BCE pediu para se ter dinheiro em casa, diversificar investimentos e investir em empresas europeias, além do abrandamento das taxas de juro em menos de um mês. Especialistas ajudam a decifrar a estratégia do banco central europeu.
Nas últimas semanas o Banco Central Europeu (BCE) recomendou aos cidadãos que tenham sempre algum dinheiro físico para "responder a crises", decidiu colocar um travão na queda das taxas de juros na Zona Euro (estagnou nos 2%) e os analistas preveem que a probabilidade de um novo corte das taxas de juro até ao final do ano seja apenas de 50% e apelou ainda aos cidadãos europeus que invistam em empresas europeias e diversifiquem os seus investimentos. São muitos alertas vindos do banco central e especialistas dizem à SÁBADO que podem ser interpretados como um aviso para que se comece a apertar os cintos para um futuro onde há apenas uma certeza: estará cheio de incertezas.
BCE recomenda dinheiro físico para crises, prevê incertezas e sugere investir em empresas europeias
Bárbara Barroso, diretora-executiva do MoneyLab e especialista em finanças pessoais, lembra que o alerta sobre ter sempre dinheiro "líquido" surgiu na sequência da publicação de um estudo [Keep calm and carry cash - Mantenha a calma e ande com dinheiro] que analisou diferentes episódios de crise recentes e concluiu que, nesses momentos, o dinheiro físico ganhou relevância. "A recomendação para que as famílias mantenham algum numerário disponível deve ser entendida como uma medida preventiva", explica Barroso, explicando que por crises entende-se falhas tecnológicas (como o apagão que afetou a Península Ibérica em abril), catástrofes naturais ou instabilidade geopolítica. "O numerário continua a ser o meio de pagamento mais imediato e de fácil utilização", recorda Barroso.
Já Nuno Rico, da DECO PROteste, encontra uma ligeira ironia nesta nova recomendação do BCE. "Durante muito tempo falou-se da importância de adotar o Euro Digital para agora o BCE vir sublinhar a importância de manter dinheiro físico", alerta o especialista. O projeto do euro digital representa uma das iniciativas mais ambiciosas do BCE para preservar a soberania monetária europeia e tem um lançamento previsto para 2029. E sobre a quantia a ter em numerário em casa? Nuno Rico diz que as opiniões divergem e que há quem sugira que cada família deve ter o suficiente para 72 horas e quem sugira que é bom ter o equivalente ao que se gasta numa semana. Portanto, numa família que tenha despesas mensais na ordem dos 1.200 euros, aconselha-se a que se tenha entre 120 e 400 euros em dinheiro vivo em casa.
Já sobre as taxas de juro, Bárbara Barroso refere que a decisão de manter os níveis atuais "traduz a evolução positiva da inflação, embora persistam riscos" e que as famílias devem exercer uma disciplina financeira apertada. "A prioridade deve passar por uma boa gestão do orçamento, por evitar créditos desnecessários, pela manutenção de um fundo de emergência adequado e pela diversificação do investimento", sugere.
Período de incerteza, com certeza
Nuno Rico sublinha que o período pelo qual a Europa passa é de grande incerteza e com semelhanças a tempos de má memória. "Existem conflitos militares na Europa e no Médio Oriente, dificuldades económicas que se fazem sentir em grandes economias europeias como França e Alemanha e assistimos até a uma inversão do ciclo de taxas de juro, tendo terminado a descida das mesmas", começa por elencar. Mas em simultâneo tem-se verificado um grande crescimento do ponto de vista bolsista o que contribui para um contexto de "alta volatilidade e muita incerteza" e o BCE está então a "enviar avisos à população em diversas áreas".
"Na verdade temos uma situação que em certos pontos se assemelha ao que se viveu com a crise de 2011 e que teve origem na crise das subprime que começou em 2007 e se prolongou até 2009 e que depois deu origem à crise das dívidas soberanas", analisa o especialista da DECO. "Os mercados financeiros têm vindo a crescer de forma significativa há muito tempo e o mercado europeu está sobrecarregado com a questão do mercado imobiliário", diz. Ou seja, existe um risco de rebentar da bolha especulativa no imobiliário que pode levar a uma descida significativa dos preços das habitações.
E, acrescenta Nuno Rico, há também o problema do maior endividamento das famílias europeias devido ao preço dos imóveis. "E em Portugal esse endividamento é particularmente preocupante", sublinha, lembrando que a DECO tem vindo a avisar para esta questão nos últimos tempos.
Mas em caso de crise, nem tudo é negativo, assegura Nuno Rico, afirmando que tanto o setor financeiro como as instituições da sociedade parecem estar mais bem preparadas do que nas grandes crises anteriores.
Há então motivos para apertar o cinto? "Mais do que apertar o cinto, trata-se de consolidar práticas financeiras saudáveis que permitam lidar com diferentes cenários económicos", sublinha Bárbara Barroso.
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