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Amnistia Internacional elogia introdução de 'consentimento' na definição de violação em França

Lusa 30 de outubro de 2025 às 13:52
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Na quarta-feira, a Assembleia Nacional francesa aprovou uma alteração ao código penal que introduz o conceito de consentimento na definição de violação, decidida após um longo processo legislativo multipartidário.

A Amnistia Internacional (AI) congratulou-se esta quinta-feira com a decisão do parlamento francês de alterar a lei para incluir o conceito de “consentimento” na definição de violação, medida que considerou uma “vitória histórica”.

Amnistia Internacional aplaude mudança na lei de violação em França
Amnistia Internacional aplaude mudança na lei de violação em França DR

“A adoção desta lei é um passo histórico. É uma vitória há muito esperada pelas vítimas de violação e o culminar de anos de campanha incansável por parte de ativistas, organizações feministas e sobreviventes de violência sexual”, afirmou a responsável pela defesa da justiça de género da organização não-governamental de defesa dos direitos humanos AI França, Lola Schulmann, em comunicado.

Na quarta-feira, a Assembleia Nacional francesa aprovou uma alteração ao código penal que introduz o conceito de consentimento na definição de violação, decidida após um longo processo legislativo multipartidário.

“Constitui uma agressão sexual qualquer ato sexual não-consentido”, vai estipular a lei, quando promulgada pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, dentro de alguns dias.

“A alteração do código penal terá um amplo impacto educativo, essencial para estabelecer uma cultura de consentimento na sociedade e na formação dos envolvidos no sistema jurídico”, considerou Lola Schulmann, descrevendo a atual legislação como desatualizada.

“Reconhecer que o sexo não consensual é violação ajudará a prevenir e combater a violência sexual e a melhorar o acesso à justiça para as vítimas de violência sexual”, acrescentou a responsável.

Apesar de considerar que a adoção da nova lei será “crucial para mudar as atitudes em relação à violação”, a responsável da AI sublinhou que a alteração legislativa não é uma solução milagrosa.

“Uma verdadeira mudança de paradigma vai exigir recursos financeiros substanciais e uma perspetiva verdadeiramente interseccional na aplicação para pôr fim à impunidade da violência sexual e baseada no género”, defendeu.

A introdução do conceito na lei foi aprovada poucos meses depois do impacto mundial do caso de Gisèle Pelicot, a vítima no centro do maior julgamento por violação em massa da história de França, cujo então marido a drogou entre 2011 e 2020 para a violar enquanto inconsciente e recrutou na Internet 83 desconhecidos para fazerem o mesmo, sendo que pelo menos 50 aceitaram e foram por isso julgados e condenados.

O consentimento assumiu um lugar central no decurso desses longos meses de audiências, tendo-se Gisèle Pelicot tornado um símbolo da luta contra a violência sexual, por erguer a voz contra os violadores e não temer o olhar público.

O conceito de consentimento já foi introduzido na legislação que define violação por 16 Estados-membros da UE (Alemanha, Bélgica, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Finlândia, Grécia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polónia, República Checa e Suécia), sendo que Islândia, Noruega, Suíça e Reino Unido também têm definições semelhantes de violação na legislação.

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