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Grupo Wagner recua e regressa às bases, anuncia Lukashenko

Mercenários ocuparam cidade de Rostov e pediam demissão de líderes militares. Putin disse que o país está a travar "a batalha mais difícil pelo seu futuro". Coluna militar do grupo estava a caminho de Moscovo, mas acabou por recuar depois da intervenção do presidente da Bielorrússia, nas negociações.

Este sábado, a Rússia acordou a braços com a rebelião do grupo Wagner. Os mercenários entraram na cidade russa de Rostov e seguiram para Moscovo, numa marcha para depor os líderes militares. Mas, ao final da tarde, o presidente da Bielorrússia anunciou um acordo de negociações que levou o grupo Wagner a recuar às bases e desistir de tomar Moscovo.

De manhã, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou num discurso na televisão estatal, que a rebelião do grupo de mercenários Wagner era um "ameaça mortal" ao Estado russo e garantiu que não ia "deixar" uma "guerra civil" acontecer, apelando à "unidade". Nessa declaração divulgada pela televisão russa, Putin disse que o país está a travar "a batalha mais difícil pelo seu futuro". "Qualquer turbulência interna é uma ameaça mortal ao nosso Estado como nação; representa um golpe para a Rússia, para o nosso povo e para as ações que estamos a tomar para proteger a nossa pátria", sustentou.

Porém, ao final da tarde, o presidente da Bielorrússia anunciou ter estado a negociar com Prigozhin em nome de Vladimir Putin. O grupo Wagner ter-se-á comprometido a recuar e regressar às suas bases, em troca foi-lhes prometida proteção. Numa mensagem de áudio deixada no Telegram, Prigozhin confirmou a retirada para "evitar um banho de sangue". "Queriam dissolver o grupo Wagner. Partimos a 23 de junho para a "Marcha da Justiça". Num dia, marchámos a pouco menos de 200 km de Moscovo. Durante este tempo, não derramámos uma única gota de sangue dos nossos combatentes. Agora é o momento em que o sangue pode ser derramado. Conscientes de toda a responsabilidade pelo facto de vir a ser derramado sangue russo, estamos a dar a volta às nossas colunas e a partir na direção oposta, para os nossos campos de batalha, de acordo com o plano", refere Prigozhin, citado peloWashington Post.

Segundo um comunicado do gabinete de Aleksandr Lukashenko as negociações entre as duas partes demoraram todo o dia. "Yevgeny Progozhin aceitou a porposta do presidente da Bielorrússia, Alexandr Lukashenko de parar o movimentos de pessoas armadas do grupo Wagner na Rússia e tomar ações para desescalar as tensões. Neste momento, está em cima da mesa uma opção absolutamente rentável e aceitável para resolver a situação, com garantias de segurança para os combatentes do grupo Wagner."

O início da rebelião

Na madrugada, Yevgeny Prigozhin, líder do grupo Wagner, anunciou o controlo da cidade de Rostov, no sul da Rússia, numa tentativa de depor os líderes militares oficiais russos. Esta é até ao momento a maior crise interna da Rússia desde que invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022. Prigozhin apelou ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e ao chefe de estado maior das forças armadas, Valery Gerasimov, que se encontrem com ele para se retratarem de um ataque feito às suas tropas. O grupo Wagner acusa os militares de uma liderança desastrosa na guerra e quer vê-los fora dos cargos. Prigozhin alegava ter 25 mil militares prontos a "restaurar a justiça".

Numa mensagem de vídeo, Prigozhin acabou a contradizer os motivos oficiais para a "operação militar especial" na Ucrânia. "A guerra era necessária... para que Shoigu pudesse ser um marechal... para que ele pudesse ganhar uma segunda medalha de 'Herói' [da Rússia]. A guerra não era necessária para desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia", apontou.

Já Putin contrapôs dizendo que esta situação foi provocada pelas "ambições excessivas e interesses instalados que levaram à traição", apelidou ainda o motim de "facada nas costas". Prigozhin recusou entretanto as acusações de que é um traidor, garante que ele e as suas forças estão a levar a cabo uma "marcha pela justiça" para remover pod poder comandantes corruptos e incompetentes.

"O presidente comete um erro profundo quando fala de traição. Somos patriotas da nossa pátria-mãe, lutámos e estamos a lutar por ela", respondeu numa mensagem de audio o líder do grupo Wagner, depois da mensagem de Putin. "Não queremos que o país continue a viver na corrupção, mentira e burocracia."

Depois de controlar Rostov, o centro de comando e abastecimento da Rússia para a guerra na Ucrânia, dada a sua proximidade com a fronteira, a coluna militar do Wagner segue agora para Moscovo. Estando já a meio caminho da capital russa, a passar pela cidade de Voronezh, a coluna militar foi bombardeada pelas forças militares oficiais. Um jornalista da Reuters testemunhou o bombardeamento a partir de helicópteros, da coluna a 1.100 km de Moscovo.

