Rui Tavares, Inês de Sousa Real, Rui Rocha, Paulo Raimundo, André Ventura, Luís Montenegro, Carlos César e Mariana Mortágua já foram ouvidos pelo Presidente da República.
Após a demissão de António Costa, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, está a ouvir todos os partidos com assento parlamentar sobre a possibilidade de dissolver a Assembleia da República. O Livre foi o primeiro partido a ser ouvido, seguindo-se o PAN, Bloco de Esquerda, PCP, Iniciativa Liberal, Chega, PSD e PS, apontando para que a última audição inicia às 19 horas.
Miguel A. Lopes/Lusa
Na última audição, Carlos César, presidente do PS, disse a Marcelo que o PS preferia um novo governo e primeiro-ministro, sem eleições. Depois da reunião com Marcelo, considerou que eleições podem não dar estabilidade. Frisou ainda a necessidade de aprovar o OE2024.
"É possível no atual quadro parlamentar prosseguir uma experiência governativa visto que o PS assegura a confiança e o apoio necessário e dispõe de maioria de deputados", apontou Carlos César aos jornalistas, e o PS considera que "essa situação é a maior salvaguarda da situação com que nos confrontamos hoje".
"Vivemos um período muito difícil e incerto, marcado pela ascensão de um conjunto de riscos vindos da situação internacional, com o desfecho imprevisível da guerra no próximo Oriente, no plano económico, exigindo do governo no futuro imediato medidas preventivas ou reativas que salvaguardem a normaldidade social e ambiente no País. É bom que não haja interrupção governativa, para agir em conformidade e dando a resposta que se afigura necessária."
Segundo César, com a antecipação do ato eleitoral não é seguro que "haja estabilidade para o futuro". "Por isso a opção preferencial era um governo com um novo primeiro-ministro. Transmitimos também que para além dessa capacidade e normalidade que devemos manter é absolutamente fundamental que mesmo que o Presidente da República decida eleições, é importante termos o OE2024 aprovado e por isso qualquer solução dessa natureza não colocar em perigo a existência desse instrumento fundamental para a capacidade de governo e defesa dos interesses do País."
PSD não colocará obstáculos à aprovação do OE2024 se for "útil"
Luís Montenegro, líder do PSD, foi o penúltimo a ser ouvido e defendeu que "é preciso cortar o mal pela raiz". "Eu diria que a nossa posição pode ser sintetizada da seguinte forma. É preciso cortar o mal pela raiz, iniciar um ciclo novo, é preciso ouvir o povo portugues e dar a um futuro governo a autoridade política que só o voto é capaz de conferir para precisamente poder intervir de forma estrutural e estratégica." Sustentou a "necessidade de eleições legislativas antecipadas".
"Não podemos de deixar registar o nosso respeito democrático por aquilo que acontece com outros partidos políticos, nomeadamente com o PS. Estará prestes a iniciar-se um processo de substituição da sua liderança", atentou o líder da oposição. "O nosso propósito é unir o País, queremos unir o povo português."
Sobre o OE2024, Montenegro disse querer que o País tenha "o mínimo impacto negativo com a situação criada" pela demissão de Costa "e com o facto de o seu edifício governativo ter ruído por dentro".
"Para isso ter ou não ter orçamento pode ser relevante. É importante que o Governo muito rapidamente possa esclarecer o País sobre as vantagens e desvantagens de termos um orçamento. Sendo certo que aquilo que nos preocupa é que a decisão possa ser a que cause menos impacto na vida das pessoas", frisou. Perante o perigo de travar a atualização das pensões ou a redução da carga fiscal, se "se vier a concluir que é mais útil ter um orçamento, ainda que não seja o que nós apoiamos, o PSD não criará nenhum obstáculo".
Chega defende rapidez para a tomada de posse de um novo governo
André Ventura, líder do Chega, começou por dizer que tem de haver um instrumento orçamental e rapidez na tomada de posse do novo governo. Ventura refere que o Chega aceita uma solução que garanta instrumentos orçamentais para começar o ano, em termos de aumento das pensões dos mais velhos, aumento dos salários e a execução do PRR.
