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A ministra da Saúde garante que a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde não vai ser extinta, mas há cada vez mais vozes a questionar a sua utilidade. A SÁBADO ouviu argumentos dos dois lados: de quem faz uma avaliação negativa e de quem considera que não há outra solução para a gestão da saúde pública em Portugal.
Dois anos, três diretores, instabilidade e dúvidas. Se em janeiro de 2023, quando aDireção Executiva do SNS arrancou, a pergunta que mais se colocava era sobre a verdadeira utilidade desta estrutura, dois anos depois a dúvida mantém-se. Há quem considere que este "ministério dentro do Ministério" devia ser extinto - até dentro do Partido Socialista (foi o governo de António Costa que criou esta entidade). Mas, por outro lado, também há quem confie no modelo e acredite que é a única forma de gerir o setor público da Saúde.
Bruno Colaço / Correio da Manhã
O princípio que esteve na base da criação da direção executiva foi o da integração de cuidados e a face mais visível deste funcionamento em rede foi a criação das Unidades Locais de Saúde (ULS), que agregam hospitais e centros de saúde por área geográfica – e que levaram à extinção das antigas administrações regionais de saúde. Atualmente, há 39 ULS no País. Fernando Araújo, médico e antigo presidente do conselho de administração do Hospital de São João, foi o primeiro CEO desta estrutura e manteve-se no cargo 15 meses – altura em que se demitiu alegando que não queria ser um obstáculo ao Governo recém eleito do PSD/CDS.
Sucedeu-lhe o médico militar António Gandra d’Almeida, que se manteve no cargo por apenas sete meses. Demitiu-se na sequência de uma reportagem da SIC que revelou que acumulava uma série de funções incompatíveis. Na semana passada foi conhecido o nome do terceiro responsável pela coordenação desta rede – que tem a cargo mais de 150 mil trabalhadores e 16,8 mil milhões de euros de orçamento, segundo a agência Lusa. Chama-se Álvaro Almeida e foi presidente da Entidade Reguladora da Saúde e da Administração Regional de Saúde do Norte.
Adalberto Campos Fernandes revê-se nas declarações recentes do Presidente da República – dar o benefício da dúvida a "algo que nasceu com dificuldades", diz aludindo ao facto de, por exemplo, os estatutos da estrutura terem demorado 10 meses a serem publicados. "Vamos ver esta terceira versão, a partir daí é que poderemos tirar uma ilação", diz à SÁBADO. O professor da Escola de Saúde Pública considera que a direção executiva foi uma "decisão tomada por impulso" com base num modelo com uma natureza diferente, de uma cultura também diferente (o do Reino Unido).
"É feito à imagem de um líder de grande qualidade e a estrutura acabou por beneficiar dessa figura, mas quando esse líder sai, sendo os pés da estrutura de barro, sobressaem as dificuldades", analisa. O antigo ministro da Saúde aponta como problemas o "desaparecimento súbito" das administrações regionais de saúde, além de "um óbvio conflito de atribuições e competências". "A direção executiva é que vai tratar das escalas dos hospitais? Não havendo coordenação regional, a direção executiva passa a vida a percorrer norte a sul do país?", interroga o professor catedrático.
A avaliação que faz é negativa. "O desempenho do Serviço Nacional de Saúde não está melhor do que antes", considera. Já Álvaro Beleza tem uma visão completamente distinta e vê, por exemplo, a extinção de um dos níveis de gestão (o regional, das antigas administrações regionais de saúde) como uma vantagem. "O problema é que há uma grande distância entre o topo e o terreno e a ideia [desta direção executiva] era achatar isso", explica.
Uma superestrutura sem mãos a medir?
O médico e presidente da Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) considera que o problema da Saúde em Portugal é essencialmente de gestão e que a ideia é a de que a direção executiva gira o Serviço Nacional de Saúde (SNS). "Gerir o SNS como uma holding estatal, uma empresa pública, para que o ministério e a ministra da Saúde não seja só um gestor do SNS e dos seus recursos humanos, e se preocupe com as políticas como um todo", diz à SÁBADO. Ou seja, libertar o ministério do papel de gestor para se preocupar com as políticas de saúde e também com os outros setores – privado e social.
Álvaro Beleza defende que o modelo devia contemplar a fusão de três organismos – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e direção executiva – numa só estrutura, "para ter uma poupança ao nível dos recursos humanos e compras centralizadas", avança. "Não há uma gestão de sucesso se não houver uma gestão central", acrescenta.
Concorda, contudo, que os timings não têm ajudado à concretização dos planos. "Porque a reforma foi feita no fim do anterior governo, além de que este tipo de mudanças estruturais demora anos", sublinha.
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Contudo, e a avaliar pelas decisões mais recentes da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, o rumo é mesmo outro. Não está em cima da mesa extinguir este organismo, porque "tem um papel para cumprir", mas já foram anunciadas e efetivadas algumas alterações. A 16 de janeiro foi aprovado um decreto-lei que retirou poderes à estrutura, nomeadamente a gestão de recursos humanos (a contratação de serviços e pessoal) e também o financiamento. A intenção é que estas competências sejam agora assumidas pela ACSS.
O antigo bastonário da Ordem dos Médicos concorda com esta revisão de funções. "É demasiado trabalho para uma estrutura tão pequena. Aquela superestrutura se calhar é efusiva em termos de funções, algumas [destas funções] se calhar ficarão melhor no seu local de origem", diz Miguel Guimarães.
Apesar das vozes discordantes em torno do organismo, há um aspeto em que todos os especialistas concordam: não há tempo ainda para se fazer uma avaliação. É sobre esse aspeto que a antiga ministra da Saúde Maria de Belém prefere pronunciar-se. "Não sou adepta de fazer e desfazer sistematicamente sem qualquer avaliação objetiva prévia", diz.
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