O 7 de Outubro mudou o páis e estilhaçou ilusões sobre a convivência com os vizinhos, mesmo entre quem já acreditou muito nela. Porque o trauma continua à flor da pele. Relatos de quem viveu o terror e já não fala em paz, mas em conseguir em segurança
"Eram como irmãos, eram almas gémeas. Tinham 24 anos. E foi aqui que respiraram pela última vez”: Hila Abir aponta para um autocolante no abrigo antimíssil em betão. Lá dentro, morreu o irmão, Lotan, e a amiga Mai, que tinham ido ao festival Supernova. Hila sabe exatamente o que aconteceu ali, porque tem o testemunho de um amigo que sobreviveu, viu um filme do abrigo, e porque esteve algum tempo em contacto com o irmão, por telefone, desde que ele ali entrou, por volta das 7h45. Lotan dizia-lhe: “Não há polícia, não há exército, ninguém nos protege. Essas foram as últimas palavras que me disse.” A amiga, Mai, ligou a um tio, a quem disse que estavam a disparar contra eles e para dentro do abrigo. Tinha um corpo no colo. A cada 20 minutos, em idas e vindas, os terroristas lançavam uma granada para dentro do abrigo para 10 pessoas, mas onde onde estavam 40. Sobreviveram 12, por baixo dos corpos dos outros. Um deles foi Yuval Raphael, que ganhou agora o concurso para representar Israel na Eurovisão. “Esteve aqui oito horas.” Na quarta-feira de manhã, Lotan e Mai foram a enterrar, mas Hila não viu o corpo. O exército avisou que seria melhor recordá-lo com o sorriso que tinha em vida. E a vida de Hila deu uma reviravolta de 180 graus. Trabalhava na empresa familiar de construção, com o pai, tinham projetos em curso em Telavive – e até pensavam construir em Lisboa –, mas fecharam-na. Agora é ativista. Hila não fala de paz, fala de segurança, e os dois conceitos não coincidem. O seu moto é uma espécie de nie wieder adaptado: “Quero saber o que aconteceu, precisamos de saber porque aconteceu, para ter a certeza de que nada disto acontece outra vez. Acho que o exército não fez a coisa certa, e o Governo não fez a coisa certa.”
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.