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A noite dos liberais: IL cresce só um bocadinho e não há "ADIL", nem maior influência

Bruno Faria Lopes
Bruno Faria Lopes 19 de maio de 2025 às 01:16
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Partido conquistou mais um deputado - tem agora nove - e cresceu ligeiramente em votos, mas ficou aquém das expectativas. Hecatombe do PS leva a AD a ter mais votos do que toda a esquerda unida e a não precisar da IL, que também não tem incentivo para um arranjo maior com Luís Montenegro, confirmou Rui Rocha.

Mais votos, maior percentagem de votos e mais um deputado – a Iniciativa Liberal (IL) cresceu nestas eleições legislativas. Então, porquê o sabor agridoce? Porque a expectativa era de uma subida maior e da entrada da IL para o jogo da estabilidade governativa e da influência, e nem uma coisa, nem outra, aconteceram. No final da noite, ao som de We Will Rock You, o líder Rui Rocha assumiu os lados solar e lunar do resultado – e indicou que o partido continuará a operar a solo no Parlamento, sem um casamento "ADIL".

ANTONIO PEDRO SANTOS/LUSA

"Queríamos ter crescido mais obviamente, fizemos muito ao longo deste tempo para merecer a confiança dos portugueses", afirmou. "Não foi possível, assumo esse ponto", juntou. A seguir, contudo, falando quer para a eventual oposição interna e para fora do partido, garantiu que nada teria feito de diferente antes e durante a campanha. "Não troco essa posição de ética e de rigor, de não dar tudo a todos e de dizer cara a cara o que deve ser dito, não só para o passado, mas para o futuro", atirou.

No território nacional – falta contabilizar os dois círculos eleitorais da emigração – a IL teve mais 18 mil votos do que em 2024 (cerca de 330 mil, ao todo), subiu a percentagem de 5,08% para 5,53% e o número de deputados de oito para nove. O partido defendeu o deputado conquistado em 2024 em Setúbal e foi em Lisboa que conseguiu crescer, de três para quatro deputados, somando outros dois no Porto, um em Braga e outro em Aveiro. O grupo parlamentar será constituído por Rui Rocha, Carlos Guimarães Pinto, Miguel Rangel, Mário Amorim Lopes, Mariana Leitão, Rodrigo Saraiva, Angélique da Teresa, Jorge Teixeira e Joana Cordeiro.

O líder dos liberais lembrou que disse durante a campanha que o partido estava disponível para "garantir a estabilidade governativa" – a IL assumiu estar disponível para a ADIL várias vezes –, mas à luz dos resultados considerou ao final da noite que tal não é preciso. "As maiorias estão formadas", disse. A hecatombe eleitoral do PS (e do Bloco) faz com que a AD some mais mandatos do que toda a esquerda unida, não precisando da IL – a ausência de um papel decisivo e de capacidade de influenciar as políticas públicas, que era um objetivo, tira o incentivo aos liberais para um arranjo mais amplo. "Continuaremos a fazer o que fizemos na legislatura passada", afirmou Rui Rocha.

As pessoas ouvidas pela SÁBADO ao longo da noite eleitoral – quando ainda não se sabia que o partido subira de oito para nove deputados – não escondiam alguma desilusão com o crescimento modesto que as projeções sugeriam. A ideia que passou é de que, num contexto eleitoral aparentemente favorável, a IL pode ter estacionado num patamar abaixo de 6% e de 10 deputados. O xadrez político – muito influenciado pelo crescimento contínuo do Chega, lamentado nas conversas que se ouviam nas salas do Palácio Xabregas – também mantém a IL arredada de uma maior influência, o que será um desafio.

Rui Rocha terminou o discurso – num ambiente ainda assim de alívio após a conquista do novo deputado – apontando que o partido continuará fiel a si mesmo. "Não vamos ser populistas, oferecer tudo a todos, trair a confiança de quem votou em nós", afirmou. "Mesmo que isso signifique um crescimento mais lento", disse. O partido que quer fazer crescer a economia ainda não encontrou um caminho para, no eleitorado português, fazer crescer o liberalismo de forma significativa - embora tenha consolidado a sua posição num Parlamento em transformação.

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