Israel ainda quer acabar com o Hamas
O cessar-fogo e a troca de reféns mostrou uma organização que, afinal, resiste. Mas o governo israelita não desistiu de um dos objetivos da guerra: garantir que Gaza não será no futuro dominada pelos herdeiros de Sinwar. Israel fez "um acordo com o Diabo", fiz fonte oficial.
"A guerra não é do interesse de Israel, mas somos realistas. Israel não terá um horizonte de paz enquanto o Hamas estiver no poder. E por isso o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros reiteraram recentemente que estão comprometidos com os objetivos da guerra", diz fonte oficial israelita. Que recorda, ainda, quais eram esses objetivos, definidos no início da ofensiva em Gaza, há mais de um ano: "Libertação de todos os reféns, remoção das capacidades de governo e militares do Hamas, e acabar com a ameaça vinda de Gaza a Israel e aos seus cidadãos". Se o último parece praticamente conseguido, os dois primeiros nem tanto. Daí a necessidade aparente de os reiterar.
O discurso oficial e oficioso do executivo israelita, nos contactos em que tenta balizar a sua posição sobre o cessar-fogo em curso e sobre o que se segue, recentrou-se no Hamas. O que tem implicações sobre o futuro imediato na segunda fase das negociações do acordo, prestes a arrancar.
A mesma fonte indica, por exemplo, que o próprio início do cessar-fogo mostra que "esta é uma entidade em cujos líderes não se pode confiar" e "que se alguma coisa pode correr mal, vai correr mal com o Hamas". As queixas são para com os incumprimentos formais dos termos acordados entre as partes: "O Hamas estava obrigado a dar o nome das reféns a libertar no sábado, às 16h, e só o fez no domingo, às 11h15; o Hamas também não deu a lista total de reféns e do estado de saúde em que se encontram, o que é torturar as famílias dos reféns". E a forma como a devolução dos reféns tem ocorrido é também criticada pelas autoridades israelitas. A mesma fonte oficial aponta à "encenação, em palco", em Gaza, antes da entrega, e à forma como a refém Doron Steinbrehcer passou de um carro do Hamas para outro da Cruz Vermelha rodeada de terroristas armados e encapuzados, "vê-se o medo nos olhos dela". E também deixa claro que alguns abusos não têm sido revelados porque "há questões de privacidade", embora uma das reféns libertada tenha feito publicamente referências a abusos sexuais. Israel "fez um acordo com o Diabo", resume.
A nova ênfase no Hamas coloca questões sobre as futuras negociações. Enquanto a primeira fase de cessar-fogo, a libertação de 33 reféns trocados por presos palestinianos e entrada de ajuda humanitária em força [dados do governo apontam para 4.200 camiões entrados numa semana] deverá decorrer até março, a segunda, que contempla os restantes reféns e uma retirada de Israel da Faixa de Gaza, deveria começar aos 16 dias a partir do arranque da primeira, mas surge envolta em enormes dúvidas.
"O Hamas também oprime a população palestiniana. Já terão visto filmes em que atiram contra os joelhos, e não é contra judeus, é contra palestinianos. O Hamas em controle é algo que não pode continuar" no futuro, ainda que isso obrigue às chamadas "soluções criativas", explica o mesmo responsável. Essa solução poderia eventualmente envolver outros estados que não Israel - que não mostra interesse em permanecer a governar Gaza - mas sem concretização dos modelos em que isso poderá acontecer.
Para já, esta quinta-feira, dia 29, deverão ser libertados mais três reféns israelitas, entre os quais Arbel Yehoud, a rapariga civil que deveria ter sido libertada no sábado passado, mas que o Hamas retirou da lista à última hora, desencadeando preocupações sobre o seu estado de saúde. As mesmas que recaem neste momento sobre a família Bibas e os dois irmãos, um de cinco outro de um ano (já feito como prisioneiro em Gaza), que fazem nominalmente parte do primeiro lote de reféns a libertar, mas que sem data ou informação concreta sobre como se encontram.
A SÁBADO viajou a convite da embaixada de Israel em Portugal
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Boas leituras!