De acordo com a organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras, a carreira política de Donald Trump "foi em parte definida pela propensão a espalhar falsidades", tendo feito, ao longo do primeiro mandato, "mais de 30.000 declarações falsas ou enganosas".
Os primeiros 100 dias do segundo mandato presidencial de Donald Trump foram marcados por várias alegações falsas e declarações enganosas por parte do chefe de Estado, amplamente documentadas por órgãos de comunicação e verificadores de factos.
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De acordo com a organização não-governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras (RSF), a carreira política de Donald Trump "foi em parte definida pela propensão a espalhar falsidades", tendo feito, ao longo do primeiro mandato, "mais de 30.000 declarações falsas ou enganosas, um volume de imprecisão sem igual na história americana", incluindo a negação consistente dos resultados eleitorais de 2020.
Seguem-se alguns exemplos registados durante os primeiros 100 dias de Governo:
Guerra na Ucrânia
Desde que tomou posse, em 20 de janeiro passado, Donald Trump fez várias declarações falsas ou enganosas sobre a guerra na Ucrânia, frequentemente alinhadas com a narrativa do Kremlin e criticadas por autoridades ucranianas, líderes europeus e analistas internacionais.
Em fevereiro deste ano, o Presidente norte-americano afirmou que a Ucrânia "nunca devia ter começado" a guerra, ignorando a invasão em larga escala do país, iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022, sem provocação por parte de Kiev.
Também apelidou o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, de "ditador" e acusou-o de se recusar a realizar eleições. Contudo, a Ucrânia está sob lei marcial devido à guerra, o que, conforme a legislação, impede a realização de eleições durante esse período.
Da mesma forma, o Republicano afirmou falsamente que Zelensky tinha apenas 4% de aprovação popular. Sondagens realizadas pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kyiv (KIIS) mostraram que, em fevereiro passado, 57% dos ucranianos confiavam em Zelensky.
Além disso, Trump afirmou que os EUA gastaram 350 mil milhões de dólares (309 mil milhões de euros) em ajuda à Ucrânia, ou mais 200 mil milhões do que a Europa.
No entanto, dados do Instituto Kiel, 'think tank' alemão que acompanha de perto a ajuda à Ucrânia, indicaram que, até ao final de 2024, os EUA haviam comprometido cerca de 124 mil milhões de dólares (109,4 milhões de euros), enquanto a UE e países europeus individualmente haviam cedido coletivamente muito mais ajuda militar, financeira e humanitária a Kiev: cerca de 228 mil milhões de euros (258 mil milhões de dólares).
Desperdícios na ajuda externa norte-americana
Em janeiro passado, pouco tempo depois de tomar posse, Trump afirmou que a sua administração tinha "identificado e impedido que 50 milhões de dólares (44 milhões de euros) fossem enviados para Gaza para comprar preservativos para o [movimento islamita palestiniano] Hamas".
Esta afirmação foi prontamente contrariada pela imprensa norte-americana, tendo o jornal The New York Times identificado milhões de dólares em subsídios federais concedidos para prevenir doenças sexualmente transmissíveis na província moçambicana de Gaza, e não no território palestiniano.
Trump fez várias alegações falsas ou infundadas sobre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), como parte da campanha para desmantelar a agência e reduzir drasticamente a ajuda externa norte-americana.
Sem apresentar provas, afirmou que "milhares de milhões de dólares foram roubados da USAID" e usados como suborno para que a imprensa criasse histórias favoráveis aos democratas, numa alegação amplamente desmentida.
Herdou uma "catástrofe económica"
No primeiro discurso do ano perante o Congresso, em março, Trump declarou ter "herdado do último Governo uma catástrofe económica e um pesadelo inflacionista".
Na realidade, a inflação atingiu um pico de 9,1% em 2022, sob a Presidência de Joe Biden, mas Trump não herdou uma economia desastrosa em nenhum aspeto.
A taxa de desemprego desceu para 4% em janeiro, mês de transição de executivos, enquanto a economia cresceu uns saudáveis 2,8% em 2024. Os rendimentos ajustados à inflação cresceram de forma constante desde meados de 2023. E a inflação, ainda a 3% em janeiro, estava abaixo do pico de 2022, quando Trump proferiu o discurso.
Na semana passada, Donald Trump afirmou falsamente que os preços dos alimentos estão a "cair e a descer". Na verdade, os preços dos alimentos continuaram a subir, mesmo antes de ter imposto tarifas quase globais de 10% no início deste mês, segundo uma verificação de factos feita pela televisão CNN internacional.
Tarifas e guerra comercial com a China
Trump repetiu este mês a frequente alegação falsa de que, antes da primeira Presidência (2017-2021), a China "nunca pagou 10 cêntimos a nenhum outro Presidente" em tarifas.
Contudo, além de serem os importadores dos EUA a fazerem os pagamentos das tarifas, os EUA arrecadaram milhares de milhões de dólares em taxas alfandegárias sobre as importações chinesas durante anos, sublinhou a CNN Internacional.
Aliás, os EUA têm tarifas sobre as importações chinesas desde 1789, com o 'Tariff Act', uma das primeiras leis do Congresso dos EUA. O antecessor de Trump no primeiro mandato, o antigo presidente Barack Obama, já havia aplicado tarifas adicionais sobre os produtos chineses.
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