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Trump volta a vencer a batalha contra os talk-shows?

Sofia Parissi 18 de setembro de 2025 às 20:00

Em julho, o cancelamento do programa de Stephen Colbert foi associado a Donald Trump, sem que a CBS confirmasse. Agora, com a suspensão do programa de Jimmy Kimmel pela ABC, a situação parece repetir-se.

Passaram-se dois meses desde que a estação norte-americana CBS anunciou o cancelamento do programa The Late Show, apresentado pelo comediante Stephen Colbert, líder de audiências no horário em que é exibido nos EUA. Na altura, levantou-se a possibilidade desta suspensão estar relacionada com as críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump, mas a estação garantiu que se tratava apenas de uma “questão financeira”. Mas muitos adversários políticos de Trump avançaram com a hipótese da CBS ter decidido acabar com o seu programa de maior sucesso para que Trump autorizasse a fusão entre a Paramount (empresa mãe da CBS) e a sociedade de produção Skydance, negócio que precisava de ser autorizado pela reguladora das telecomunicações (FCC, na sigla em Inglês). Além da fusão Skydance-Paramount, quantificada em 28 mil milhões de dólares, a CBS News enfrentava o processo colocado por Trump, em que este reclama 20 mil milhões de dólares a título de indemnizações.
Trump exige 15 mil milhões ao "The New York Times" por difamação AP Photo/Alex Brandon
Agora a história parece repetir-se com o programa Jimmy Kimmel Live!, apresentado pelo comediante Jimmy Kimmel. A cadeia de televisão norte-americana ABC, que pertence à Disney, por tempo indeterminado. Os comentários do apresentador acerca do estarão na origem desta decisão. Nos EUA, vários políticos e figuras influentes manifestaram-se contra esta decisão e mostraram preocupação com uma possível política de silenciamento levada a cabo pelo governo. Citado pelo jornal The Guardian, o senador democrata Chris Murphy afirmou que este era o início de uma campanha para “usar o assassinato de Charlie Kirk como pretexto para usar o poder da Casa Branca para eliminar os críticos de Trump e os seus oponentes políticos”. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, lamentou a situação na rede social X e afirmou que o Partido Republicano “não acredita em liberdade de expressão”.
O ator Ben Stiller afirmou que a decisão “estava errada” e a atriz Wanda Sykes publicou um vídeo nas redes sociais, onde refere: “[Donald Trump] não acabou com a guerra na Ucrânia nem resolveu a situação em Gaza na primeira semana, mas acabou com a liberdade de expressão no primeiro ano. Ei, para aqueles que rezam, agora é a hora de fazer isso. Amo-te, Jimmy”. Em julho, depois do cancelamento do The Late Show, Donald Trump celebrou esta decisão na própria sua rede social, a Truth Social: “Adoro que o Stephen Colbert tenha sido despedido. Ouvi dizer que o Jimmy Kimmel é o próximo, é ainda menos talentoso”. Esta quinta-feira o presidente dos EUA também reagiu à decisão da ABC: “O programa de Kimmel, com as suas baixas audiências, está cancelado. Parabéns à ABC por finalmente ter tido coragem", escreveu. Na mesma publicação pediu à cadeia televisiva NBC que cancelasse os programas dos comediantes Jimmy Fallon e Seth Meyers.
As declarações que levaram à decisão de suspender o programa de Kimmel foram feitas durante a abertura do episódio, na passada segunda-feira. “Atingimos novos mínimos no fim de semana com o gangue MAGA [Make America Great Again] a tentar desesperadamente caracterizar este miúdo [Tyler Robinson] que assassinou Charlie Kirk como alguém que não um dos deles e a fazer tudo o que podem para marcar pontos políticos com isto”, começa por dizer o apresentador. E acrescenta: "Aqui vai uma pergunta que J.D. Vance talvez possa responder: quem é que queria enforcar o tipo que foi vice-presidente antes dele? Foram os esquerdistas ou o bando de desdentados que atacou o Capitólio a 6 de janeiro?" Andrew Alford, presidente da divisão de radiodifusão da Nexstar (dona de estações que são afiliadas à ABC) referiu que “os comentários do senhor Kimmel sobre a morte do senhor Kirk são ofensivos e insensíveis num momento crítico do nosso discurso político nacional, e não acreditamos que reflitam o espetro de opiniões, visões ou valores das comunidades locais em que nos encontramos”. No final de 2024, a estação televisiva ABC News, filial da Disney, doou 15 milhões de dólares a um fundo supostamente destinado a financiar "uma fundação e um museu" dedicados a Trump, para que este não apresentasse um processo por difamação. Ainda a semana passada Donald Trump anunciou a intenção de por difamação, reclamando 15 mil milhões de dólares.
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