Entretanto, a meio da tarde, o governador da província de Lipetsk deu indicação de que o grupo Wagner tinha entrado na região que se situa a 340 quilómetros de Moscovo. "O equipamento (de guerra) do grupo Wagner está a avançar no território da região de Lipetsk", disse Igor Artamonov no Telegram. De acordo com o político, as autoridades locais "estão a tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança da população".

O presidente da câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, apelou à população que não saia de casa, não faça viagens para fora da cidade dadas as operações de contra-terrorismo que estão a ser levadas a cabo na cidade. Apelidou ainda a situação de "difícil". O autarca deu ainda conta de que segunda-feira não será dia de trabalho, com algumas excecções, de forma a "minimizar os riscos". Na capital russa, a presença da polícia nas ruas aumentou e a Praça Vermelha está agora bloqueada com barreiras de metal.

Porém, ao final da tarde, o presidente da Bielorrússia anunciou ter estado a negociar com Prigozhin em nome de Vladimir Putin. O grupo Wagner ter-se-á comprometido a recuar e regressar às suas bases, em troca foi-lhes prometida proteção. Numa mensagem de áudio deixada no Telegram, Prigozhin confirma a retirada para "evitar um banho de sangue".

Segundo um comunicado do gabinete de Aleksandr Lukashenko as negociações entre as duas partes demoraram todo o dia. "Yevgeny Progozhin aceitou a porposta do presidente da Bielorrússia, Alexandr Lukashenko de parar o movimentos de pessoas armadas do grupo Wagner na Rússia e tomar ações para desescalar as tensões. Neste momento, está em cima da mesa uma opção absolutamente rentável e aceitável para resolver a situação, com garantias de segurança para os combatentes do grupo Wagner." 

As reações internacionais

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi um dos líderes que reagiu a esta rebelião interna, considerando este passo um exemplo da autodestruição da Rússia, resultante da sua decisão de invadir o seu país. "Quem escolhe o caminho do mal destrói-se a si próprio", afirmou Zelensky no Twitter. "Há muito que a Rússia utiliza a propaganda para mascarar a fraqueza e a estupidez do seu Governo", escreveu.

Zelensky criticou ainda o discurso de Vladimir Putin, que recordou os fantasmas da guerra de 1917 para repudiar o avanço de Wagner e dizer que recusará uma "guerra civil". "Tudo isto vem de uma pessoa, que nos assustou uma e outra vez com o ano de 1917, sabendo que não podia resultar noutra coisa que não nisto", apontou Zelensky.

O ministro da Defesa britânico, no habitualbriefingsobre a guerra na Ucrânia, considerou este motim a mais grave crise interna da Rússia. "Nas próximas horas, a lealdade das forças de segurança russas, e especialmente a Guarda Nacional Russa, serão a chave para saber como esta crise se vai desenrolar", referiu Ben Wallace. "Este é o maior desafio para o Estado russo nos tempos mais recentes", acrescentou.

Já o Conselho Europeu considera esta rebelião "claramente um assunto interno" da Rússia. "Estou a acompanhar de perto a situação na Rússia enquanto se desenrola",escreveu Charles Michel no Twitter.O presidente do Conselho acrescentou que está "em contacto com os líderes europeus e os parceiros do G7" (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos e também a União Europeia).

Ainda assim, Charles Michel ressalvou que o apoio dos 27 "à Ucrânia e a Volodymyr Zelensky é inabalável".

A ministra da Defesa da Chéquia reagiu com ironia à rebelião,escrevendo no Twitterque em Moscovo "guerras fracassadas terminam sempre com a execução do ‘czar’ e guerra civil". "Agora, finalmente percebemos o que os russos queriam dizer com uma operação especial. Depois de 16 meses de guerra na Ucrânia, a Rússia está a travar uma guerra contra a Rússia", disse Jana Cernochova. "Não é uma surpresa. É uma tradição entre os russos. Guerras fracassadas terminam sempre com a execução do ‘czar’, seguida do caos e de uma guerra civil acompanhada por espias. Parabéns!", ironizou.

Do lado do G7, os ministros dos Negócios Estrangeiros estiveram reunidos para "trocar pontos de vista sobre a situação na Rússia", anunciou o chefe da diplomacia da União Europeia. "Tive uma conversa telefónica com os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 para trocar pontos de vista sobre a situação na Rússia", declarou o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, na sua conta do Twitter.

Notícia atualizada às 18h54 com os desenvolvimentos que dão conta do recuo do grupo Wagner.

Com Lusa

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