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Ucrânia vai aderir à UE em 2027? "Nível de corrupção elevado" pode adiar entrada até 2030

Luana Augusto
Luana Augusto 14 de dezembro de 2025 às 18:40
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Plano de paz propõe a adesão da Ucrânia à União Europeia dentro de pouco mais de um ano. José Filipe Pinto diz que essa data é "otimista" e enumera os vários fatores que dificultam esta adesão.

A Ucrânia apresentou um novo plano de paz aos Estados Unidos onde, segundo o , o país aponta a sua dentro de pouco mais de um ano: em 2027. No entanto, para o especialista em relações internacionais, José Filipe Pinto, esta data é bastante "otimista", isto porque a Ucrânia ainda não cumpre com determinados requisitos. Diz que o cenário mais realista seria uma adesão em 2030, mas com reticências.

Zelensky entregou proposta de plano de paz aos Estados Unidos
Zelensky entregou proposta de plano de paz aos Estados Unidos Foto AP/Geert Vanden Wijngaert

"A menos que a situação da guerra na Ucrânia tenha uma solução a curto prazo, o que não acredito, poderíamos apontar uma adesão para 2030, mas ainda assim seria um sonho", defende à SÁBADO.

O que dificulta a entrada da Ucrânia na UE?

A Ucrânia entretanto tem "colhido muito boa vontade por parte da comunidade europeia", mas para que consiga aderir à União Europeia é necessário que o país cumpra com "um conjunto de critérios definidos" - o que ainda não acontece. "A Ucrânia enfrenta várias dificuldades: uma delas é que tem um nível de corrupção muito elevado, que afeta estruturas do poder e que envolve ministros e o chefe de gabinete [do presidente ucraniano] Volodymyr Zelensky", sublinha o académico.

Para José Filipe Pinto esta é, no entanto, "apenas a ponta de um icebergue". "Estudei os novos movimentos sociais na Ucrânia e detetei vários fenómenos de corrupção a nível da sociedade, como grupos de crime organizado. Até percebi que faziam com que pessoas em ótimas condições de saúde fossem consideradas inaptas para o serviço militar", explica.

Um outro problema prende-se com a ideia de que a Ucrânia não é considerada uma democracia e um dos requisitos para estar na União Europeia é que os Estados sejam "democracias perfeitas ou imperfeitas". "A Ucrânia só foi uma democracia de 2007 a 2010. Quando Zelensky chegou ao poder o país já era um regime híbrido e ainda hoje continua a sê-lo. Isso condiciona muito a adesão da Ucrânia à União Europeia", informa. 

Além da Ucrânia ter de cumprir com determinados requisitos, para que esta adesão se possa concretizar é necessário que também os próprios estados-membros concordem com esta ideia - o que para a Hungria não é algo concretizável. "Para a entrada de um novo país tem de haver unanimidade entre os estados-membros, e neste momento a Hungria, a Eslováquia e talvez outros estados-membros estão contenciosos, até porque têm ligações privilegiadas com a Rússia. Por isso, é provável que possam colocar entraves a este processo."

Eleições na Hungria podem facilitar processo de adesão

A Hungria está, no entanto, perto de ir a eleições (acontece em abril) - o que significa que a queda de Viktor Orbán do poder poderia facilitar a vida dos ucranianos. "Na Hungria há algum desejo de mudança, principalmente por parte da classe mais instruída, e isso pode ser bom para a Ucrânia. Porém, a população mais idosa continua a ter uma visão negativa da adesão da Ucrânia à União Europeia."

Qual a posição dos EUA e da Rússia?

Os Estados Unidos e a Rússia entretanto "já se manifestaram favoráveis" à ideia de adesão da Ucrânia à União Europeia, mas apesar disso estes dois países "não têm de se manifestar" em relação a este assunto, segundo José Filipe Pinto. Quanto muito poderiam fazê-lo em relação à adesão à NATO. "Isto não cabe nas suas competências e a Rússia vai dizer que não se importa. Os EUA e a Rússia têm é todo o direito de se manifestarem no que diz respeito à adesão da NATO, porque é uma aliança militar. Trata-se de segurança."

Para o especialista, a adesão da Ucrânia à União Europeia "funcionaria como uma espécie de zona tampão porque permitira a separação de dois mundos: a ordem Eurasiana, liderada por Vladimir Putin, e a ordem Liberal, da União Europeia, liderada pelos Estados Unidos".

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