Perante a guerra, a líder bloquista argumentou que a União Europeia tinha armamento suficiente, enquanto o dirigente socialista reforçou a necessidade de investir na área. Em nada estiveram alinhados, nem nas respostas ao problema crónico da habitação.
Foi um Pedro Nuno Santos cordato, sem a impulsividade habitual, que se revelou no debate desta noite de terça-feira (8 de abril), na SIC. Em contraponto ao líder do Partido Socialista (PS), Mariana Mortágua manteve o registo acutilante, de medidas mais extremadas a favor do Estado Social e afastadas da política de defesa perante a guerra na Europa. E neste tópico, a representante do Bloco de Esquerda (BE) reiterou que a União Europeia (UE) tem três vezes o orçamento da Rússia para armamento.
Ruben Sarmento
A abrir o frente-a-frente, a coordenadora do BE e o líder do principal partido da oposição falaram sobre a defesa no quadro da NATO e da UE. Mariana Mortágua frisou que a UE não está "indefesa" e que é uma "irresponsabilidade" dizer que são necessárias mais armas, "desviando" os fundos previstos para o combate às alterações climáticas.
O candidato socialista argumentou, sem exaltar-se, que Portugal precisava de mais autonomia, ainda estava longe dos 2% do PIB destinados à defesa e que seria "impensável" colocar-se à margem dos restantes estados-membros. Isto porque era "essencial" investir na defesa para a preservação da UE.
Seguiu-se mais um tema sensível, há muito por resolver: a falta de habitação para a classe média. Se para Pedro Nuno Santos, a solução passa pelo aumento da oferta do parque público (mas a demora na construção não acompanha a procura); para Mariana Mortágua a resposta a curto prazo, face às necessidades, está em limitar os preços do arrendamento (num tecto máximo, à semelhança do modelo holandês). E reforçou: "Se há dinheiro, tem de ir para os serviços públicos como a habitação." A bloquista acredita que, hipoteticamente, um senhorio não deixaria uma casa vazia se tivesse um limite de preço no arrendamento.
A guerra comercial das tarifas, lançada por Donald Trump (presidente dos Estados Unidos), e que pode vir a criar uma recessão económica mais grave do que a de 2008 foi abordada - mas de passagem. Para atenuá-la, Pedro Nuno Santos sugeriu que as empresas nacionais olhassem para outros mercados de exportação, como a América do Sul e África. Mariana Mortágua apontou a "jogada de poder" de Trump e, como tal, a necessidade de apoiar a tesouraria das empresas que mais sofrem com o impacto da retaliação norte-americana.
Em nada os candidatos estiveram alinhados, mas mantiveram um debate civilizado. Questionados sobre a imigração, o líder socialista defendeu que a mesma fosse regulada; enquanto a adversária preferiu salientar o "desastre administrativo" que foi a criação da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).
Por fim, o apelo ao voto. Pedro Nuno Santos apresentou-se como uma alternativa à Aliança Democrática (AD) e pediu que não houvesse dispersão de votos. Mariana Mortágua reagiu: "Quem fica à frente não resolve." Para a candidata, a verdade está em baixar os preços da habitação e taxar as grandes fortunas.
O embaraço: Ainda que o debate fosse civilizado, Mariana Mortágua queixou-se, por diversas vezes, de ter sido interrompida pelo adversário. A certa altura, vitimizou-se ao dizer que tentam "descredibilizar os princípios da esquerda."
KO: Quando Pedro Nuno Santos disse que o Bloco de Esquerda estava fora da corrida, com uma frase lapidar. "O BE não corre o risco de assumir funções governativas."
Pinóquio: De facto, o PS não cumpriu a meta a que se propôs em 2018, de criar casas para 26 mil famílias com rendimentos inferiores a 1.700 euros por mês até 2024.
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