Por outro lado, refere que tem de haver rapidez para a tomada de posse de um novo governo e de uma nova solução, de forma a não haver conflitualidade política. Manifesta compreensão para o cenário de que o Partido Socialista tenha tempo de escolher o seu sucessor.
Em relação às eleições, André Ventura refere que começa a haver um consenso para eleições antecipadas, admitindo que provavelmente aconteceriam a meados de fevereiro, início de março.
O Chega afirma também que o "próprio congresso do Chega estava para ser adiado, com a iminência das eleições, para janeiro e caso o cenário se verifique o Chega mantém a realização do seu congresso e partirá para as eleições legislativas se for a decisão do Presidente da República, já no novo quadro e após a realização do congresso".
Por fim, menciona que as soluções que hoje se desenham em alguma imprensa de nomeação de um novo primeiro-ministro interino por parte do PS são contrárias à lei e à Constituição.
Afirma que não existe um Portugal a figura de um primeiro-ministro interino, devido à queda automática do Governo quando há exoneração do mesmo. Refere que esta ideia é a forma do Partido Socialista fazer pressão para se evitar o cenário eleitoral. Defende que os portugueses têm de escolher quem quer que os governe.
Iniciativa Liberal defende eleições no fim de janeiro
Rui Rocha defende que a "única solução neste momento é a convocatória de eleições, que os portugueses sejam de novo a chamados a pronunciar-se sobre o destino do país". Afirma que não há uma solução alternativa.
O líder da IL refere que a "eleição deve ser feita mais cedo do que tarde", afirmando que a data limite seria no fim de janeiro. Em relação ao Orçamento, a IL refere que tem uma posição contra, mencionando que se a proposta voltar a ser discutida votarão contra a mesma. Rui Rocha defende que não querem que a discussão se centre no Orçamento: "O essencial é que os portugueses sejam chamados a pronunciar-se sobre uma nova solução política."
No fim do seu discurso decidiu deixar uma mensagem aos portugueses: "António Costa chega ao fim no seu trajeto político, com soluções políticas completamente esgotadas propostas esgotadas na educação, na saúde, na habitação e nos transportes".
Menciona também que a solução governativa do Partido Socialista estava em absoluta ruína e que estavam em decadência e estagnação, referindo que o que aconteceu abriu a esperança, confiança e um novo capítulo na democracia portuguesa.
PCP quer resposta à crise social
O líder do PCP refere que o elemento fundamental é dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas. "Tivemos a ocasião de transmitir ao Presidente da República, se o caminho for esse, nós infelizmente temos um calendário muito semelhante ao que tivemos há 10 anos, e devíamos ter esse calendário como referência fundamental para dissolver a Assembleia da República e convocar eleições", defende Paulo Raimundo.
Quando questionado sobre o Orçamento de Estado, o líder do PCP afirmou que tem uma avaliação negativa no Orçamento do Estado que não responde aos problemas atuais, como os salários, pensões, o problema da habitação. "Estamos a enfrentar uma crise política, mas a crise na saúde está lá todos os dias", afirma.
Em relação ao processo, Paulo Raimundo quer que a investigação esteja em curso e que os factos sejam esclarecidos a tempo, defendendo que é importante para que as pessoas sintam que há poder político, judicial e credibilidade.
Paulo Raimundo defende várias vezes que estamos a enfrentar uma crise política, mas a crise na saúde está lá todos os dias e que é preciso responder à crise social que as pessoas passam todos os dias. "A solução passa pela dissolução da Assembleia, eleições antecipadas e formação de uma nova assembleia com o reforço do CDU e o PCP para darem resposta a estes problemas", defende.
BE defende eleições antecipadas
Mariana Mortágua, deputada e coordenadora do Bloco de Esquerda, defendeu a convocação de eleições antecipadas pois "o importante para o país é encontrar uma solução para a crise política".
Relativamente ao Orçamento de Estado de 2024, Mariana Mortágua não esclareceu a preferência do Bloco de Esquerda quanto a se este deve ser aprovado antes ou depois da dissolução mas afirma que o "Governo foi colocado em causa" e reforçou que o partido já se manifestou contra o OE.
