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Cabo irregular do elevador da Glória era usado desde 2022 e não "há cerca de seis anos"

Lusa 15:52
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O Expresso noticiou que a Carris "deu informação errada à investigação do acidente com o elevador da Glória", já que entre a nota informativa do gabinete que está a investigar, divulgada três dias após a tragédia, e o relatório do preliminar, divulgado na segunda-feira, surge uma discrepância de datas.

O cabo do elevador da Glória, em Lisboa, que não respeitava especificações exigidas, era usado desde 2022, segundo o relatório do preliminar do GPIAAF, que altera a informação inicial de que era utilizado "há cerca de seis anos".

Descarrilamento do Elevador da Glória faz duas vítimas da Santa Casa da Misericórdia
Descarrilamento do Elevador da Glória faz duas vítimas da Santa Casa da Misericórdia TIAGO PETINGA/LUSA

O jornal Expresso noticiou esta sexta-feira que a empresa municipal Carris "deu informação errada à investigação do acidente com o elevador da Glória", fazendo uma análise entre a nota informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgada três dias após a tragédia, e o relatório do preliminar do GPIAAF, concluído no prazo de 45 dias e divulgado na segunda-feira.

O descarrilamento do elevador da Glória, sob gestão da empresa municipal Carris, ocorreu no dia 3 setembro e provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.

A nota informativa do GPIAAF referia que o tipo de cabo presente neste ascensor era usado "há cerca de seis anos", mas essa informação foi clarificada no relatório do preliminar, com a indicação de que esse tipo de cabo era utilizado desde "dezembro de 2022", acrescentando que o mesmo não respeitava as especificações da Carris, nem estava certificado para uso em transporte de pessoas.

A data inicialmente divulgada quanto ao uso deste tipo cabo apontava para 2019, o que responsabilizava a anterior gestão da Carris, assim como o anterior presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina (PS), uma vez que o município é o acionista único desta empresa de transporte público.

Perante a notícia do Expresso, a atual administração da Carris -- sob liderança de Pedro de Brito Bogas, que apresentou a demissão na quarta-feira, renúncia que foi aceite pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD) -- esclareceu hoje que "nunca prestou a informação aludida na notícia, desde logo porque na altura se encontrava a apurar a factualidade referente à aquisição do cabo".

"Os referidos dados não constam da vastíssima documentação que a Carris remeteu ao GPIAAF, no âmbito da investigação. O conselho de administração da Carris não foi, até à data, inquirido pelo GPIAAF no âmbito da investigação", indicou a empresa municipal, em comunicado.

A Lusa tentou uma reação por parte do gabinete do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), que remeteu para a Carris.

Em declarações à agência Lusa, a recém-eleita vereadora do PS Alexandra Leitão disse, entretanto, que "prestar informações incorretas ao gabinete que faz a inspeção dos acidentes, seja deliberadamente ou não, é muito grave".

Alexandra Leitão considerou a alteração das datas quanto ao uso deste tipo cabo, passando de 2019 para 2022, é também relevante no plano político, realçando que o primeiro documento do GPIAAF foi divulgado antes das eleições autárquicas de 12 de outubro e "tinha uma data errada, porque, deliberadamente ou não, a Carris prestou essa informação errada".

"Informação errada essa que, também, deliberadamente ou não, obviamente que beneficiou, objetivamente, o na altura candidato Carlos Moedas, que utilizou isso para se desresponsabilizar, como, aliás, tem feito em todo este processo", declarou a socialista, lembrando que o atual e reeleito presidente da Câmara de Lisboa "foi muito rápido e muito lesto a, sem especular, sacudir a água do capote" quando saiu a nota informativa do GPIAAF, com a atribuição da responsabilidade ao anterior mandato municipal 2017-2021, liderado pelo PS.

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