Sábado – Pense por si

Quem é afinal o líder da oposição? 

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 30 de maio de 2025 às 11:28
As mais lidas

Apesar de ambos os partidos se terem afirmado como líderes da oposição parece que o Chega é que vai desempenhar realmente esse papel. José Filipe Pinto explica que a única dúvida é qual será o critério escolhido por Marcelo.

Tanto José Luís Carneiro, candidato à liderança socialista, como André Ventura, presidente do Chega, reclamam o título de líder da oposição, mas afinal qual é a importância de ocupar esta posição? José Filipe Pinto, politólogo e professor catedrático, explica àSÁBADOque "é muito importante para ambos os partidos assumirem-se como líderes da oposição".  

O Chega tem mais deputados (60 contra 58) e o PS mais votos (1.394.501 contra 1.345.689), por isso, na realidade "quem vai tirar mais proveito da oposição é o Chega". "Ao ter mais deputados, o Chega vai ser o primeiro partido a interpelar o Governo o que é bastante importante e depende apenas do número de deputados". A única dúvida está "na relação com o Presidente da República". 

"Marcelo vai poder decidir qual é o critério que quer usar para estabelecer a ordem em que vai receber os partidos", refere José Filipe Pinto. Uma vez que "não há nenhum critério que defina quem é que Marcelo deve considerar como líder da oposição, por norma o segundo partido mais votado é também o segundo com mais deputados". Isso não acontecendo, "Marcelo e, depois, o seu sucessor vão decidir qual o critério que querem usar".  

No entanto, José Filipe Pinto refere que este é apenas "o elemento institucional", e o mais importante é o "elemento político".  

José Luís Carneiro foi o primeiro a entrar nesta troca de argumentos quando considerou que o PS continua a ser a "segunda força mais importante na relação de confiança com os portugueses" uma vez que "a maioria dos portugueses escolheu o PS para segundo partido". Para o mais provável secretário-geral socialista, o que conta são o número de votos: "Se nós valorizamos o princípio ‘um homem, um voto’, significa que valorizamos cada voto. E nessa aritmética de que cada voto conta, o Partido Socialista foi o segundo partido com maior número de votos da parte portuguesa", defendeu. 

Para o socialista é fundamental intitular-se como o líder da oposição, numa tentativa de "minimizar danos", considera José Filipe Pinto. Antes de explicar que José Luís Carneiro "sabe que a sua candidatura não tem grande sucesso perto de figuras que estão a crescer no partido e a tornar-se importantes", pelo que "tem que conseguir marcar o seu espaço para evitar ser visto apenas como um líder de transição".  

Assim sendo, trata-se de "uma questão de afirmação interna e externa". A interna tem a ver com os potenciais adversários e a externa com o facto de "se conseguir assumir-se como líder de oposição, demonstra que afinal a dinâmica bipartidária continua". Isto pode ser algo fundamental na sua "estratégia para regressar ao poder". 

Já André Ventura defendeu que "o Chega foi mandatado para ser o líder da oposição" por ter mais deputados e considerou as declarações de José Luís Carneiro como uma "patetice": "Até o dr. José Luís Carneiro sabe que isto é uma patetice, porque num sistema representativo que se converte em mandatos, os mandatos à Assembleia da República são a representação da força dos partidos", afirmou. 

Para José Filipe Pinto não há qualquer dúvida de que "o Chega vai exigir ser considerado a segunda força política". Isto é "algo importante para André Ventura porque permite-lhe aproximar-se do sistema ou questionar o sistema". O especialista acredita que o partido vai optar pela segunda: "André Ventura tem-se assumido com uma veia antissistema, já afirmou várias vezes que quer alterar complemente o sistema, já indicou que vai ter um governo sombra e que vai continuar a desafiar o sistema". É possível verificar essa "veia" nas declarações que prestou ontem em resposta a José Luís Carneiro: "O que está a preocupar o PS não é ter perdido um milhão de votos ou deixar de poder influenciar a governação, o que está a preocupar o PS é deixar de poder nomear ‘tachos’ para os lugares da administração pública e perder aquilo que se chama o segundo partido. Meus amigos, levem a bicicleta", acusou. 

José Filipe Pinto conclui que "Ventura percebe que ainda tem espaço para crescer e que, para isso, o melhor é ser o líder da oposição e apresentar o PS e o PSD como um bloco de interesses contra o Chega, que se assume como a transparência".

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!