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Afeganistão: Governo talibã proíbe mulheres de frequentar a universidade

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 20 de dezembro de 2022 às 21:16
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Os talibãs chegaram ao poder no Afeganistão em agosto de 2021 e desde então os direitos das mulheres têm vindo a deteriorar-se.

O governo talibã do Afeganistão decretou uma proibição por tempo indefinido que impede as mulheres de entrar nas universidades. O Ministério do Ensino Superior enviou uma carta a todas as universidades públicas e privadas a dar conta da decisão em que se pode ler: "Estão informados que devem implementar a mencionada ordem de suspender a educação das mulheres até novo aviso". A carta foi partilhada no Twitter pelo porta-voz do Ministério do Ensino Superior, Ziaullah Hashimi.

REUTERS/Stringer

Esta proibição ocorre apenas três meses depois de milhares de raparigas terem realizado os seus exames finais para admissão em universidades de todo o país, deitando assim abaixo todas as suas aspirações futuras. 

Os talibã chegaram ao poder no Afeganistão em agosto de 2021 e, logo a partir dessa altura, todas as universidades foram obrigadas a tomar novas medidas, que incluíram salas de aula e entradas nos estabelecimentos de ensino diferenciadas por género e a obrigação de apenas mulheres ensinarem mulheres. Apesar de os talibã terem tentado manter a imagem de que respeitariam os direitos das muleres rapidamente se percebeu que era apenas uma estratégia de comunicação internacional e assuas condições de vida começaram a deteriorar-se.

Também no início deste ano letivo muitas adolescentes afegãs forambanidas do ensino secundárioprecisamente na manhã em que deveriam voltar às aulas, o que também limitava a entrada destas jovens na universidade. Nessa altura, vários funcionários públicos afirmaram que esta proibição era temporária tendo apresentado uma série de justificações, como a falta de financiamento ou a necessidade de adaptar as escolas às novas leis islâmicas.

Os talibã seguem uma versão radical do Islão, e são liderados por Hibatullah Akhundzada, o líder supremo. Opõem-se fortemente à educação moderna, especialmente no que toca às raparigas. No entanto, não foi apenas na educação que as mulheres viram os seus direitos negados: muitas foram expulsas de altos cargos públicos, obrigadas aindicar o nome de um homem que pudesse cumprir a mesma funçãoe até lhes foram oferecidos salários para se manterem em casa.

As mulheres foram também proibidas de viajar sem a presença de um parente do sexo masculino e devemapresentar-se com uma burcasempre que estão fora de casa. Mais recentemente, foram proibidas de ir a parques públicos,parques de diversões, ginásios e banhos públicos. 

Desde que estas medidas foram tomadas várias organizações internacionais têm denunciado o aumento do casamento de mulheres adolescentes: muitas casam-se com homens bastante mais velhos escolhidos pelos pais. Várias famílias acabam por acreditar que é preferível que as filhas estejam casadas e garantam o seu futuro desta forma, do que se mantenham para sempre nas casas dos pais sem qualquer tipo de rendimentos.

A comunidade internacional ainda não reconheceu o regime talibã e tem feito da educação para todas as mulheres uma exigência para que tal aconteça. Num comunicado publicado pelo Conselho de Segurança da ONU em setembro foi garantido: "A comunidade internacional não esqueceu e não esquecerá as mulheres e meninas afegãs".

Stéphane Dujarric, porta-voz da ONU, já reagiu à nova decisão talibã, que considerou "claramente outra promessa quebrada pelos talibã". "É outro passo muito preocupante e é difícil imaginar como é que o país se pode desenvolver, lidar com todos os desafios que tem, sem a participação ativa das mulheres e a sua educação", afirmou. 

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