Sábado – Pense por si

As reações dos partidos à decisão de Marcelo sobre o Governo

PS adiou qualquer reação ao discurso do Presidente da República, muito crítico quanto ao Governo.

O PSD, Bloco de Esquerda, PCP, Iniciativa Liberal e Chega já reagiram à decisão de Marcelo de não dissolver a Assembleia da República. O PS não reagirá hoje, e o dirigente socialista Eduardo Vítor Rodrigues cancelou mesmo uma ida a um debate à SIC Notícias. O partido decidiu adiar qualquer comentário ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. 

REUTERS/Pedro Nunes

PSD: "O Presidente da República foi claro"

O secretário-geral do PSD afirmou hoje que o partido se revê na leitura feita pelo Presidente da República da situação política, respeita as conclusões do chefe de Estado e avisa que culpa de instabilidade será do Governo.

"É muito importante que os portugueses saibam que, se o calendário eleitoral vier a ser antecipado em Portugal, ou seja, se as eleições vierem a ser antecipadas e se houver instabilidade política, deve-se única e exclusivamente ao primeiro-ministro e ao Governo", acusou Hugo Soares.

O secretário-geral do PSD reagia, na sede nacional, à declaração ao país do Presidente da República, que assinalou que irá retirar ilações do episódio protagonizado pelo ministro João Galamba, mas afirmou que procurará manter a estabilidade política.

"Entre aquela que foi a leitura do primeiro-ministro e aquela que é a leitura do Presidente da República sobre a situação política em Portugal, o PSD não tem dúvidas: revê-se na leitura do Presidente da República", afirmou.

Para o secretário-geral do PSD, "um Governo que não assume a sua responsabilidade, perde confiabilidade e fragiliza a sua autoridade e credibilidade".

"No PSD respeitamos as conclusões a que o senhor Presidente da República chegou e dizemos que é necessário de facto um reforço da vigilância sobre este Governo", defendeu.

Questionado se o Governo e o ministro das Infraestruturas devem tirar outras conclusões da declaração ao país de Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário-geral do PSD lembrou que, na quarta-feira, o presidente do partido, Luís Montenegro, considerou que, na carta de demissão que enviou ao primeiro-ministro, João Galamba já tinha "apresentado todas as razões" para deixar o Governo.

"O Presidente da República foi claro, apelou até à sensatez, o ministro João Galamba está sempre a tempo de sair do Governo, mas aparentemente o primeiro-ministro continua a não querer", disse.

O dirigente social-democrata rejeitou, por outro lado, que o PSD tenha de acelerar o seu calendário interno.

"O PSD não tem de acelerar nem desacelerar o seu calendário interno, o PSD disse e repete que é pela estabilidade política, se houver eleições é pela inércia e falta de confiança do Governo e está preparado para eleições quando elas tiverem de acontecer", disse.

Bloco de Esquerda está "preparado para o que houver"

O BE acusou hoje o Presidente da República e o primeiro-ministro de empurrarem o país para o pântano, "agora que não precisam um do outro", e afirmou-se "preparado para o que houver".

"Agora que [Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa] não precisam um do outro [para alcançarem a reeleição e a maioria absoluta, respetivamente] empurraram o país para o pântano", acusou a coordenadora do BE, Catarina Martins, à margem de uma reunião dos líderes dos partidos da esquerda no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Catarina Martins disse que a atual situação política foi provocada pelo "Presidente e primeiro-ministro" que "alimentaram um ao outro a sua continuidade: O primeiro-ministro permitiu ao Presidente um segundo mandato de uma forma muito confortável e o Presidente da República colaborou com o primeiro-ministro no seu número para ter uma maioria absoluta", considerou.

"Agora que já não precisam um do outro empurram o país para o pântano e não têm o mínimo equilíbrio institucional. Isso acho que estamos todos a ver", criticou.

Questionada sobre o que espera da declaração que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai dirigir ao país, hoje, às 20:00, Catarina Martins recusou "especular" sobre o conteúdo da mensagem, considerando, no entanto, que "é preciso credibilizar o Governo" que, neste momento, "é absolutamente inoperante".

"Num cenário de maioria absoluta só há duas saídas: ou o Presidente da República decide dissolver o parlamento, convocar eleições -- o Bloco de Esquerda estará preparado para o que houver -, ou o Governo tem a capacidade [...] de se reinventar, de se reorganizar, de mostrar um outro projeto ao país", disse Catarina Martins,

A coordenadora do Bloco acrescentou que, "neste momento, está nas mãos do Presidente da República e do primeiro-ministro tirarem Portugal do pântano em que está".

