No dia 30 de Junho de 2008, na apresentação de uma biografia do então primeiro-ministro José Sócrates – O Menino de Ouro do PS, da jornalista Eduarda Maio –, o socialista António Vitorino descrevia o governante assim: "É o primeiro líder do PS totalmente formado em democracia. Sócrates focaliza-se nos resultados. Sócrates percebe que nenhuma estratégia fixista pode ter sucesso num mundo em rápida mudança." A descrição parecia assentar no lado mais visível dos três primeiros anos de governação socialista. Sócrates liderara uma reforma da Segurança Social e chegara a introduzir o debate sobre a "flexi-segurança", dera a cara por um esforço de redução do défice orçamental, por medidas na Educação que levaram à maior manifestação de professores até então e por uma política de diplomacia económica orientada para as exportações. Sócrates ganhara reputação de pragmatismo e de um socialismo mais moderno sem pruridos de conviver com uma economia de mercado.
Mas quando Vitorino (acompanhado de um "emocionado" Manuel Dias Loureiro) apresentou o livro, já José Sócrates era o político da democracia portuguesa com maior influência directa, pessoal, na economia portuguesa. Este poder – que está retratado ao longo da acusação do Ministério Público na Operação Marquês – assentava em três pilares: influência sobre o financiamento à economia, influência sobre o andamento de grandes projectos (das obras públicas aos PIN – projectos de interesse nacional) e influência sobre os media. O controlo que teve nestas áreas não era total nem transversal à estrutura dos bancos, empresas e jornais. Mas revelou-se suficiente para criar um ambiente político mais favorável para ele, para seduzir ou pressionar críticos e, segundo a tese do Ministério Público, para intervir de forma cirúrgica para ganho próprio.
Da arma Caixa ao BCP Na banca, o seu braço chegou à Caixa Geral de Depósitos, ao BCP e ao BES (juntos valem mais de dois terços do mercado de crédito às empresas). Logo em 2005, a equipa de administradores do banco público foi substituída, sendo nomeada uma administração próxima do PS – e próxima do primeiro-ministro Sócrates, através da ida de Armando Vara para administrador. Os procuradores do Ministério Público sustentam que Sócrates quis assegurar "controlo directo e pessoal" sobre o banco e que Vara "tomaria todas as decisões necessárias a lograr satisfazer a vontade e os interesses do arguido José Sócrates, ou de terceiros com quem estivesse conluiado".
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.