Declarações acerca da guerra Israel-Hamas levaram à saída do fundador da Web Summit. Era presidente-executivo. Cimeira vai realizar-se na mesma, garante organização.
"Demito-me do cargo de CEO da Web Summit com efeitos imediatos", anunciou Paddy Cosgrave, um dos fundadores da Web Summit, ao abandonar a liderança do evento no dia 21 de outubro. A sua demissão decorreu depois de os seus comentários relativos ao conflito entre Israel e o Hamas terem suscitado polémica.
REUTERS/Pedro Nunes
"Estou chocado com a retórica e as ações de tantos líderes e governos ocidentais, com exceção, em particular, do governo da Irlanda, que, por uma vez, está a agir corretamente. Os crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando cometidos por aliados, e devem ser denunciados pelo que são", escreveu o ex-líder do evento na sua publicação da rede social X (antigo Twitter), no dia 13 de outubro.
I’m shocked at the rhetoric and actions of so many Western leaders & governments, with the exception in particular of Ireland’s government, who for once are doing the right thing. War crimes are war crimes even when committed by allies, and should be called out for what they are.
Após os comentários de Paddy Cosgrave, Dor Shapiro, o embaixador de Israel em Portugal, comunicou que o seu país já não iria participar no evento devido a considerar que o CEO fez "declarações ultrajantes".
Após a saída de Israel do evento ocorreu uma onda de retirada de várias empresas que iam participar no evento. A Google, Meta, Amazon, Siemens e Intel anunciaram que não iriam participar na edição da Web Summit neste ano, marcada para os dias 13 a 16 de novembro.
A atriz Gillian Anderson também anunciou a sua saída do evento porque os valores da sua empresa de bebidas, a G-Spot, "não se alinham" com os da Web Summit. A comediante, Amy Poehler, cujo nome contava na lista de convidados, desapareceu da página do evento.
Face ao sucedido, Paddy Cosgrave lamentou num comunicado: "Infelizmente, os meus comentários pessoais tornaram-se uma distração do evento, da nossa equipa, dos nossos patrocinadores, das nossas startups e das pessoas que participam. Peço desculpas sinceras, mais uma vez, pela dor que causei".
Apesar da saída de Cosgrave como CEO da Web Summit, o ex-líder deverá manter as ligações à empresa devido a ser o maior acionista da Manders Terrace, empresa que controla a Web Summit e outras marcas da conferência, detendo 81%.
Ainda não se sabe quem vai ser o próximo CEO, mas foi dada a garantia que a edição deste ano vai decorrer em Lisboa, como planeado.
"Estamos ansiosos por receber 70 mil participantes de todo o mundo com uma programação completa este novembro", frisou a organização da Web Summit. Um porta-voz do evento prometeu que haverá um anúncio "assim que possível".
Da Irlanda a Lisboa
A Web Summit estreou-se em 2009, em Dublin, na Irlanda. O evento foi criado por três pessoas: Paddy Cosgrave, David Kelly e Daire Hickey. O objetivo era juntar milhares de pessoas, começou com cerca de 400 participantes.
O evento depressa cresceu e passou a ter cada vez mais participantes, tendo em 2015 recebido cerca de 42 mil pessoas. Esse foi o último ano em que Dublin recebeu a Web Summit, sendo que a razão nunca ficou clara. A controvérsia gira em volta do facto de haver dificuldade em manter milhares de pessoas ligadas à Internet via WiFi. Também existem dúvidas quando ao apoio do governo irlandês sobre o evento.
Apenas dois meses antes da edição de 2016, Cosgrave anunciou que a cimeira se mudaria para Lisboa. Cosgrave tornou-se assim no principal rosto que os portugueses associam ao evento, sendo que os outros co-fundadores se mantêm mais distantes.
A participação do evento em Lisboa tinha apenas um prazo de apenas três anos, mas Cosgrave encontrou em Lisboa um apoio político que não teria na Irlanda. O compromisso entre o Governo e a Web Summit acabou então por ser renovado em 2018 até 2028, com investimento do Estado de 11 milhões de euros por ano, dando um total de 110 milhões de euros ao longo da década.
Discussão sobre a expansão da FIL
Desde 2018, após o acordo para manter a Web Summit em Lisboa ter sido fechado, começou a ser discutida a expansão da FIL, local onde decorre o evento. A obra até agora nunca ocorreu, apesar dos vários intervenientes.
Em 2021, que contou com 70 mil participantes, Marcelo Rebelo de Sousa encerrou a Web Summit a pedir que no ano seguinte estivessem presentes 100 mil participantes. Tal não aconteceu porque a FIL permaneceu igual, mesmo com a organização a recorrer a estruturas temporárias para acolher mais pessoas.
Numa conferência de imprensa sobre o balanço da edição do ano passado, o ex-CEO comentou que o evento estava "esticado até ao limite". Numa entrevista em 2021 ao Observador, Paddy Cosgrave referiu que seria um trabalho rápido visto que "é apenas um grande barracão com muitas unidades pré-fabricadas". Numa entrevista em 2022, disse não saber o que aconteceu para os planos não "terem passado da teoria à prática", esperando novidades para 2023.
Agora, o fundador da Web Summit deverá manter-se em silêncio, pelo menos nas redes sociais. "Adeus por agora. Preciso de algum tempo fora desta plataforma", escreveu, depois de partilhar o pedido de desculpas pré-demissão.
Bye for now. Need some time off this platform. ? ??
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