Sábado – Pense por si

Os imbróglios jurídicos de Joana Ramirez com a família Coutinho

As mais lidas

Advogada é acusada de ter vendido cinco imóveis da família Coutinho sem o seu conhecimento, sendo que um deles estava avaliado em €400 mil e terá sido concedido ao irmão por €30 mil. No processo em que é arguida há mais de 10 anos é também acusada de se ter apoderado de dinheiro dos clientes, das empresas Coutinho.

Terá vendido moradias avaliadas em €150 mil por apenas €10 mil sem o consentimento dos donos, e concedido uma quinta em Marco de Canaveses de €400 mil ao seu irmão por apenas €30 mil. Joana Ramirez, mais conhecida como “advogada do jet set” e que esta semana foi notícia por , é acusada de ter despachado cinco imóveis da família Coutinho e levado as suas duas empresas à falência, deixando-os lesados em vários milhões de euros. Além do dinheiro perdido com todos estes imóveis, cujos valores rondavam os €20mil e os €400 mil, foram várias as obras de arte de “valor incalculável" que também terão ficado pelo caminho. 

Advogada Joana Ramirez é acusada de burla e falsificação pela família Coutinho
Advogada Joana Ramirez é acusada de burla e falsificação pela família Coutinho DR

“Em junho de 2013 a minha tia foi a uma dessas casas para ver o correio e uma vizinha disse-lhe que a casa já não pertencia à minha avó. Só descobrimos que tínhamos sido burlados um ano depois”, conta à SÁBADO António Pereira Coutinho, cuja sua família avançou com um processo contra Joana Ramirez, acusando-a de burla e falsificação de documentos.

Tudo começou quando a advogada, que sofre de doença mental, entrou numa das empresas da família Coutinho, em 2010. Na altura, Joana Ramirez trabalhava para esta família há apenas dois anos quando terá dado o seu primeiro golpe. Foi acusada de ter falsificado a assinatura da avó de António Pereira Coutinho em procurações, vendendo o seu património sem o seu consentimento e ficando com o dinheiro.

“A minha avó tinha um andar em Lisboa que queria vender e duas heranças, e pediu à Joana para resolver a venda das casas. Quando a minha avó assinou um documento ela não o leu em voz alta. Viemos depois a perceber que ela mostrou-nos um documento e apresentou outro completamente diferente no Notário”, conta António Pereira Coutinho.

Joana Ramirez, advogada, acusada de lesar família Coutinho em vários milhões de euros
Joana Ramirez, advogada, acusada de lesar família Coutinho em vários milhões de euros DR

No decorrer de todo este processo contra Joana Ramirez, a família Pereira Coutinho queixa-se de ter perdido, "por causa das dificuldades", casas em Cascais e no Porto. “A casa em Cascais valia €800 mil e a moradia no Porto valeria €700 mil."

Houve até quem tivesse comprado casas à advogada sabendo que se tratava de uma burla. "Um senhor comprou uma casa a saber que era uma burla e disse que o fez para obter lucro e vendê-lo ao preço real dos imóveis", garante.

Feitas as contas, a advogada terá lesado esta família em vários milhões de euros. Não só as suas casas terão sido vendidas sem o seu consentimento, como também terão sido feitos vários levantamentos de dinheiro de contas. “Só da conta da minha avó ela levantou milhares de euros." Na altura, também Aurora Neves acusou Joana Ramirez de se ter aproximado dela por interesse e de ter tentado ficar com €87.500 que não lhe pertenciam.

Empresas falidas

Os alegados crimes contra a família Coutinho, que mais de 10 anos depois ainda são discutidos em tribunal, não se ficaram por aqui. A advogada é acusada de ter levado duas das suas empresas à falência. Uma delas, até chegou a receber propostas de compradores para ser adquirida por "€12 milhões".

“Em 2010, quando a Joana já se tinha divorciado do Vasco [filho do dono da empresa de conservas Ramirez], ela quis conhecer o meu pai. Na altura, ele já tinha advogados, mas no sentido de a ajudar – porque ela se vitimizava muito ao dizer que o ex-marido a deixou mal – ficou secretária dele."

