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Quatro ataques nas ruas em apenas uma semana. A que se deve esta onda de violência?

Luana Augusto
Luana Augusto 01 de junho de 2025 às 10:00
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Em apenas uma semana decorreram quatro ataques: em Washington, Hamburgo, Liverpool e Filadélfia. À SÁBADO dois psicólogos explicam o que poderá proporcionar este tipo de comportamentos.

Quarta-feira, 21 de maio. Há pouco mais de uma semana, dois funcionários da embaixada de Israel nos Estados Unidos erammortos a tirosà saída do Museu Judaico, em Washington. O atacante, de 31 anos, foi identificado como sendoElías Rodrígueze segundo o FBI, terá levado a cabo este crime devido a motivações políticas e religiosas.

AP Photo/Jon Super

Dois dias depois, pelas 17h05 de 23 de maio, seguia-se um ataque com faca na estação de comboios de Hamburgo, Alemanha, que terá ferido pelo menos 18 pessoas. O atacante foi identificado como sendo uma mulher de 39 anos. O que a levou a atacar dezenas de pessoas? Motivações políticas.

Chegávamos a 26 de maio. Eram 18 horas quando um carro atropelou cerca de 47 adeptos no Reino Unido, durante os festejos da vitória da Premier League do Liverpool. O condutor foi detido quase de imediato e tratava-se de um homem britânico de 53 anos, que estaria sob o efeito de drogas. As suas motivações não foram, no entanto, conhecidas, estando afastada a ideia de terrorismo e de motivações políticas ou religiosas.

No mesmo dia, durante a noite, um tiroteio em Filadélfia, Estados Unidos, deixava dois mortos e feria outras nove pessoas, incluindo três adolescentes. Neste episódio não foram conhecidas as identidades dos atacantes nem as suas motivações.

Já a 31 de maio um carro atropelou várias pessoas em Leicester, tendo deixado pelo menos quatro feridos.

A que se deve esta onda de violência?

Estes cinco ataques correram os noticiários de todo o mundo, deixando muitos a pensar: "Quando será o próximo?" Questionada pela SÁBADO sobre a que se deve esta onda de violência extrema, a psicóloga Melanie Tavares alerta para a possibilidade destes poderem estar a influenciar outros atacantes a praticarem o mesmo tipo de crimes.

"Um ataque desta escala pode sempre influenciar outros indivíduos que partilham da mesma ideologia a cometerem este tipo de crimes. Neste sentido, os atacantes têm um papel de herói e encorajam outros a assumir o mesmo papel", começou por explicar.

Segundo esta psicóloga, "todos nós temos níveis de agressividade que nos permitem ter um instinto de sobrevivência, mas quando são mal geridos essa violência pode ser dirigida contra os outros". Além disso, a impossibilidade de distinção da realidade do virtual também pode explicar estes sucessivos ataques.

"Está a haver uma dificuldade quer nos jovens, adultos ou crianças de fazerem uma distinção do que é a realidade e o virtual, e isso desperta mais esse tipo de atitudes."

Isso não significa, no entanto, que as redes sociais tenham um impacto direto na forma de agir, esclarece o psicólogo clínico, Francisco Valente Gonçalves. "É mais fácil ser violento com alguém que já não reconhecemos como humano. Esse processo pode ser subtil e muitas vezes é reforçado pela exposição repetida a conteúdos violentos, principalmente em ambientes online", começou por considerar.  "Não quer dizer que as redes sociais causem violência diretamente, mas amplificam certos padrões de pensamento e isolamento emocional."

Francisco Valente Gonçalves, que é também professor auxiliar de Psicologia na Universidade Europeia, aponta ainda para uma terceira justificação para este tipo de atos. "Muitas pessoas em sofrimento começam a construir uma narrativa em que o mundo está contra elas, em que são vítimas de injustiça ou humilhação. E quando essa visão do mundo se cristaliza, a violência pode começar a parecer uma resposta lógica, coerente e até legítima contra as 'injustiças' que são observadas e sentidas."

Problemas de saúde mental têm vindo a agravar-se

Os problemas de saúde, que se poderão estar a agravar em todo o mundo desde a pandemia, também podem explicar alguns destes episódios. 

"Estamos com problemas de saúde mental gerais e graves e isso acontece porque também se tem investido muito pouco na saúde mental", aponta a especialista que é também coordenadora do Instituto de Apoio à Criança (IAC). "As pessoas estão cada vez mais isoladas e com pouco contacto humano. Estamos a viver cada vez mais com os computadores e a diminuir a capacidade de empatia e de afeto e isso é transversal a várias faixas etárias."

Neste momento existem ainda poucos estudos que possam comprovar este agravamento dos últimos anos. A Organização Mundial da Saúde estimava em 2019 que mil milhões de pessoas em todo o mundo - incluindo 14% dos adolescentes - viviam com um transtorno mental. Já segundo a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental aponta para que mais de um quinto dos portugueses sofra de alguma perturbação psiquiátrica.

Como podemos, então, atenuar estes problemas? Melanie Tavares responde: "Estes problemas devem ser trabalhados do ponto de vista da prevenção. Deve haver mais adultos disponíveis nas escolas a trabalhar a atitude das crianças para mais tarde não terem este tipo de problemas. Têm de trabalhar mais os afetos, o respeito pelo outro e a capacidade de empatia", defende.

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