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Incêndio no Prior Velho. Relatório de peritagem aponta falhas na atuação dos bombeiros

Ana Leal
Ana Leal 03 de dezembro de 2024 às 07:20
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O relatório a que a SÁBADO teve acesso em exclusivo, não poupa críticas à actuação dos bombeiros, acabando por ilibar responsabilidades por parte da empresa que recolhia e guardava os veículos dos passageiros que tinham viajado e ali tinham deixado os seus carros.

Quatro meses depois doincêndio que consumiu um parque de estacionamentono Prior Velho, que destruiu mais de 200 carros, é conhecido o relatório de peritagem do Centro Pericial de Acidentes do INEGI-Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial.

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O documento a que a SÁBADO teve acesso em exclusivo, não poupa críticas à atuação dos bombeiros, acabando por ilibar responsabilidades por parte da empresa que recolhia e guardava os veículos dos passageiros que tinham viajado e ali tinham deixado os seus carros. "A estratégia de combate ao incêndio consistiu na projeção de água em direção às chamas, esta estratégia não foi a mais eficaz, uma vez que a água teve um efeito contrário ao desejado, projetando as chamas", pode ler-se.

O relatório vai mais longe ao referir que poderia ter sido adotada uma estratégia alternativa, que passasse pelo bombeamento de água para cima dos veículos ainda não afectados, de forma a baixar a sua temperatura e consequentemente diminuir a probabilidade de entrarem em combustão.

A perícia chega mesmo a desmentir o que vem mencionado no relatório de ocorrência apresentado pelos Bombeiros Voluntários de Sacavém, quando menciona que o espaço entre veículos era inferior a 30 cm, dificultando assim a passagem de linhas de mangueiras de combate. Segundo o relatório a que a SÁBADO teve acesso, tal não se verificou. "Existem várias zonas com espaçamento entre veículos superior a 30 cm, verificando-se um corredor com largura superior para a passagem de equipamento".

Por outro lado, refere ainda a perícia, entre filas existiria sempre a distância entre veículos superior a 30 cm, caso contrário não seria possível sair do veículo após a sua imobilização, notando-se na maioria das filas um afastamento lateral superior a 50 cm.

Sobre o bloqueio da rampa do parque de estacionamento, onde se encontravam alguns carros, o relatório é claro ao dizer que, poderia ter sido evitado com um ligeiro recuo do último veículo de combate, permitindo desta forma a saída das viaturas.

Com esta peritagem ficou-se a saber também que foram usados cerca de 126 litros de agente extintor, sem que se saiba qual a quantidade total de água bombeada. "Caso tenham sido bombeados mais de 3.897 litros de água, a concentração de agente extintor na mistura era ineficaz no combate ao incêndio", lê-se no relatório que menciona ainda que uma das mangueiras de água dos bombeiros estaria furada.

O relatório dos Bombeiros de Sacavém fala em 41 veículos que terão estado a combater o incêndio, mas nem todos seriam camiões bomba para o combate, refere o relatório pericial.

Já sobre a empresa que recolhia os veículos junto ao aeroporto, a Aeroporto Parque, o relatório menciona que tinha um plano de evacuação de viaturas, que estas se encontravam organizadas de maneira a aproveitar o espaço disponível e que a empresa dispunha das respectivas chaves para permitir a sua mobilidade.

Através da reconstituição do acidente, pode-se observar, segundo o relatório, que os carros aparentavam estar afastados suficientemente entre si. "Desta forma, é possível afirmar que mesmo que os veículos estivessem mais afastados, o alastramento do incêndio poderia continuar a ocorrer, devido às condições extremas de temperatura e humidade daquele dia", pode ler-se.

O edifício estava também dotado de medidas para combate a incêndio, nomeadamente extintores e serviços de incêndio.

Condições meteorológicas

Segundo a peritagem, as condições metereológicas terão facilitado a propagação do incêndio. O relatório refere que nesse dia, registou-se a temperatura mais alta do mês, de aproximadamente 38ºC, atingida aquando do início do incêndio, e uma humidade de apenas 20%. "Estes fatores contribuíram arduamente para o pré-aquecimento dos veículos, facilitando a propagação das chamas".

Mercedes com 446.950 KM provocou o incêndio

De acordo com um estudo pormenorizado ao compartimento do motor do veículo, supõe-se que a origem do incêndio esteja numa falha do relé do motor de arranque de um Mercedes com 446.950 km. A temperatura do fogo terá superado os 600ºC.

Sabe-se agora que não era possível remover esta viatura da rampa, uma vez que o proprietário não cedeu a chave do seu carro, aquando do armazenamento do mesmo.

Das 232 viaturas afectadas pelo incêndio, 117 foram classificadas como perdas totais. As indemnizações relativas às viaturas destruídas ultrapassam os 3,6 milhões de euros.

Os lesados aguardam agora pelos relatórios do Ministério Público e das seguradoras envolvidas. Só quando forem conhecidas as conclusões desses relatórios é que os mais de 100 lesados poderão avançar com acções em tribunal.

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