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Quem são os generais e cientistas iranianos mortos nos ataques israelitas?

Quase todos faziam parte da Guarda Revolucionária Islâmica. Um deles teve um papel fundamental na repressão contra os protestos de 2022 no Irão, que resultaram na morte de Mahsa Amini.

Israel lançou na manhã de sexta-feira um "ataque preventivo"contra instalações nuclearese militares iranianas. Segundo a Força Aérea Israelita (IAF), os ataques, que fazem parte daoperação "Rising Lion"tinham como "objetivo prejudicar o programa nuclear iraniano em resposta à agressão contínua do regime iraniano contra Israel". Como consequência, morreram mais de comandantes iranianos de alta patente e dois cientistas nucleares.

Major-general Hossein Salami

DR
AP Photo/Vahid Salem

Hossein Salami entrou para o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica em 1980, durante a guerra entre o Irão e o Iraque, e tornou-se vice-comandante em 2009, antes de ter ascendido a comandante-chefe em 2019, segundo a BBC.

De acordo com a revista Time, era considerado uma figura-chave na esfera política. Acredita-se que era ele quem reportava diretamente os acontecimentos ao aitolá Ali Khamenei.

Durante o seu mandato enquanto major-general, ficou conhecido pelas suas habilidades como orador e por ter ameaçado repetidamente Israel e os Estados Unidos com ações militares. Chegou a afirmar que o Teerão iria "abrir as portas do inferno", caso fossem atacados.

"Se eles [Israel e os EUA] ameaçarem os nossos comandantes, nenhum deles encontrará um lugar seguro [para viver]", disse depois do chefe da Força Qud, Qasem Soleimani, ter morrido em 2020 durante um ataque aéreo americano contra uma base militar em Bagdá.

Hossein Salami foi apenas um dos muitos comandantes que morreram nos ataques israelitas, levados a cabo na manhã de sexta-feira. Agora, será substituído pelo brigadeiro-general Mohammad Pakpour.

Major-general Mohammad Bagheri

Syrian Central Military Media, via AP, File

Mohammad Bagheri nasceu em 1960 e entrou para o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica em 1980, no mesmo ano em que se iniciou uma guerra entre o Irão e o Iraque e que durou oito anos. Este conflito resultou em várias mortes: o seu irmão mais velho Hassan foi, aliás, uma das vítimas.

Depois da morte do seu irmão, tornou-se chefe das operações de inteligência do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica em 1983, segundo a imprensa iraniana. Em 1997, desempenhou um "papel especial" numa operação no Iraque contra as forças curdas, aponta a agência de notícias Rokna.

Bagheri servia desde 2016 como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irão - um cargo que o levou a supervisionar cerca de 610 mil militares - e era atualmente considerado o segundo mais alto comandante do Irão, depois do líder supremo, Ali Khamenei. Segundo a revista Time, já havia sido alvo de sanções por parte dos EUA, em 2019. Aconteceu quando o governo de Trump decidiu impor sanções contra o que chamaram de o "círculo interno" do líder supremo do Irão.

Bagheri chegou também a ser sancionado pela União Europeia por ter fornecido drones à Rússia, além de ter sofrido sanções por parte dos EUA, Canadá e Reino Unido, por ter tido um papel fundamental na repressão contra os protestos de 2022 no Irão, e que resultaram na morte de Mahsa Amini, escreve o canal Al Jazeera.

Além do seu histórico enquanto major-general, das suas conquistas académicas e das sanções de que foi alvo, pouco se sabe acerca do mesmo.

"Muitos oficiais de inteligência e militares de alto escalão no Irão tendem a ser mais reservados", explicou ao Al Jazeera Reza H Akbari, gestor do programa Oriente Médio e Norte da África, no Instituto para a Guerra e Reportagem de Paz.

Bagheri será agora substituído pelo major-general Albolrahim Mousavi, anunciou o aitolá Khamenei.

General Gholamali Rashid

AP Photo/Soureh Photo Agency

Gholamali Rashid, assim como o seu filho, morreram na manhã de sexta-feira, após Israel ter atacado o Irão. O general, que chegou a lutar na guerra contra o Iraque na década de 1980, segundo a BBC, era vice-comandante das Forças Armadas iranianas e comandante do Quartel General Central de Khatam-al Anbiya.

Rashid foi uma peça fundamental nas operações do programa de veículos aéreos não tripulados (VANT) do Irão - que consistia no uso de drones em guerra.

Em fevereiro, prometeu retaliar quaisquer possíveis ataques contra o programa nuclear do Irão - isto depois de terem surgido relatos de que Israel e os EUA se preparavam para atacar alvos nucleares iranianos até "meados de 2025".

Rashid será substituído pelo major-general Ali Shadmani.

Comandante Amir Hajizadeh

AP Photo/Vahid Salemi

Amir Ali Hajizadeh era comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária Islâmica. Era descrito por este mesmo corpo de intervenção como "uma figura proeminente e influente da frente de resistência e um símbolo de desenvolvimento, inovação e poder nas esferas de defesa e mísseis".

Segundo as Forças de Defesa de Israel, foi ele quem comandou os ataques de mísseis contra Israel em outubro e abril do ano passado. No Irão, ficou com a sua imagem manchada depois de ter assumido a responsabilidade pela queda de um avião de passageiros ucraniano, em 2020, que partia do Teerão, e que matou todas as 176 pessoas que seguiam a bordo, acrescenta a BBC.

Ainda de acordo com as Forças de Defesa de Israel, que se pronunciaram após a sua morte, Hajizadeh "havia se reunido num centro de comando subterrâneo para se preparar para um ataque de Israel".

Os cientistas

Além da morte destes oficiais militares, também morreram vários cientistas importantes que trabalhavam no programa nuclear iraniano.

De acordo com a agência de notícias Tasnim, morreram pelo menos seis cientistas. Entre estes encontram-se, por exemplo, Fereydoon Abbasi, Mohammad Mahdi Tehranchi e Seyed Amir Hossein Feqhi.

Sabe-se que Abbasi foi chefe da Organização de Energia Atómica do Irão entre 2011 e 2013 e atuou também como membro do parlamento de 2020 a 2024. Segundo a BBC, ficou conhecido pelas suas posições linha-dura em relação às atividades nucleares do Irão e em maio, numa entrevista ao canal de televisão iraniano SNN.ir, falou sobre a possibilidade de construir uma arma nuclear e garantiu que cumpriria de bom agrado as ordens para o fazer, caso as recebesse.

AP Photo/Ronald Zak

Já Tehranchi, era um físico teórico e uma figura-chave envolvido no programa nuclear iraniano, lançado no início dos anos 2000. Além disso, desempenhou o papel de diretor na Universidade Islâmica de Azad, no Teerão.

Feqhi foi diretor-adjunto da Organização de Energia Atómica do Irão e membro do corpo docente do curso de Engenharia Nuclear, na Universidade Shahid Behesthi, no Teerão.

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