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Bali revoltou-se contra os influencers

Comunidade local queixa-se dos comportamentos impróprios dos turistas estrangeiros, especialmente em locais sagrados.

Este mês, a russa Luiza Kosykh foi deportada da ilha indonésia de Bali, dois anos depois de ter tirado uma fotografia nua perto de uma árvore sagrada. Ainfluencer argumentou que não sabia que se tratava de uma árvore sagrada, mas a fotografia foi suficiente para enfurecer a comunidade local. 

Instagram @Bali

Este foi o último episódio de vários incidentes registados na ilha, e que que envolvem turistas indisciplinados numa altura em que a relação entreinfluencerse locais se revela cada vez mais tensa.

Nos últimos anos, Bali passou de um paraíso para surfistas e praticantes de ioga para um local popular entre os criadores de conteúdos, que utilizam as redes sociais para promover os seus estilos de vida. As ruas de Canggu e Ubud estão cheias de cafés criados para boas fotografias no Instagram, e lojas de roupavintagee boémias.

De acordo com as estatísticas locais, o número de visitantes estrangeiros que chegam a Bali por mês ultrapassou os 300 mil em todos os meses de 2023. Os visitantes são maioritariamente australianos, indianos ou russos.

O aumento do turismo tem aumentado também as construções na ilha e a poluição, fatores que, aliados ao desrespeito que os locais sentem pela sua cultura e crenças hindus, levou a comunidade local a tomar uma posição mais rígida para com osinfluencers.

Niluh Djelantik, um empresário e ativista local, prestou declarações ao jornal britânico The Guardianem que referiu que a "hospitalidade [do povo de Bali] é um dado adquirido" mas que ainda assim, os turistas deveriam ter mais respeito. "Se há algo que não faria no seu próprio país, não faça em Bali", pede. 

Na Indonésia, existem vistos de negócios ou turismo que custam cerca de 3 milhões de rupias (cerca de 180 euros), e permitem que os estrangeiros permaneçam no país durante seis meses. São aproveitados por nómadas digitais, que durante esse período não têm de pagar qualquer tipo de impostos, outro fator que tem aumentado a tensão entre os locais e os visitantes.

O comportamento dos estrangeiros tem sido um dos assuntos mais referidos nos meios de comunicação locais, que observam osinfluencersou "bules", um termo depreciativo frequentemente utilizado para se referirem a estrangeiros ocidentais. Existem atésitesonde apenas são compartilhadas fotografias de estrangeiros a terem comportamentos imprudentes e são identificados estrangeiros a trabalhar ilegalmente na ilha.

No Instagram, Ketut Widiartawan, que é proprietário de uma escola de surf em Bali, ficou muito conhecido pela conta Northsidestory, que conta com mais de 120 mil subscritores e onde faz algumas caricaturas dos turistas.

Alina Fazleevaé outro exemplo de umainfluencerrussa que acabou por ser deportada. Durante a sua estadia em Bali, em 2022, também decidiu tirar uma fotografia nua num local com uma árvore sagrada. Antes da sua deportação, a turista russa teve de realizar uma cerimónia de limpeza.

Também em 2022 o ator canadiano Jeffrey Craigen foi deportado depois de se filmar a dançar umhakanu no Monte Batur, um vulcão ativo da ilha. 

O turismo representa a maior parte do PIB de Bali pelo que as autoridades foram forçadas a equilibrar a manutenção de uma política de portas abertas aos turistas, com um maior controlo sobre o mau comportamento.

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