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Ramadão começa sem perspetiva de tréguas e com milhões de muçulmanos a lutar pela sobrevivência

Diogo Barreto
Diogo Barreto 11 de março de 2024 às 17:31
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Líderes muçulmanos esperavam que houvesse um cessar-fogo em Gaza antes do Ramadão, mas acordos não chegaram a bom porto.

O Ramadão é o mês em que muçulmanos se sentem mais próximos da sua fé. Mas milhares de palestinianos não vão poder cumprir este período em paz, apesar de umcessar-fogo ter estado à vistae dos líderes dos países árabes não desistirem de conseguir uma trégua entre Hamas e Israel.

REUTERS/Willy Kurniawan

As negociações entre representantes do Hamas, Egito, Qatar e Estados Unidos tentam ainda alcançar um acordo para um cessar-fogo e chegou a prever-se que seria fechado um compromisso antes desta segunda-feira, mas as negociações foram adiadas e só foram retomadas hoje, o primeiro dia do Ramadão. As partes envolvidas chegaram a tentar enviar a Israel uma nova proposta que exigia que os judeus cessassem os ataques contra a Faixa de Gaza uma semana antes do início da troca de reféns, e que retirasse definitivamente as suas tropas do enclave. Mas a verdade é que o Ramadão vai começar e se milhões de famílias muçulmanas pelo mundo começam a abastecer os frigoríficos e dispensas de comida para o fim do jejum, em Gaza implora-se por ajuda humanitária.

O Ramadão é um período em que os muçulmanos rezam em conjunto, fazem as refeições entre família e multiplicam os esforços para ajudar os mais necessitados. E neste Ramadão, muitas das preces serão dirigidas para os palestinianos em Gaza. Existem mais de dois mil milhões de muçulmanos pelo mundo fora. Os que cumprem um Ramadão mais restrito abstém-se de comer, beber, fumar ou manter relações sexuais entre o nascer e o pôr do sol ao longo de quatro semanas. O jejum tem como objetivo aproximar os praticantes da sua religião.

Pelo mundo árabe têm surgido apelos a boicotes amarcas que são vistas como "apoiantes" de Israel, como a McDonald’s ou a Starbucks, numa altura em que os lucros destas empresas costumam bater recordes nos países de maioria muçulmana. Em Jerusalém o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou na terça, 5 de março, que "na primeira semana do Ramadão, os fiéis serão autorizados a entrar no Monte do Templo em número semelhante ao dos anos anteriores".

A Esplanada das Mesquitas pode acolher até 400 mil pessoas, mas durante o Ramadão há centenas de milhares de muçulmanos que se dirigem à mesquita situada naquele que é um dos três lugares mais sagrados do islão, a par de Meca, onde se encontra a Caaba, ou pedra de Abraão, e de Medina, onde está a primeira mesquita construída por Maomé e o seu túmulo. Já para os judeus, aquele é referido como o Monte do Templo, local onde se situava o Templo de Salomão, cuja única parede sobrevivente é também um local de oração para muitos judeus.

A coexistência destes dois locais santos causou tensão. Netanyahu assegurara horas antes da decisão que faria todos os possíveis por garantir a liberdade de culto, mas o ministro da Segurança Nacional, o extremista Itamar Ben Gvir, criticou o primeiro-ministro, dizendo que a resolução "põe em perigo os cidadãos de Israel" e "mostra que Netanyahu e o gabinete [de guerra] limitado pensam que nada aconteceu a 7 de outubro".

Israel não participa diretamente nos encontros no Cairo, após o Hamas ter referido que ainda não conseguia disponibilizar uma lista dos reféns com vida, argumentando problemas logísticos. Diversas fontes referem que alguns dos 134 reféns estão na posse de outros grupos ou milícias que permanecem incomunicáveis no enclave, e que mais de 30 estarão mortos.

O Ramadão dura entre 29 e 30 dias, sendo o nono mês do calendário islâmico que, por ser lunar, desloca todos os anos a época em que este mês é assinalado. O Ramadão foi o mês em que o Alcorão foi revelado a Maomé, diz a tradição islâmica. 

Pedidos de cessar-fogo estendidos ao Sudão

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um apelo para que o Ramadão fosse um momento de paz também no Sudão. "Dentro de alguns dias, começa o mês sagrado do Ramadão. Por isso, hoje, a partir desta tribuna, lanço um apelo. Apelo a todas as partes no Sudão para que honrem os valores do Ramadão, cessando as hostilidades", declarou numa reunião do Conselho de Segurança, na semana passada.

Os combates, que decorrem desde 15 de abril de 2023 entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF), do general Mohammed Hamdane Daglo, antigo segundo comandante das forças armadas, causaram milhares de mortos neste país onde os muçulmanos são uma grande maioria.

O vice-embaixador britânico James Kariuki apresentou um projeto de resolução do Conselho que apela a "um cessar-fogo imediato antes do mês sagrado do Ramadão e apela às partes para que permitam o acesso sem entraves da ajuda humanitária através das fronteiras e das linhas da frente". Metade da população do Sudão precisa de ajuda humanitária para sobreviver, sendo que cerca de 18 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar aguda, de acordo com o embaixador britânico.

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