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Depois da rebelião, Prigozhin vai viver para a Bielorrússia

Ana Bela Ferreira
Ana Bela Ferreira 25 de junho de 2023 às 10:35
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Grupo Wagner retirou das suas posições e o seu líder vai ser acolhido pelo país vizinho e aliado de Putin. Rebelião termina, menos de 24 horas depois, sem processos judiciais contra os revoltosos e sem mudanças na estrutura de chefia militar, como pediam.

Na cidade de Rostov-sobre-o-Don reina agora a calma, depois da retirada dos mercenários do grupo Wagner, que ocuparam a cidade numa ação de rebelião contra as chefias militares. O líder do grupo Wagner anunciou, ainda no sábado ao final da tarde, que iria retirar as tropas para evitar um banho de sangue, quando estaria a apenas 200 km da capital, Moscovo. Yevgeny Prigozhin vai agora viver na Bielorrússia, como parte do acordo alcançado, vendo cair qualquer processo judicial contra si e contra os seus militares.

REUTERS/Alexander Ermochenko

Os restantes elementos do grupo Wagner que não participaram na rebelião e quiserem entrar nas forças armadas oficiais, podem fazê-lo, garantiu ainda o Kremlin, depois doanúncio de um acordo, que foi feito pelo presidente da Bielorrússia, o mediador entre os dois lados.

"O processo criminal contra ele [Prigozhin] será arquivado. E ele irá para a Bielorrússia", declarou ontem à noite à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. "Ninguém perseguirá [os combatentes que o seguiram], tendo em conta os seus feitos na frente" de batalha ucraniana, acrescentou.

Prigozhin suspendeu as movimentações da rebelião na Rússia contra o comando militar,menos de 24 horas depois de ter ocupado Rostov, cidade estratégica no sul do país para a guerra na Ucrânia. Segundo as suas palavras para evitar "um banho de sangue russo".

De manhã, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tinha classificado, num discurso transmitido na televisão, como rebelião a ação do grupo, afirmando tratar-se de uma "ameaça mortal" ao Estado russo e uma traição, garantindo que não iria deixar acontecer uma "guerra civil" e que os responsáveis pagariam por isso.

Mas depois de um avanço quase sem oposição por algumas cidades e estradas russas, e quando as forças do grupo Wagner estavam já a apenas 200 km de Moscovo, o presidente da Bielorrússia, Alexandr Lukashenko, anunciou ter chegado a acordo com Prigozhin para pôr fim à rebelião.

Prigozhin acusava o exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações que expõem profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia. Durante o que chamou de "marcha pela justiça", o líder do grupo Wagner exigia falar com o ministro da Defesa e o chefe de estado-maior-general das forças armadas russos para que se retratassem, mas também queria a sua demissão.

Desde que foi conhecido o acordo, não houve qualquer declaração por parte de Vladimir Putin que falou apenas de manhã e cujo o paradeiro ao longo do dia de ontem levantou suspeitas, depois de uma dos seus aviões ter sido visto a sair do Kremlin e ter aterrado em São Petersburgo. Peskov garantiu que o presidente estava no Kremlin a trabalhar.

Com Lusa

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