Quanto ao processo em que António Costa pode ser investigado Mariana Mortágua partilhou que o Bloco espera que "a Justiça faça o seu trabalho de forma mais célere possível". Mas reforça a importância de que o Ministério Público "esclareça as razões que levaram à abertura deste inquérito, bem como à sua divulgação".
Quanto à possibilidade de uma nova geringonça a líder bloquista preferiu deixar essa discussão para depois das eleições.
PAN quer "salvaguardar o Orçamento"
Para a deputada única do PAN mais importante do que a decisão de dissolver ou não a Assembleia é "salvaguardar o Orçamento".
Inês de Sousa Real começou a sua declaração por pedir que todo o trabalho que está a ser feito na discussão do Orçamento de Estados para 2024, nomeadamente em questões como "o abono de família, descida do IVA para a alimentação dos animais de companhia, apoio às vítimas de violência doméstica", não seja deitado para o lixo. Assim o PAN garante: "A nossa grande preocupação é que decisão do Presidente da República tenha em consideração a conclusão do Orçamento de Estado para que seja um Orçamento da Assembleia da República e dos portugueses".
A deputada única garante que o partido está preparando "para todas as circunstâncias" mas admite que é com preocupação que o PAN vê "o poder judicial a deitar a baixo um Governo e assim abrir uma crise política e económica para o País".
Inês de Sousa Real considera que António Costa apresentou a sua demissão como "um ato de dignidade e respeito pelo cargo que representa" e pediu que sejam partilhadas mais informações sobre o caso uma vez que os "portugueses e o próprio primeiro-ministro têm de saber o que está em causa".
Ainda assim a deputada relembra que o PAN propôs uma medida para que fosse divulgada a lista dos beneficiários nos processos do hidrogénio, medida essa que foi aprovada no Orçamento de Estado de 2021 mas não foi concretizada.
Livre: "Queremos pôr sempre o interesse do País à frente do interesse partidário"
Rui Tavares, deputado único do Livre, foi o primeiro a ser ouvido em Belém e à saída pediu "transparência" em todo o processo para que "o equilíbrio do sistema" não seja posto em causa "há beira dos cinquenta anos do 25 de Abril".
"Este é o tempo do senhor Presidente da República" por isso o Livre não faz "pedidos, exigências ou pressões a alguém que representa um órgão de soberania".
Ainda assim, Rui Tavares acredita que é importante o País estar muito tempo "numa situação de incerteza" por isso, se Marcelo decidir convocar eleições, pede que seja um processo breve e em caso de ser tomada outra decisão pede que sejam "explicitados os critérios".
"O Livre estará pronto para ir as eleições, os dados indicam-nos o Livre pode ambicionar ter um grupo parlamentar", apesar deste otimismo Rui Tavares garante: "Queremos pôr sempre o interesse do País à frente do interesse partidário e num momento de grande incerteza é importante que os partidos digam ao que vêm. O Livre vem para ter um sistema democrático equilibrado".
Apesar de o processo em que António Costa vai ser alvo de investigação estar relacionado com a exploração de lítio e hidrogénio, Rui Tavares pede que "o processo de transição energética e o combate às alterações climáticas não seja maculado por quaisquer suspeitas de comportamento menos próprios por parte dos executivos". Assim, o Livre sugere "a criação de uma empresa pública, Hidrogénio de Portugal".
Sobre o Orçamento de Estado para 2024, Rui Tavares afirmou ainda que não considera que exista um "enorme vantagem" em aprová-lo para depois ser outro Governo a aplicá-lo.
O chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus e Diogo Lacerda Machado foram detidos e passaram a noite no Cometlis, em Moscavide, Lisboa. Os cinco arguidos só começarão a ser ouvidos na quarta-feira à tarde, para que lhes seja aplicada a medida de coação.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), estão em causa os crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência. João Galamba, ministro das Infraestruturas, foi constituído arguido, sendo que o mesmo deverá acontecer a Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente, e Matos Fernandes, ex-ministro da mesma pasta.
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Trazemos-lhe um guia para aproveitar o melhor do Alentejo litoral. E ainda: um negócio fraudulento com vistos gold que envolveu 10 milhões de euros e uma entrevista ao filósofo José Gil.