas fomos longe demais com a mentalidade de que todos devem trabalhar", disse, citado pelo jornal japonês Asahi Shimbun. Por outro lado, sobre a globalização, afirmou durante um comício: “Se falharmos em resistir à pressão estrangeira, o Japão vai tornar-se numa colónia”. Kamiya tem vindo a argumentar que são necessárias mais restrições à imigração e o partido também defende um aumento dos gastos com a defesa e a remilitarização do Japão.
A origem do Sanseito
O partido Sanseito, que se traduz para "participe na política", foi criado por Sohei Kamiya, ex-gerente de supermercado e ex-militar das Forças de Autodefesa do Japão. Tudo começou em 2020, através da criação de um canal no Youtube, que ficou conhecido por espalhar teorias da conspiração sobre a covid-19 e as vacinas. Em 2022, Kamiya foi o único membro do seu partido a ser eleito para a câmara alta.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Talvez não a 3.ª Guerra Mundial como a história nos conta, mas uma guerra diferente. Medo e destruição ainda existem, mas a mobilização total deu lugar a batalhas invisíveis: ciberataques, desinformação e controlo das redes.
Ricardo olhou para o desenho da filha. "Lara, não te sentes confusa por teres famílias diferentes?" "Não, pai. É como ter duas equipas de futebol favoritas. Posso gostar das duas."