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Biden disse que Putin era um assassino. O russo desejou-lhe "saúde"

Diogo Barreto
Diogo Barreto 18 de março de 2021 às 13:54
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Um relatório revelou que a Rússia tentou interferir nas eleições norte-americanas de 2020 e Biden disse que Putin ia "pagar o preço". Moscovo chamou o embaixador dos EUA para discutir relações.

Joe Biden, o presidente dos Estados Unidos da América, afirmou esta quarta-feira que considerava que o presidente russo, Vladimir Putin, era "um assassino" e ameaçou sanções contra o líder europeu por se ter envolvido nas eleições norte-americanas. Putin já retaliou, chamando a Moscovo o embaixador dos EUA para consulta sobre o futuro das relações entre os dois países que parecem estar no fio da navalha de novo.

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Durante uma entrevista à ABCesta quarta-feira, um jornalista questionou a Biden se ele achava que o presidente russo é "um assassino", ao que o chefe de Estado norte-americano respondeu que sim.

Durante a entrevista foi ainda referida a descoberta levada a cabo pelos serviços de inteligência norte-americanos que revelaram ter descoberto um documento que confirma as suspeitas de que Putin esteve diretamente envolvido no plano para alterar o curso das eleições norte-americanas em 2020. O obejtivo dessa campanha seria denegrir a imagem de Joe Biden para que Donald Trump fosse de novo eleito. O mesmo aconteceu em 2016, quando páginas de desinformação russa tentaram denegrir Hillary Clinton para dar vitória ao seu adversário.

As suspeitas contidas no relatório já tinham sido levantadas por John Ratcliffe - que serviu como Diretor de Inteligência Nacional na administração Trump - em outubro do ano passado. "Identificámos dois atores estrangeiros, Irão e Rússia, que tomaram ações específicas para influenciar a opinião pública em relação às nossas eleições" disse na altura o diretor nacional dos serviços secretos, ainda durante a administração Trump.

Mas segundo os serviços secretos norte-americanos, o Kremlin tentou mesmo influenciar figuras próximas de Donald Trump a divulgarem informações falsas sobre Biden, incluindo Rudy Giuliani, antigo advogado do ex-presidente norte-americano, que durante a campanha eleitoral fez várias declarações a tentar envolver Biden e a sua família em escândalos de corrupção na Ucrânia. 

Já o Irão tentou influenciar as eleições presidenciais, mas, ao contrário de Moscovo, Teerão tentou prejudicar Trump e favorecer Biden, concluíram os serviços secretos norte-americanos. Uma das estratégias seguidas pelo Irão terá sido o envio de cartas com ameaças a eleitores democratas, atribuindo-as aos Proud Boys, grupo de direita radical apoiante de Donald Trump.

Mas as conclusões do relatório referem que estas operações externas não influenciaram os resultados eleitorais.

Em resposta a estas descobertas, Joe Biden assegurou que Putin "vai pagar o preço" por se intrometer nos assuntos internos dos EUA. Esta quinta-feira de manhã, Putin, confrontado com as declarações de Biden, desejou "saúde" ao presidente norte-americano e acrescentou que "as pessoas costumam ver as outras como na verdade se estão a ver a si próprias". "Sobre as declarações do meu homólogo norte-americano, nós estamos mesmo, como ele disse, familiarizados. O que é que eu lhe diria? Mantenha-se saudável. Eu diria: Desejo-lhe saúde", disse Putin citado pelaBloomberg.

Informou ainda que em janeiro teve uma longa conversa, ao telefone, com Putin durante a qual terá dito ao seu homólogo: "Eu conheço-o e você conhece-me. Se eu comprovar que isto aconteceu, esteja preparado". O líder russo terá respondido: "Estamos entendidos".

Em comunicado, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros confirma que chamou o embaixador nos EUA, Anatoly Antonov, para discutir o futuro das relações com os Estados Unidos. O objetivo desta decisão, lê-se, é evitar que as relações bilaterais se degradem de forma irreparável. "Estamos interessados em prevenir a degradação irreversível se os americanos reconhecerem os riscos envolvidos".

Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, criticou o que considera ser um relatório "absolutamente infundado" e criticou ainda a postura da nova administração americana.

No entanto, Biden garantiu que existem áreas em que os dois países podem colaborar, como o acordo nuclear New START.

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