Catarina Martins, que vai deixar de ser líder do BE no final deste mês, criticou o que diz ser a postura do executivo socialista de "mentir ao parlamento e ao país -- não é apenas o ministro João Galamba, já foram vários", e do primeiro-ministro por "achar tudo isto normal".

"Precisamos de decisão política nas áreas fundamentais [...], neste momento estamos com o país paralisado", sustentou.

E, voltando-se para os problemas com os quais a população está confrontada, Catarina Martins lembrou as declarações de hoje da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, a sobre Portugal, no mesmo dia em que o BCE anunciou o aumento das taxas de juros em 25 pontos base e a continuação desta tendência até ao final do ano.

"[Lagarde] falou especificamente de Portugal, reconhecendo que em Portugal esta subida dos juros tem um impacto muito difícil para o país, porque temos muitas famílias com créditos à habitação que estão a disparar de uma forma incomportável", completou.

O Governo chefiado por António Costa é "o único na Europa que teima em reduzir a dívida a um ritmo que foi considerado prejudicial pelas próprias instâncias europeias".

Chega: o Governo está "em farrapos"

O líder parlamentar do Chega considerou hoje que o Presidente da República deveria ter tido a "coragem política" para dissolver o parlamento e convocar eleições, defendendo que o Governo está "em farrapos" e o país "precisa de estabilidade".

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, após a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, Pedro Pinto afirmou que o Governo está "em farrapos, partido aos bocados", e "não dá credibilidade ao país".

O líder parlamentar do Chega considerou que "este não é um Governo estável", contrapondo que "Portugal precisa de estabilidade, não há dúvida, mas a estabilidade tem de vir com eleições".

"Achamos que o Presidente da República devia ter ido mais além, devia ter terminado hoje mesmo com este Governo porque falou em estabilidade, mas que estabilidade é que têm os portugueses quando estão com dificuldades todos os dias de meter a comida na mesa, de pagar a renda de casa, de pagar o seu carro?", questionou o deputado do Chega.

Pedro Pinto disse que "não é surpresa" que o Presidente da República não tenha dissolvido a Assembleia da República, apesar de considerar que "devia ter dado esse passo, devia ter essa coragem política".

"Porque às vezes os Presidentes da República têm que ter coragem para fazer isso. Faltou-lhe essa coragem hoje", lamentou.

O líder parlamentar do Chega afirmou que "existe um conflito instalado entre a Presidência da República e o primeiro-ministro e que a culpa foi do Governo, foi do primeiro-ministro".

O Presidente da República deixou um "recado muito claro, de que vai estar atento aquilo que vai fazer o Governo", mas já disse isso antes "noutras situações", acrescentou.

"O que é certo é que Marcelo Rebelo de Sousa confiou em alguém que não é confiável, que é o primeiro-ministro, António Costa", disse o deputado do Chega.

Para Pedro Pinto, o chefe de Estado "arrasou completamente" o ministro das Infraestruturas, João Galamba.

"É um ministro que está acabado, ele já estava acabado, já estava a prazo, e hoje teve o seu ponto final, teve o seu epílogo com estas declarações do Presidente da República", referiu.

PCP considera "lamentável toda a sucessão de casos" 

PCP pediu hoje ao Presidente da República e ao Governo que se concentrem na resolução dos problemas da população e considerou "lamentável toda a sucessão de casos" que tem envolvido o executivo.

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, apelou a que, numa altura em que, "no plano económico e social, se avolumam problemas" e se assiste a "um conjunto de episódios lamentáveis que envolvem membros do Governo", não se desviem "as atenções daquilo que é central e crucial".

"Aquilo que os trabalhadores, os reformados, o povo reclama são respostas para os problemas com os quais estão confrontados: os salários e as pensões não chegam até ao fim do mês, há dificuldades na habitação, no acesso à saúde, para colocar comida todos os dias na mesa", disse.

Paula Santos defendeu que o Presidente da República e o Governo devem estar "concentrados na resposta a estes problemas", pedindo que "não se aproveitem os problemas para evitar as soluções que são necessárias".

A líder parlamentar do PCP acrescentou que, "há pouco mais de um ano", a Assembleia da República foi dissolvida "de forma tempestiva", tendo surgido um Governo de maioria absoluta das eleições legislativas.

"Não há nada que impeça o atual Governo de dar resposta a estes problemas. A questão central neste momento é encontrar soluções, avançar com as soluções para resolver os problemas na vida das pessoas", disse.