No início de 2012, o pai de António Pereira Coutinho acabou por descobrir que a gestora da sua empresa Assistente - Fiscalização Preventiva de Géneros Alimentícios, LDA. "abriu uma empresa paralela, que ainda hoje funciona, e pediu a insolvência da nossa". Neste caso, Joana Ramirez foi acusada de ser  “coresponsável pela burla da gestora, que montou uma empresa paralela com o nome de FPHS - Fiscalização Preventiva, LDA.”

Além da advogada ter alegadamente participado neste esquema, ainda terá conseguido lesar os clientes de uma segunda empresa, a CND - Companhia Nacional de Desinfeções, em "mais de €400 mil". "O meu pai namorava com a estilista Fátima Lopes quando descobriu que a [então] gestora tirava ordenados acima da média. Na altura, Joana Ramirez propôs que ela fosse demitida e em janeiro de 2013 o meu pai deu-lhe poderes de gestão. Viemos depois a descobrir que entre janeiro e agosto ela não pagou os salários aos funcionários, nem a água e a luz, e apoderou-se do dinheiro dos clientes que se traduziu em mais de €400 mil.” 

A família ainda tentou recuperar esta empresa, mas esta foi declarada insolvente. “Quando tentámos retomar o poder da empresa, os funcionários, que estavam obviamente revoltados, juntaram-se e pediram a insolvência da empresa.” 

Ramirez levou uma máscara de gás para julgamento e foi internada

Desde então, já se passou mais de uma década e o caso ainda continua em tribunal. A advogada está atualmente envolvida em "quatro processos" judiciais, segundo António Pereira Coutinho. Num deles, é ela que exige aos Coutinho €371.261,20 em honorários e despesas pelos serviços prestados entre outubro de 2012 e setembro de 2013. Contudo, na semana passada, as autoridades concluíram que a advogada sofre de doença mental e internaram-na numa ala psiquiátrica no Porto, abrindo hipóteses para que o processo fique estagnado.

Joana Ramirez na última sessão de julgamento com a máscara de gás ao lado
Joana Ramirez na última sessão de julgamento com a máscara de gás ao lado DR

"Este internamento aconteceu no âmbito de um processo que ela meteu contra o nosso advogado, porque ela mete processos contra todas as pessoas que vão contra ela. Ela chegou ao julgamento a dizer que ia ser gaseada, porque diz que foi uma cabala montada pelo ex-marido, e pediram uma consulta para que ela fosse avaliada."

E acrescentou: "Há quem tema pela sua segurança. Uma vez numa audiência ela disse que ia fazer justiça com as próprias mãos e que sabia onde a minha família morava. A minha tia depois deixou de ir às sessões de julgamento por causa disso. Tinha medo dela."

Joana Ramirez já terá confessado, segundo António Pereira Coutinho, a venda de dois "quinhões hereditários e a quinta do Marco de Canaveses" alegando que "guardou o dinheiro caso quiséssemos fazer contas" e num dos casos terá dito até que "nos entregou um saco com dinheiro". Negou, no entanto, ter levado as empresas da família Coutinho à falência. "Esta senhora não tem nada para nos devolver. Ela gastou tudo num Range Rover e num Mini Cooper que ela comprou para a mãe."

SÁBADO contactou a advogada de Joana Ramirez, Dolores C. Rodrigues, que passou a assumir este processo apenas no dia 15 de outubro deste ano, mas esta disse não estar autorizada a comentar.

Tendo em conta o atual estado de saúde de Joana Ramirez, António Pereira Coutinho teme não conseguir recuperar os investimentos da sua família. "Acredito que com este internamento se possa dar o caso da Joana ser inimputável e não ser condenada”. E aponta para os impactos que todo este processo está a ter nas suas vidas. "A minha avó desenvolveu demência por causa disso."

Artigos Relacionados

As histórias de Balsemão

Em 88 histórias (tantas quantos os anos de vida), traçamos o retrato de Francisco Pinto Balsemão. E ainda: violência e assédio sexual; pessoas que sofrem com a Covid longa.