Questionada se o PCP desvaloriza assim o episódio que envolveu o Governo, Paula Santos afirmou que o seu partido nunca disse isso.

"Nós consideramos que a situação é muito grave e que efetivamente tem sido lamentável toda a sucessão de casos que tem vindo a público e que envolvem elementos do Governo. Queremos é colocar em cima da mesa as questões que são fundamentais para dar resposta aos problemas", vincou.

Paula Santos sustentou ainda que "esta sucessão de casos é o resultado da maioria absoluta do Governo do PS que, em vez de utilizar essa maioria absoluta para dar resposta aos problemas, faz exatamente o oposto e vai no sentido do favorecimento dos grupos económicos".

Interrogada se considera que, dado que Marcelo Rebelo de Sousa assumiu uma "divergência de fundo" com o Governo, é possível continuar a haver estabilidade governativa, Paula Santos respondeu que "a estabilidade também é estabilidade da vida e das pessoas".

"Hoje, com as opções políticas de desvalorização, em que os salários e as pensões perdem todos os dias poder de compra, em que há uma incerteza se vão conseguir suportar as despesas até ao final do mês, de facto as questões que se centram é exatamente na resposta aos problemas", sublinhou.

Paula Santos pediu que "não se encontre subterfúgios, entretenimentos que desviem as atenções do que é essencial".

Questionada ainda se considera que, após as palavras do chefe de Estado, o ministro das Infraestruturas tem condições para continuar no cargo, a deputada do PCP recordou que João Galamba é um ministro que já veio "substituir outro membro do Governo há bem pouco tempo", referindo-se a Pedro Nuno Santos.

"Este elemento revela por si só que não basta mudar os rostos, os nomes, há um problema mais de fundo: prende-se com as opções políticas", referiu.

Paula Santos defendeu que o que é necessário "é pôr fim a este criminoso processo de privatização da TAP" e assegurar que a companhia aérea não é gerida "como uma empresa privada e com critérios de empresa privada", mas antes manter a sua gestão pública e assegurar que é colocada ao serviço dos "interesses nacionais".

Iniciativa Liberal: "O primeiro-ministro amarrou o seu destino político a João Galamba"

A Iniciativa Liberal defendeu hoje que o Presidente da República "amarrou a avaliação do seu mandato" aos próximos meses de governação do primeiro-ministro, considerando que os dois são agora corresponsáveis pelo que acontecer "nos próximos tempos".

"O primeiro-ministro amarrou o seu destino político a João Galamba, o Presidente da República amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de governação de António Costa", defendeu o presidente da IL, Rui Rocha, no parlamento, em reação à comunicação ao país de Marcelo Rebelo de Sousa.

A partir de agora, continuou, "são ambos -- Presidente da República e primeiro-ministro - corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer nos próximos tempos do ponto de vista da solução governativa".

O líder liberal afirmou que o chefe de Estado português fez uma avaliação da governação de Costa "absolutamente arrasadora", tendo colocado em causa "a credibilidade, a autoridade, a respeitabilidade da solução governativa".

No entanto, sinalizou, "a visão de futuro que o senhor Presidente da República apresenta é completamente contraditória com o diagnóstico e avaliação arrasadora que fez do Governo", discordando da decisão de Marcelo e considerando que se devia "devolver aos portugueses a possibilidade de decidirem o seu futuro" e que "em democracia há sempre alternativas".

Apesar de não concordar com a solução apresentada pelo Presidente, Rui Rocha assegurou que a IL está empenhada em "apresentar aos portugueses uma alternativa, uma solução diferente" que permita "crescimento económico, acesso à saúde, à educação, transportes, serviços públicos de qualidade".

Para a IL, "as instituições estão degradadas, o Governo não respeita as instituições, não tem soluções para os portugueses e limita-se a gerir o dia-a-dia, ainda por cima mal", acrescentando que "a luta entre dois palácios, o de São Bento e o de Belém" resulta em instabilidade.

"O que posso pedir ao senhor Presidente da República é que de facto esteja mais atento, porque nos últimos anos o senhor Presidente da República confiou demasiado em António Costa, e António Costa não é um primeiro-ministro confiável", acusou.

Questionado sobre se o ministro das Infraestruturas deveria apresentar de novo a sua demissão, após as palavras de Marcelo -- que considerou que a sua manutenção como ministro tem custos para a autoridade não só do Governo como do Estado -- Rocha respondeu que "se houvesse o mínimo de bom senso, de respeito institucional, e de respeito pelos portugueses, João Galamba já estaria fora do governo há muito tempo".

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